Conhecer o habitat de insetos auxilia na manutenção do meio ambiente


18/04/2011 – A diversidade de seres na Amazônia é realmente fascinante. Do reino vegetal ao mundo animal, as formas de vida presentes são tão imensas quanto o tamanho da região. Imagine, agora, quando esses dois reinos resolvem interagir? Ainda não se pode mensurar em números os resultados dessa riqueza biológica, mas calcula-se que devam ser centenas de milhares de espécies.

Um exemplo de interação é a associação entre insetos e fitotelmatas. Por meio do projeto ‘Fitotelmatas como criadouros de insetos aquáticos em áreas naturais e urbanas de Manaus, Amazônia Central, Brasil’, o estudo já conseguiu identificar, por exemplo, mais de 65 mil insetos que vivem em determinadas espécies de plantas, como nas palmeiras de buritis, bromélias, bananeiras e tajás.

Segundo a pesquisadora, Dra. Ruth Leila Ferreira Keppler, do Laboratório de Insetos Aquáticos do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), fitotelmatas (do grego phyton= planta; telm= poça) são partes de plantas vivas, mortas e/ou caídas capazes de acumular água proveniente da chuva, promovendo microecossistemas aquáticos.

Como a Região Amazônica possui uma diversidade de espécies vegetais e também apresenta altos índices pluviométricos (em torno de 2.300 mm anuais), essas características favorecem a formação desse habitat. “Esses fatores nos oferecem uma excelente oportunidade para investigar e determinar processos ou interações ecológicas”, afirmou Keppler.

 

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A mestre em Entomologia Sharlene Roberta Torreias, que participa como bolsista da Coordenação de Pesquisas em Entomologia (Inpa) e cujo trabalho colaborou para esse estudo maior, explicou que, como qualquer outro sistema aquático, as fitotelmatas apresentam condições favoráveis para a colonização de uma diversificada entomofauna aquática, como temperatura, pH, incidência luminosa e matéria orgânica. “A maioria da fauna que habita esse microecossistema é específica desse ambiente e, em grande parte, é composta por insetos. Atualmente, são conhecidas cerca de 70 famílias e 11 ordens de insetos, sendo a ordem Diptera, a mais encontrada, principalmente, os mosquitos Culicidae”, explicou.

Mapeamento dos insetos é importante para a sociedade

De acordo com Keppler, nos últimos anos o avanço do perímetro urbano de Manaus para áreas rurais contribuiu para as transformações ambientais sob o ponto de vista ecológico, constituindo perda de diversidade da fauna e flora, o que representa importante ameaça às populações humanas. Os diversos tipos de fitotelmatas, encontrados nos fragmentos de mata na zona urbana de Manaus, podem ser utilizados como criadouros para várias espécies de mosquitos considerados importantes transmissores de agentes patogênicos para o homem. “Devido aos hábitos intradomiciliares das formas adultas de espécies vetoras de doenças, torna-se necessário  identificar as espécies de importância médica (Culicidae e Ceratopogonidae), representantes dos gêneros Aedes, Sabethes e Haemagogus, que são importantes vetores de diversos arbovírus, como o do dengue e da febre amarela silvestre, e que utilizam fitotelmatas e criadouros artificiais para se desenvolverem”, ressaltou.

Contudo, a importância desses ambientes vai além das espécies de interesse médico. A pesquisadora afirmou que o mapeamento dos insetos é fundamental para identificar os que contribuem de forma significativa com a diversidade das florestas tropicais, atuando em importantes processos como polinização, atividade herbívora, decomposição da matéria orgânica, além de servirem como fonte de alimento para outros organismos da cadeia alimentar. “São essenciais para a manutenção do ambiente”, afirmou.

O conhecimento sobre esses criadouros em fragmentos de mata é importante para entender a distribuição do habitat de vetores de doenças. Com isso, serão fornecidos subsídios para programas de desenvolvimento urbano, estudos epidemiológicos e taxonômicos, incrementando o conhecimento sobre uma parcela onde convivem, lado a lado, o homem e um complexo sistema da fauna natural.

Manaus foi a base da pesquisa

O projeto, financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), foi realizado no Centro de Instrução de Guerra na Selva (Cigs), na Universidade Federal do Amazonas (Ufam), no Parque do Mindu, no Aeroporto Internacional Eduardo Gomes, no Balneário do Sesc, Universidade Luterana (Ulbra) e na Reserva Florestal Adolpho Ducke.

O estudo comprovou que essas áreas apresentam características favoráveis ao desenvolvimento de espécies de plantas que servem de habitat natural para insetos, como bromélias (Bromeliaceae), babaneira-brava (Strelitziaceae), tajás (Araceae) e palmeiras (Arecaceae).

Resultados práticos

Segundo Torreias, com o resultado da pesquisa foi possível a elaboração de banners e folders explicativos, para promover o melhor entendimento da importância destas plantas. “Muitas delas são utilizadas amplamente no paisagismo moderno, dentro de residências ou estabelecimentos. É necessário conhecimento para não transformá-las em fontes de doenças”, comentou.

Foto2: Ricardo Oliveira

Carlos Fábio Guimarães – Agência FAPEAM

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