Extrativismo da borracha mantinha escravos no Amazonas, diz pesquisa


03/10/2011 –  A escravidão no Amazonas, de fato ocorreu. O estudo ‘Ave Libertas: ações emancipacionistas no Amazonas Imperial’, realizado pelo pesquisador Provino Possa Neto, traz essa temática à tona e coloca em discussão a escravidão no Amazonas.

Mestre em História Social por meio do Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Neto afirma que, por muito tempo, essa questão foi colocada em segundo plano, não sendo analisada de forma específica.

“O estudo mostra a existência de histórias de liberdade, capazes de mover ações populares e políticas na região, prova que o tema merece atenção justamente por ser relevante e necessária à compreensão da história de nosso Estado”, ressaltou Neto.

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Segundo o pesquisador, o estudo, que objetivou elucidar o impacto das ações emancipacionistas no contexto escravocrata do Amazonas Imperial na segunda metade do século 19, consistiu em sua investigação analisar dados na imprensa e nos relatórios da Província que constam de 152 cartas de alforria (1850 – 1887).

O estudo teve o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM) por meio do Programa Institucional de Apoio à Pós-Graduação Stricto Sensu (Posgrad).

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Neto explica que os escravos desempenhavam atividades urbanas, mineradoras e agrícolas, sendo que a última deteve percentual considerável da mão de obra escrava africana. Alguns pesquisadores argumentaram que a atividade extrativista, era preponderante e que se apresentou como um fator que pouco impulsionou o comércio de escravos, sendo a mão de obra indígena mais requisitada para esta atividade.

Segundo o pesquisador foram encontrados dados que comprovam a utilização da mão de obra escrava em atividades extrativistas como a extração da borracha, por exemplo, sendo que o extrativismo e a agricultura não foram atividades excludentes.

Economia e abolição

Outro dado levantado pelo pesquisador aponta que, embora esta seja uma questão complexa, as fontes analisadas indicam uma baixa expressividade numérica de escravos ligados à questão econômica em que se encontrava o Amazonas, sem a qual não seria possível a província decretar uma lei que determinasse um alto valor de indenização senhorial para a antecipada abolição da escravatura na província.

“Movimentos emancipadores e propagandas libertárias, repletos de interesses políticos para construir uma província livre, que atraísse imigrantes e investidores, e o efetivo aproveitamento por parte dos escravos e civis dos ventos propícios à liberdade são fatores que também tiveram peso na forma em que se caracterizaram essas ações”, frisou Neto.

Um novo parâmetro

O pesquisador explica que o estudo é resultado de fontes inéditas o que possibilitou o suporte da pesquisa ampliando o estudo mais apurado, sob um novo parâmetro interpretativo. “Os aspectos das ações políticas e sociais analisadas neste trabalho permitiu-nos questionar a homogeneidade dos nobres sentimentos de liberdade com que sempre se atribuiu a elite local”, comentou.

src=https://www.fapeam.am.gov.br/arquivos/imagens/imgeditor/seg3.jpgDesta forma, o pesquisador analisou como se deu o antecipado abolicionismo no Amazonas, onde a pauta de discussão política prioritária era a indenização senhorial – respeitando assim o direito de propriedade – e, consequentemente, a segurança de medidas que não colocassem em risco a ordem social.

A pesquisa aponta para os meandros do abolicionismo, mostrando que a luta pela liberdade foi, de fato, uma luta, ou seja, repleta de suor, de criatividade e laços formados em direção à liberdade.

“E esses caminhos e experiências são a herança direta de nossa cultura presente. Sendo assim, o levantamento de novos caminhos interpretativos representa uma contribuição para o entendimento da cultura presente, tanto no meio social quanto acadêmico”, disse.

Apoio da FAPEAM

“Sem dúvida, o apoio da FAPEAM foi fundamental para o bom desenvolvimento da pesquisa, possibilitando o suporte e a dedicação exclusiva necessários à pesquisa”, finaliza.

Sob o Programa

O Programa Institucional de Apoio à Pós-Graduação Stricto Sensu (Posgrad) consiste em apoiar com bolsas de mestrado e doutorado e auxílio financeiro, as instituições localizadas no Estado do Amazonas que desenvolvem programas de pós-graduação Stricto Sensu credenciados pela Capes.

Sebastião Alves – Agência FAPEAM

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