Fernanda Werneck e sua trajetória na Ciência
Pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e desenvolvendo projetos com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), a Dra. Fernanda Werneck abriu as portas do seu laboratório no Inpa para falar sobre sua trajetória no mundo da Ciência.
Doutora em Biologia Integrativa pela Brigham Young University (BYU), nos Estados Unidos, Fernanda foi vencedora, em 2017, do prêmio Internacional Rising Talents da L´Oréal-UNESCO For Women in Science e do prêmio L´Oréal-UNESCO-ABC Para Mulheres na Ciência, em 2016. A iniciativa é voltada às mulheres cientistas promovida pela L’Oréal Brasil, em parceria com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e no Brasil conta com a parceria da Academia Brasileira de Ciências (ABC).
Nascida em Goiânia, Fernanda cresceu em Brasília e descobriu ainda no ensino médio o amor pela área de Ciências Biológicas. Não foi por acaso que sua matéria preferida na escola foi Biologia, principalmente, a parte que envolvia fauna e Zoologia. Atualmente, a cientista trabalha com a herpetofauna, campo da Zoologia que investiga os anfíbios e répteis. Seu laboratório, que inclui diversos alunos de Iniciação Científica, Mestrado e Doutorado, desenvolve estudos nas linhas de pesquisa que integram abordagens ecológicas e evolutivas para investigar as origens da biodiversidade Neotropical e da variação genética na região de transição entre os dois maiores biomas da América do Sul, Amazônia e Cerrado, que coincide com o Arco do Desmatamento.
Como iniciou sua trajetória na ciência ?
Em 1999, ingressei em Ciências Biológicas, na Universidade de Brasília (UnB). No local tive a oportunidade de participar de estágios na área de Ecologia Aquática.Foi quando soube de um grupo de pesquisa que trabalhava com diversidade e evolução de anfíbios e répteis do Cerrado. Eu queria muito trabalhar nesse grupo, logo procurei estágio desde o primeiro ano da graduação e após alguma insistência consegui a vaga. Em 1999, comecei a trabalhar com anfíbios e répteis, que são coletivamente conhecidos como herpetofauna. Eu descobri muito cedo na minha formação que era isso que eu gostava e continuo atuando na área até hoje.
Qual sua ligação com a região ?
Apesar de estar em Manaus há pouco mais de quatro anos, já possuía conexões com a Amazônia por já ter participado de pesquisas e expedições de campo na região. Também fiz o excelente curso de campo no Inpa, ainda em 2004, o ‘Ecologia da Floresta Amazônica’.Esta foi a primeira vez que conheci o Inpa. Eu sempre ficava flertando a possibilidade de trabalhar na Amazônia, mas nos períodos anteriores eu trabalhava com a evolução e conservação da fauna do Cerrado e a Caatinga, biomas também muito ricos e representativos da biodiversidade Neotropical.
Qual sua principal linha de Pesquisa?
Entender as causas históricas e ecológicas dos processos de especialização e adaptação ao ambiente, para subsidiar estratégias de conservação. Os anfíbios e répteis são os principais organismos modelo dos estudos desenvolvidos junto aos meus orientados. Utilizamos técnicas de sequenciamento de DNA para acessar a informação evolutiva que os organismos acumulam em seus genomas ao longo do tempo para assim buscar entender por exemplo, como a formação e a evolução da paisagem, como os grande rios e serras Amazônicas, influenciaram a distribuição da alta diversidade de espécies que vemos hoje.
Sobre fazer Ciência na Amazônia ?
O maior interesse na pesquisa de campo é ir para regiões inéditas, as chamadas lacunas de conhecimento, que são pouco conhecidas. Logo, essas regiões são as mais difíceis de acessar, no meio de uma mata que não tem estrada. Para nós que desenvolvemos trabalho de campo a logística é um desafio. O que queremos de uma maneira geral, quando estamos fazendo um trabalho de prospecção e inventários da biodiversidade, é ir a lugares que ainda não conhecemos e entender o que tem de especial naquele local.
Existem diversas formas de fazer Ciência?
É importante frisar isso, pois é comum que quem não participa do universo científico pergunte ‘Para quê você faz isso? Para que você quer estudar os sapos e lagartos?’ Muitas vezes estamos gerando um conhecimento que pode levar 5,10 ou até mais anos para ter uma aplicação. Por exemplo, até chegar a um ponto que você possa realmente aplicar para a produção de um remédio, entender a cura de uma doença ou onde vamos colocar nossos esforços de conservação da biodiversidade em prática. As saídas para muitos dos problemas da humanidade, incluindo problemas ambientais, sociais e econômicos estão na Ciência. A nossa contribuição é realmente trazer à luz da sociedade a importância de compreender e preservar nossa biodiversidade.
Qual a importância da valorização da presença e papel das Mulheres na Ciência?
O Brasil avançou muito nas últimas décadas no que diz respeito à representatividade feminina na Ciência e em publicações e à concessão de licenças maternidade pagas a bolsistas por exemplo. No entanto ainda precisamos avançar em muitos outros pontos. Por exemplo nas discussões sobre ambientes de trabalho saudáveis e livres de assédio sexual e moral, na consideração do efeito desproporcional que a maternidade tem sobre a produtividade das pesquisadoras e como isso afeta suas chances de progressos acadêmico-científicos e formas de lidar com isso, entre outros.
Não é razoável que mulheres na Ciência igualmente (ou muitas vezes até mais) competentes sejam percebidas como menos competentes pelo simples fato de serem mulheres. Por isso assegurar a igualdade de oportunidades e balanço de gêneros na Ciência é tão importante. Podemos fazer isso de diversas formas, como por exemplo discutindo o assunto abertamente em nossas instituições, promovendo a divulgação de estatísticas relacionadas, orientando cientistas a detectar e reagir ao machismo na Ciência, acolhendo e valorizando a maternidade no ambiente científico e promovendo cargos e oportunidades (financiamentos, prêmios) que valorizem e facilitem a permanência da Mulher na Ciência.
Departamento de Difusão do Conhecimento (Decon)