Amazonas concentra o maior acervo bibliográfico sobre etnologia indígena


28/04/2011 – Agora ficou mais fácil pesquisar sobre temas relacionados aos povos indígenas do Estado do Amazonas. O Núcleo de Estudos da Amazônia Indígena (Neai), do Museu Amazônico, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), localizado na antiga Faculdade de Direito, Centro da cidade, direcionou estudos para identificar publicações correspondentes ao período colonial até os dias atuais.

O registro de todo esse investimento deverá, em curto prazo de tempo, estar disponível em sistema online, para que o pesquisador tenha acesso imediato a registros como fotografia, narrativas, cartas, literatura e pesquisa científica. É o que afirma o doutor em antropologia, Gilton Mendes dos Santos, coordenador do projeto ‘Amazonas Indígena: Um mapeamento das instituições e da produção bibliográfica sobre os povos indígenas no Estado’.

Financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM), por meio do Programa de Infraestrutura para Jovens Pesquisadores – Programa Primeiros Projetos (PPP), o estudo desenvolveu metodologias específicas cujo objetivo foi identificar a produção bibliográfica sobre os povos indígenas no Estado do Amazonas e das instituições que atuam junto a essas populações nos últimos cinco anos.

Pesquisa apresenta duas etapas marcantes

vspace=10Segundo Santos, a pesquisa é marcada por duas etapas. A primeira corresponde ao período colonial, de 1541 até a década de 1930, caracterizada por obras narrativas e crônicas de viajantes e missionários sem uma identificação etnográfica. Nessa década, surgem obras que marcam a transição entre as etapas, como as de Koch Grumberg e Curt Nimubanju, que constituem obras pormenorizadas com detalhes das organizações sociais, parentescos, linguística, cultura material, mitos e ritos das populações indígenas.

A partir dos anos seguintes, na segunda etapa, surgem os primeiros trabalhos acadêmicos culminando com uma tese sobre os Yanomami, em 1962. Inicialmente, foram identificados 1,6 mil títulos entre teses, dissertações, relatórios, livros, artigos, CDs, DVDs, dentre outros, desde o período colonial até o ano de 2009. Quanto às instituições, cerca de 200 foram identificadas, atuantes em trabalhos dos mais diversos, destacando as indigenistas, eclesiásticas, de saúde, governamentais e de Organizações Não Governamentais (ONGs).

Identificação das obras foi complexa

Em razão da dispersão, foi difícil identificar e reunir toda a produção. O pesquisador comenta que para resolver esse entrave consultou as diversas fontes possíveis, que vão desde as físicas (bibliotecas de universidades, centros de pesquisa, acervos particulares) até ao sistema online, como o curriculum lates de pesquisadores,  instituições internacionais e até mesmo fontes bibliográficas de trabalhos de pesquisa.

A Ufam lidera em publicações

Segundo Gilton Santos, a instituição que teve o maior número de registros identificados foi a Ufam por meio de seus programas de pós-graduação. Ele revelou que o estudo não é inédito, pois houve pesquisa semelhante na obra ‘Levantamento  Crítico da etnologia Brasileira’, volume I e II, de Herbert Baldus, entre os anos 50 e 70. Posteriormente, a antropóloga Tekla Hartman reeditou a obra acrescentado informações até os anos 80. A partir daí foi preciso “atualizar esse material por meio de software para montar um Banco de Dados que permitisse espacializar essa produção, diz o pesquisador.

Santos afirmou que houve maior concentração da produção bibliográfica por região e por etnia, como na calha do Alto Rio Negro e nos povos Yanomami, seguidos pelos Tucano e Tikuna. 

A linguística é outra temática abordada com grande ênfase. Por outro lado, o estudo identificou também lacunas de regiões que não tiveram uma produção considerável, como por exemplo, o Médio Purus, que concentra uma população significativa de povos indígenas.

Segundo Santos, o Amazonas é o Estado que concentra o maior acervo fruto desse tipo de levantamento, seguido do Rio de Janeiro. E, uma das curiosidades é que o Pará, apesar de estar na Região Amazônica e de possuir uma infraestrutura avançada representada pelo Museu Emilio Goeldi, abriga o menor acervo, comenta o pesquisador. 

Contribuição

Após a divulgação do resultado, Santos comenta que houve uma procura crescente de pesquisadores para saber das publicações e considera extremamente positiva essa contribuição para a Academia e para a Ciência. “Hoje, nós temos uma mostra significativa daquilo que foi produzido sobre os povos indígenas no Estado do Amazonas. Então, isso dá um certo conforto ao estudante e ao pesquisador que precisa ter acesso a um acervo bibliográfico”, finaliza.

Saiba sobre o PPP da FAPEAM

O Programa de Infraestrutura para Jovens Pesquisadores – Programa Primeiros Projetos (PPP), desenvolvido em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), consiste em apoiar a aquisição, instalação, modernização, ampliação ou recuperação da infraestrutura de pesquisa científica e tecnológica nas instituições públicas e particulares, sem fins lucrativos, de Ensino Superior e/ou de pesquisa sediadas ou com unidades permanentes no Estado de Amazonas visando dar suporte à fixação de jovens pesquisadores e nucleação de novos grupos, em quaisquer áreas do conhecimento.

Sebastião Alves – Agência FAPEAM

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