Foco empresarial pode dar à ciência nacional um novo impulso, diz Mercadante


21/01/2011 – Brasília – O petista Aloizio Mercadante assumiu o cargo de ministro de Ciência e Tecnologia falando em tirar do papel projetos científicos ambiciosos (e caros). Entre os projetos futuros, um novo reator nuclear, um anel de sincrotron mais moderno e um observatório do ecossistema marinho (‘Amazônia Azul’) em tempo real.

Haverá dinheiro para isso? Em entrevista ao Jornal Folha de S. Paulo, Mercadante disse que sim, já que os recursos devem vir também das empresas. E instituições como a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), de apoio à pesquisa, podem virar bancos de Inovação.

Para ele, um novo foco empresarial poderia dar à ciência nacional um novo impulso. “Viemos de uma cultura industrial que não estimulou a inovação”, diz.

Folha – O senhor tem falado em tirar do papel projetos caros. Parece que sua gestão vai fazer investimentos de grande porte.

Aloizio Mercadante – Quando a gente olha o Brasil hoje, vemos que não podemos pensar pequeno. Temos tecnologia de ponta, por exemplo, na agricultura. Veja a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). A agricultura brasileira teve um superávit de mais de US$ 70 bilhões. A Embrapa hoje está exportando tecnologia para a África.

A Aeronáutica, no complexo ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), CTA (Centro Técnico Aeroespacial) e Embraer, é outro modelo exitoso. Onde o Brasil concentrou esforços, houve retorno. Estamos com um projeto para construir um novo anel de luz sincrotron em Campinas (SP), de terceira geração. O atual, de 1988, é usado por cerca de 3 mil pessoas por ano, de várias áreas.

Nós precisamos de parceiros para poder viabilizar esse projeto, que deve custar em torno de R$ 350 milhões. Também tive reuniões sobre o laboratório de nanotecnologia da Unicamp e sobre o reator multipropósito [destinado à pesquisa científica e à fabricação de radiofármacos], que deve ser construído em Iperó (SP) (ao custo de cerca de R$ 800 milhões).

Nós temos de concentrar forças nas novas fronteiras do conhecimento pensando em projetos como a nanotecnologia e a biotecnologia. Somos o 13º colocado hoje nos rankings internacionais de produção científica, nosso impacto está aumentando. Mas, na Inovação, ainda temos um desafio.

Qual é o desafio da Inovação?

AM – Temos de repensar o marco legal e os incentivos à Inovação. Viemos de uma cultura industrial que não estimulou a Inovação. Tivemos um longo período em que não havia importações, então também não havia Inovação. Agora, com estabilidade econômica, o Brasil voltou a crescer, e é hora de criar instrumentos para que as empresas realmente olhem para pesquisa e desenvolvimento, principalmente na área de sustentabilidade.

Investir no pré-sal não é contraditório com a bandeira ‘verde’ da gestão?

AM – O petróleo é uma energia não renovável, mas ainda é um produto que se desdobra em 3 mil produtos: toda cadeia de nafta, plástico, etc. A economia é muito dependente do petróleo. Temos de utilizar isso inteligentemente. Mas temos também de investir em energias renováveis, como a eólica e a solar. Falando em sustentabilidade, estamos agora começando a analisar o CBA (Centro de Biotecnologia da Amazônia).

O CBA tem uma estrutura enorme, mas está parado.

AM – O centro tem uma excelente estrutura laboratorial, mas agora estamos estudando parcerias com empresas da área de fármacos e alimentos. Minha primeira orientação é buscar gerar valor agregado para produtos que já temos na Amazônia, como açaí e castanha-do-pará. Temos de gerar alternativas sustentáveis para 25 milhões de pessoas que moram lá. A pesquisa científica é importante para diversificar essas cadeias produtivas.

Mas há empresários que ainda patinam para fazer Inovação no Brasil.

AM – Tanto a pesquisa quanto a Inovação são atividades de risco. Muitas vezes você pesquisa um assunto e não descobre o que esperava. Mas, ao não descobrir, você reduz a necessidade de uma próxima pesquisa. O fato de não se chegar aquilo que se espera pode não ser negativo. Na Inovação é a mesma coisa. Uma coisa que começo a discutir são as formas de financiamento à Inovação.

Por exemplo?

AM – Uma ideia é que os bancos financiadores sejam sócios no produto final da Inovação. Ou seja: eles compartilham o risco, mas, se der certo, também ganham. Esse é o modelo dos EUA. Precisamos avaliar como fazer isso.

Como não temos ainda esse mercado industrial desenvolvido, os bancos públicos devem ajudar. Faremos um grande esforço para que a Finep seja uma instituição financeira de fomento à Inovação. Deve continuar apoiando a pesquisa, mas será também um banco da Inovação.

Se isso acontecer, haverá muito mais liberdade de atuar. É preciso fazer formas de parcerias com as empresas. O CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), por exemplo, está dando bolsas para que pesquisadores atuem nas empresas. É preciso fomentar a Inovação.

Leia a íntegra da entrevista na edição da Folha do dia 21 de janeiro.

Agência FAPEAM

(Com informações de Sabine Righetti – FolhaUOL)

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