Técnica e espetáculo ajudam a manter viva a cultura no interior do AM
12/07/2010 – Os grupos de Pastorinhas de Parintins (município distante a 315 km de Manaus) não veem as tecnologias da informação (rádios, televisões, jornais, internet) como sinônimo de destruição e apagamento da memória cultural. À margem direita do rio Amazonas, na ilha Tupinambarana as ferramentas tecnológicas têm sido importantes aliadas ao processo de divulgação da cultura popular para todo o Estado e para o país.
Segundo a professora da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Soriany Neves, as manifestações de cultura popular têm passado por constantes mudanças, principalmente, devido ao crescimento da indústria do entretenimento. Todavia, elas mantêm as tradições.
Bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM), Neves defendeu sua dissertação de mestrado no último dia 29/6. Na ocasião, ela falou sobre como a indústria do entretenimento tem afetado as Pastorinhas “Filhas de Maria do São Francisco”, “Filhas de Maria do Dejard Vieira” e “As Natalinas do Palmares”.
In loco
Ao longo de quatro meses, Neves acompanhou os componentes dos grupos durante os preparativos para a 10ª edição do Festival das Pastorinhas, realizado em dezembro de 2009. Ela disse que visitou os barracões (locais tidos como santuário pelos brincantes), fez entrevistas e acompanhou as discussões sobre a organização da festa.
“Percebemos que os objetos de cultura da manifestação das Pastorinhas, por exemplo, presépios, imagens, agentes sociais e a formatação do espetáculo, estão em uma esfera do fantástico. Os simbolismos dão sentido à manutenção da tradição”, salientou.
A manifestação das Pastorinhas por si só consiste no culto ao nascimento de Cristo, conforme Neves, todavia, os símbolos, as imagens utilizadas aparecem no decorrer da ritualística dos ensaios. “A simbologia do auto convive com certa formalidade do perfil de espetáculo”, afirmou.
Na fala das pessoas que fazem parte dos grupos culturais, de acordo com Neves, foi possível constatar a presença de palavras que demonstram que as novas tecnologias estão ajudando a difundir a cultura popular. Ela citou, por exemplo, as palavras: mudança-evolução, relativização do culto, reafirmação do mito, valorização da exposição e festival como extensão da memória e da tradição.
Segundo ela, isso significa que as Pastorinhas estão buscando, na técnica, o redimensionamento da narrativa do mito do nascimento de Cristo, que convive entre o passado (o mito) e o presente (tecnologias). Além disso, a forma como compreendem a espetacularização não é similar à questão apenas da encenação (uma falsa realidade), mas da manutenção da tradição. “A indústria cultural e a cultura de massa não atuam como devastadoras das culturas populares, segundo a ótica do grupo estudado”, informou.
Luís Mansuêto – Agência Fapeam