Ciência popular deve ser mais valorizada no país, afirma líder indígena
O líder indígena Álvaro Fernandes Sampaio, da tribo Tukano, localizada na fronteira do Brasil com a Colômbia e a Venezuela, fez críticas ao modo como se produz ciência no país, excluindo o saber popular, conhecimento tradicional transmitido oralmente até os dias de hoje nas comunidades indígenas. Ele foi um dos palestrantes da 4ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, realizada na última semana, em Brasília (DF).
“Não tenho formação acadêmica, não estudei no exterior, mas nós recebemos pesquisadores de braços abertos e muitas vezes somos enganados. Eles continuam saqueando as nossas riquezas, diminuindo a nossa paz. Nós queremos ser protagonistas da produção de ciência junto com vocês, para defender os interesses dos brasileiros. Nós somos brasileiros como vocês”, explicou o líder conhecido como Álvaro Tukano.
Tukano ressaltou a preocupação da população indígena em produzir conhecimento com o cuidado de preservar o meio ambiente. “As nossas tecnologias são bem diferentes das de vocês. As de vocês são como explorar pré-sal, como vão sustentar a Fiat, como vão ser donos da Zona Franca de Manaus ou como vão controlar o BNDES. As nossas não. Nós somos socialistas. Pensamos em não prejudicar os outros e somos detentores de conhecimentos tradicionais. Existem civilizações antigas sempre contribuindo para a biodiversidade. Essa é a nossa ciência”, disse Tukano, sendo aplaudido pelo público presente à sua palestra.
Para Tukano é necessário que o governo brasileiro proteja os índios e que os insira nas discussões sobre ciência e tecnologia no país. “Precisamos de investimento para salvar a cultura indígena desse país. Eu também sou pesquisador. Hoje eu escrevo e pesquiso na minha língua. Eu estudo com o meu pai e quero que essa pesquisa seja repassada para filhos de outros tukanos, para sermos importantes no cenário nacional”, acrescentou.
O líder encerrou sua participação na 4ª Conferência de C&T dizendo não ser contra o progresso, mas destacou a importância de que o progresso ocorra de forma justa. “Nós somos índios, somos nações indígenas do Brasil, falamos 180 línguas. Quando levamos nossos filhos à escola buscamos tecnologia e muitos de nossos filhos estão cursando universidades. Por isso, a inclusão digital não pode estar longe das populações indígenas. Eu quero que o meu filho sente ao lado dos melhores cientistas brasileiros”.
Saiba mais sobre Álvaro Sampaio
Recebeu educação católica e sofreu pela imposição cultural dos educadores, que o impediram de viver conforme seus costumes. Depois de anos de privações, Álvaro retornou para seu povo e decidiu fundar uma nova aldeia, para proteger e valorizar as tradições dos Tukanos. Assista ao vídeo em que ele conta essa história.
Agência Fapeam
(Com informações do Gestão C&T online e Museu da Pessoa)