Organismos encontrados na Amazônia produzem substâncias antifúngicas
15/04/2011 – Imagine uma situação de guerra em que dois lados usam armas químicas para sobreviver e para se defender do inimigo, mas estas mesmas armas exclusivas e fatais para um dos lados, também pode ser utilizadas no combate a doenças por outros seres vivos. O que parece um roteiro de filme de ação na verdade é o que ocorre diariamente numa escala microscópica no solo amazônico.
No caso, os ‘povos em guerra’’ são os Actynomicetes, bactérias filamentosas encontradas em solos onde ocorre a decomposição de materiais ou próximas a raízes de plantas, hoje responsáveis por cerca de 70% dos antifúngicos existentes nas farmácias, como a eritromicina e a tetraciclina. As armas são as substâncias químicas usadas para se livrar dos concorrentes na natureza, que para os humanos podem servir como novos medicamentos contra infecções por fungos, como a candidíase.
Essa situação é real e acaba de ser comprovada por meio da pesquisa ‘Bioprospecção de substâncias antifúngicas produzidas por actinomycetes isolados da região amazônica’, realizada no Laboratório de Micologia da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas (FMTAM), pela doutora em Biotecnologia Industrial e pesquisadora Regina Yanako Moriya.
A pesquisa foi financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM) por meio do Programa de Desenvolvimento Científico Regional (DCR), que consiste em apoiar, com bolsas, passagens e auxílio, doutores titulados em outros Estados e no Amazonas, interessados em desenvolver pesquisas em instituições localizadas no Estado.
Resultados
O resultado dessa experiência vivida pela doutora Regina Moriya é promissor, pois mostra o quanto a região amazônica pode contribuir para a descoberta de novos medicamentos, ou seja, que pode realmente ser chamada de um laboratório vivo. A pesquisadora trabalhou com quatro amostras de solos, coletadas em Manaus, capital do Amazonas, e nos municípios de Presidente Figueiredo, localizado a 107 quilômetros de Manaus, e Iranduba, localizado a 25 quilômetros em linha reta da capital amazonense.
A partir das amostras, foram isolados 110 organismos (actynomicetes) por meio dos quais foi possível extrair substâncias de ação para combater a candidíase, micose causada pelos fungos Candida albican, Candidag labrata e Cryptococcus neoformans, em infecções da boca e mucosa vaginal benignas e em infecções em doentes com HIV Positivo.
Entre os 110 organismos pesquisados, 34% apresentaram substâncias eficazes contra a Candida albican, a mais comum entre os seres humanos. Outros 39% resultaram em uma substâncias com possibilidade de combater o Cryptococcus neoformans e 21% resultaram em substâncias com potencial para combater a candida labrata. Outro resultado importante apontou a ação conjunta de 20% dos organismos com substância eficaz para dois fungos ao mesmo tempo e 2% com ação antifúngica para as três espécies simultaneamente.
“Os dados são relevantes, porque muitos pacientes apresentam resistência contra os medicamentos antifúngicos encontrados no mercado, como a Anfotericina B e a eritromicina”, explicou Moriya.
Destes 2%, a pesquisadora realizou ainda o fracionamento, procedimento para caracterizar as substâncias presentes por meio de isolamento das mesmas. “Um próximo passo é a identificação dessas partículas, a partir das classes de substâncias já existentes e, assim, gerar patentes.
“Infelizmente nosso projeto termina com o isolamento dos organismos, mas ficou comprovada a necessidade de novos isolamentos e identificação das substâncias, o que pode ser feito por outros pesquisadores em outros projetos”, disse.
Mesmo tendo sido concluído, o projeto, os equipamentos e matérias, adquiridos por meio do programa, vão continuar no Laboratório de Micologia, onde são realizados todos os exames para identificação de doenças infecciosas realizados pela FMTAM.
Ulysses Varela – Agência FAPEAM