Pesquisador da RDS Mamirauá fala sobre o manejo de jacarés no AM
05/07/2011 – Com o objetivo de regulamentar o abate, o manejo e o processamento dos jacarés em áreas de conservação no Amazonas foi apresentada, no final de junho, a resolução que estabelece procedimentos técnicos para o manejo de jacarés em unidades de conservação de uso sustentável no Amazonas. Os procedimentos foram apresentados por meio da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SDS) e Secretaria de Estado de Produção Rural (Sepror). Para esclarecer o assunto a Agência FAPEAM entrevistou o biólogo Robinson Botero-Arias, pesquisador responsável pelo Programa de Pesquisa em Conservação e Manejo de Jacarés do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM). Robinson é biólogo, formado pela Universidade de Antioquia, na Colômbia, mestre em Ciências Biológicas com ênfase em Ecologia pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), membro do Grupo de Especialistas de Crocodilianos CSG-Iunc e trabalha com jacarés amazônicos há quase 10 anos.
* * *
Agência FAPEAM – Atualmente qual é a realidade da população de jacarés existentes no amazonas?
Robinson Botero-Arias – Fala-se de um aumento considerável das populações naturais de jacarés, especificamente da espécie jacaré-açu (Melanosuchus niger), porém, esses dados de monitoramento populacional só estão disponíveis nas Reservas de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e Anamã e na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Piagaçu Purus (local do mundo com maior incidência de caça ilegal de jacarés). Não existe uma estimativa real e cientificamente comprovada do número de indivíduos de jacarés presentes no Estado do Amazonas.
AF – Com a aprovação destes novos procedimentos, o que muda no manejo do jacaré?
RBA – A regulamentação do manejo, abate e processamento de jacarés no Estado do Amazonas norteia as ações futuras necessárias para estabelecer um sistema de caça legal de jacarés. A peculiaridade deste manejo dependerá das realidades locais, dos interesses e demandas das comunidades, das organizações gestoras e do desenvolvimento de uma cadeia produtiva para os produtos oriundos deste manejo (carne e pele). O fundamental nesta etapa inicial é que o manejo de jacarés no Estado do Amazonas seja desenvolvido de forma experimental, com fundamentos de pesquisa técnica, científica, social e comercial. A Regulamentação Estadual deve ser considerada como uma ferramenta que devemos aprender a usar.
AF – De que forma os órgãos envolvidos vão atuar a partir de agora em virtude desse novo procedimento?
RBA – Eu só posso falar pelo Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (Programa de Pesquisa em Conservação e Manejo de Jacarés). Nosso objetivo é gerar e fortalecer critérios técnicos e científicos que subsidiem um sistema de manejo de jacarés adequado à filosofia de uma Unidade de Conservação. Como se trata de uma Reserva de Desenvolvimento Sustentável, temos que garantir o uso racional dos recursos naturais para que se consiga conservar as espécies. Nós estamos trabalhando fortemente para estruturar um manejo de jacarés como um sistema participativo de base comunitária, que garanta a inserção dos comunitários na tomada de decisões e contribua para o melhoramento de sua qualidade de vida. Estamos desenvolvendo ações e pesquisas orientadas a uma cadeia produtiva e comercial de caráter local, baseada em Arranjos Produtivos Locais (APLs).
AF – Em se tratando de benefícios, quem são os principais favorecidos?
RBA – Idealmente devemos trabalhar para que o principal beneficiado deste tipo de sistema de manejo seja o ribeirinho, morador e usuário dos recursos nas Unidades de Conservação. Em outro contexto, os beneficiários deste sistema de manejo devem ser as espécies de jacarés amazônicos, já que o manejo sustentável é simplesmente uma estratégia de conservação.
AF – No Amazonas existem quantas Unidades de Conservação que lidam com o manejo do jacaré?
RBA – Até o dia de hoje não existe o manejo de jacarés. O que foi realizado, em três momentos, pelo governo de Estado (Idam), foram tentativas experimentais de manejo de jacarés na RDS Mamirauá, com o intuito de avaliar alguns aspectos básicos associados ao abate, sanidade, beneficiamento e potencial de comercialização dos produtos oriundos do jacaré (carne e pele).
AF – Só estas reservas poderão atuar com o manejo de jacaré?
RBA – A regulamentação atual do Estado de Amazonas indica que o manejo de jacarés poderá ser realizado em Unidades de Conservação estadual de uso sustentável, que inclui as Reservas de Desenvolvimento Sustentável (RDS) e as Reservas de Extrativismo (Resex).
AF – Como será a exploração da carne e pele de jacaré, a partir de agora?
RBA – Basicamente deverá ocorrer de forma experimental e acompanhada muito de perto pela pesquisa. É necessário desenvolver estudos de viabilidade econômica e comercial para estes produtos, dentro e fora do Estado do Amazonas. Igualmente é necessário o desenvolvimento tecnológico para obter produtos de qualidade oriundos do manejo. No Estado de Amazonas, por exemplo, não existe tecnologia para o processamento (curtimento) das peles de crocodilianos.
Redação: Valdir Torres
Edição: Ulysses Varela – Agência FAPEAM