Empresa quer desenvolver pesquisa para olhos com célula de embrião
04/08/2010 – Um novo teste com células-tronco embrionárias em seres humanos pode ser aprovado em breve pela Administração de Drogas e Alimentos (FDA na sigla em inglês) dos EUA. O anúncio, no último dia 30 de julho, de que a FDA tinha autorizado a empresa Geron a iniciar testes para lesão medular, foi considerado por especialistas da área como um forte indicativo de que a experiência proposta pela Advanced Cell Technology (ACT) para o tratamento de uma distrofia da córnea deve receber o sinal verde até o fim de 2010.
“A indicação para a qual a ACT está desenvolvendo um tratamento baseado em células-tronco embrionárias, doença de Stargardt, é totalmente diferente da condição que a Geron tem como alvo”, afirmou o presidente da ACT, William Caldwell, ao felicitar a concorrente.
No início da semana passada, antes do anúncio da Geron, a Advanced Cell Technology (ACT) – a primeira empresa de biotecnologia a conseguir clonar embriões humanos para pesquisas, em 2001 – apresentou a documentação completa ao FDA pedindo para dar início a seu estudo com células-tronco embrionárias humanas para pacientes que sofrem de degeneração macular. Tais estudos são gigantescos e muito detalhados.
Para se ter uma ideia, o estudo da Geron tinha 21 mil páginas.
Testes
O diretor-científico da ACT, Robert Lanza, um dos pioneiros na pesquisa com células-tronco, vem se mostrando confiante na breve autorização dos testes. “Em animais, não vimos efeito adverso e as nossas células são mais de 99,9% puras”, disse.
O teste da ACT está previsto para ser feito com aproximadamente dez pessoas que sofrem de uma forma de cegueira juvenil chamada distrofia macular de Stargardt – uma condição rara, herdada dos pais. Os cientistas conseguiram induzir a diferenciação das células-tronco em células maduras do epitélio pigmentar da retina, essenciais para a visão. A ideia é que os pacientes recebam uma injeção dessas células diretamente nos olhos.
Nos testes com animais, os transplantes de células humanas em ratos com degeneração macular resultou em 100% de melhora na visão. As células implantadas diretamente na retina dos animais sobreviveram a longo prazo – elas têm marcadores e podem ser identificadas facilmente pelos cientistas – e não houve nenhuma formação de tumores.
Como as células-tronco embrionárias são as mais primitivas do organismo, capazes de se diferenciar em qualquer tipo de tecido, o maior temor dos cientistas é que, ao implantá-las, elas se transformem em algum outro tecido diferente do almejado ou, pior ainda, em um tumor. De acordo com a ACT, nenhum efeito colateral foi observado nos animais.
No Brasil, alguns poucos grupos estudam as células embrionárias. O coordenador do Laboratório Nacional de Células-Tronco Embrionárias (Lance) da UFRJ, Stevens Rehen, afirmou que, tão logo haja um resultado positivo para testes em humanos nos EUA, será possível reproduzir a experiência por aqui, já que o laboratório é capaz de produzir as linhagens.
A geneticista Mayana Zatz, especialista em células-tronco do Instituto de Biociências da USP, conta que, a longo prazo, os planos de seu departamento são testar, em seres humanos, terapias com células-tronco adultas, voltadas para distrofias musculares e esclerose lateral amiotrófica.
Agência Fapeam
(Roberta Jansen – publicado no Jornal O Globo em 03/08)