Cientista fala sobre o potencial dos micro-organismos amazônicos


24/01/2011 – Há dez anos na área de Biotecnologia, o doutor Aldo Procópio, pesquisador do Instituto de Ciências Médicas da Universidade de São Paulo (USP), fixou residência em Manaus, em julho de 2009, a partir do Programa de Desenvolvimento Regional (DCR) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM).

Atraído pelo alto potencial biotecnológico dos rios amazônicos, a partir dos indicativos de bactérias que acumulam polímeros (espécies de moléculas formadas quando duas ou mais moléculas, chamadas monômeros, se combinam umas às outras), o pesquisador afirma estar no caminho certo. Segundo o cientista, não há relatos conhecidos por ele sobre a produção de plástico biodegradável a partir do potencial das bactérias isoladas nos rios.

Procópio pretende permanecer no Amazonas para investir em mais pesquisas como esta, que tem como objetivo reduzir o uso de plástico derivado do petróleo e contribuir de forma significativa para a preservação do meio ambiente.

Em entrevista exclusiva à Agência Fapeam, o pesquisador do Centro de Biotecnologia da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) falou sobre a importância de se desenvolver essa pesquisa e o avanço do setor de Ciência, Tecnologia e Inovação no Amazonas, com o apoio da  FAPEAM.vspace=10

Agência Fapeam – A produção de plástico biodegradável a partir de bactérias encontradas nos rios é uma pesquisa inédita no Brasil? Se não, em que outros lugares há estudos semelhantes?

Aldo Procópio – No meu conhecimento não há relatos de estudos com bactérias isoladas de rios, mas há vários trabalhos com bactérias isoladas de solos.

Agência Fapeam – Quando iniciou sua pesquisa e quais suas expectativas em relação aos primeiros resultados?

Procópio – Nossas pesquisas iniciaram em julho de 2009. Hoje estamos no meio do projeto que tem duração de três anos.  Temos uma expectativa muito grande a respeito desses micro-organismos, pois podemos observar que há bactérias acumulando polímeros em seu interior. Isto nos mostra que estamos no caminho certo e foca nossa pesquisa em procurar isolados com potencial para a produção, uma vez que temos vários gêneros de bactérias acumulando biopolímeros.

Agência Fapeam – Já existem empresas interessadas nos resultados do seu trabalho?

Procópio – Ainda não recebemos nenhum contato de empresas.

Agência Fapeam – Sua vinda para Manaus foi por meio do Programa de Desenvolvimento Regional (DCR) da FAPEAM. Há quanto tempo trabalha no Amazonas e quais as perspectivas para estudos locais na área de Biotecnologia? 

Procópio – Sim, minha vinda para Manaus se deu através do programa DCR-FAPEAM. Trabalho no Amazonas desde o início deste projeto, em julho de 2009. As perspectivas são excelentes, pois estamos com esta pesquisa em andamento, mas participamos em outros projetos como colaboração. Todos com boas perspectivas também.

 O Amazonas tem uma infinidade de possibilidades de estudos que podem gerar produtos comerciais e o potencial do Estado do Amazonas em se tornar um polo industrial de biotecnologia é muito grande. 

Agência Fapeam – Qual o foco dos demais projetos em andamento?

Procópio – O nome do grupo de pesquisa no qual estou inserido é “Biotecnologia na Amazônia: uso e conservação da biodiversidade”. Como estou no Amazonas há um ano e meio, os projetos com os quais colaboro estão em fase inicial, como os estudos da “Biotransformação da bergenina utilizando fungos amazônicos como biocatalisadores” e “Síntese e extração de moléculas biologicamente ativas e modificações estruturais mediadas por fungos amazônicos”.

Também estou colaborando em projetos, em parceria com o Dr. Ademir Castro, que estão sendo desenvolvidos na Universidade do Estado do Amazonas (UEA), no campus de Parintins. Esse trabalho é o início da implantação de uma consciência científica e da importância da geração de pesquisas para o estado do Amazonas.

Agência Fapeam – Como o senhor avalia o nível do Amazonas no ranking de valorização da ciência e tecnologia em relação aos outros estados do Brasil?

Procópio – Com a participação efetiva da FAPEAM o Amazonas tornou-se um estado com excelente nível de pesquisas. Ainda precisa de investimentos na área de tecnologia, mas a FAPEAM tem desempenhado muito bem sua função de apoio à pesquisa a cada ano. Isto mostra o interesse do Estado em desenvolvimento científico e tecnológico. 

Agência Fapeam – É seu interesse permanecer na Amazônia para investimento em mais pesquisas? 

Procópio – Sim, tenho interesse em permanecer no Estado, dedicando meu tempo e conhecimento em pesquisa, ensino e também no desenvolvimento tecnológico. Promovendo, desta forma, a transferência de tecnologia entre a universidade e as empresas, pois muitas pesquisas são belíssimas, mas ficam nas universidades.  É de grande interesse que estas pesquisas se tornem produtos e sejam desenvolvidos por empresas da região.


Sobre o Programa de Desenvolvimento Regional (DCR)

O programa DCR-FAPEAM conta com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e consiste em apoiar, com bolsas, passagens e auxílio, doutores titulados em outros Estados e no Amazonas, interessados em desenvolver pesquisas em instituições localizadas no Amazonas, fixando-os na região.

Foto 1- Experimentos realizados no laboratório da UEA (Foto:Ricardo Oliveira)

 

Alessandra Leite – Agência FAPEAM

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