Disfunção de órgão em arraias é estudada em pesquisa


08/02/2011 – Em razão de seu formato, as arraias são um tanto quanto parecidas, contudo se diferem quando se trata de seu ambiente natural, pois vivem tanto em águas fluviais quanto marinhas.

A comparação entre as duas espécies a partir da morfologia de seus órgãos levou a graduanda em Biologia da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Camila Goncharov de Souza, a realizar a pesquisa ‘Mudanças morfológicas dos órgãos osmorreguladores das arraias de água doce (Potamotrygonidae) ao longo do desenvolvimento’.

Segundo a bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic), as brânquias, rins e glândula retal são os principais órgãos osmorreguladores de entrada e saída de sais em arraias marinhas.

A pesquisadora definiu a osmorregulação como a capacidade que alguns animais possuem em manter a pressão osmótica constante, independente da do meio externo, dentro de uma determinada faixa de variação. Entretanto, ao analisar as arraias de água doce foi verificado que a glândula retal se apresenta atrofiada e, por conta disso, não é utilizada.  

A pesquisa

A estudante explicou que o fenômeno ocorre em razão de os ambientes salinos exigirem mais órgãos para excretar. Já em ambientes de água doce, segundo a bolsista, não há uma quantidade de sal tão elevada, o que provoca a disfunção. A espécie em questão, conhecida popularmente por cururu, ocorre no Rio Negro, explicou.

Ao perceber o atrofiamento, Souza diz que em embriões a glândula retal apresenta-se ativa. Uma das explicações para isso é que o embrião quando está no útero da mãe fica num ambiente exosmótico, ou seja, está num ambiente de igual para igual, pois é um fluido com mais sais. “A partir do momento que o embrião sai para as águas do Rio Negro, considerado um rio de água destilada, uma vez que não possui tanto sais, com o passar do tempo essa glândula não vai ter função nenhuma”, complementou.

Ela acredita que é bom ter essa noção, pois se verifica que o organismo dos animais muda com o passar do tempo. “É interessante que existem trabalhos com arraias, mas são poucos estudos que nós encontramos”, afirmou.

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Necessidade

A ausência da atividade realizada por órgãos osmorreguladores não é prejudicial às arraias de água doce. Segundo Souza, o atrofiamento do órgão somente ocorre em razão da  sua não utilização, pois não há necessidade de usá-lo. Se esse órgão fosse ativo em um animal adulto num ambiente com pouco sal, isso iria atrapalhar seu organismo, o que comprometeria sua sobrevivência,  como ficou comprovado através da precisão dos sais, que é realizada, por meio de bombas enzimáticas.

Apoio da FAPEAM   

Souza garante que o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM) é imprescindível às pesquisas, seja qual for o patamar do estudo. “Nós precisamos dessa ajuda tanto financeira quanto de incentivo à pesquisa, pois quanto mais questionamos, mais obtemos respostas. Acredito que é isso que move o mundo”, destacou.

Saiba mais sobre as arraias

As arraias da família Potamotrygonidae são peixes elasmobrânquios completamente adaptados à vida no ambiente dulciaquícola. Este grupo está confinado às águas continentais da América do Sul, nas bacias que escorrem para o Oceano Atlântico e mar do Caribe.

Tais arraias estão representadas em três gêneros descritos (Paratrygon, Potamotrygon e Plesiotrygon) Das 21 espécies descritas, cerca de 17 espécies ocorrem no Brasil, sendo que muitas apresentam padrão de distribuição em manchas com focos de endemismo. Por exemplo, as Potamotrygon leopoldi e P. henlei são endêmicas de rios de águas claras, Xingu e Tocantins (Pará), respectivamente. Enquanto, a Potamotrygon cf. histrix (espécie nova) está restrita ao Médio Rio Negro (Amazonas). Como na Amazônia os rios recebem uma classificação conforme o padrão de coloração, então, pode-se associar o endemismo ao tipo de água onde a espécie habita.

Imagem 2: Arraia (Foto: Divulgação/Google)

Sebastião Alves – Agência FAPEAM

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