Pesquisa propõe utilização de seis tipos de Madeiras da Amazônia


A atividade madeireira é uma das alternativas para o desenvolvimento da Amazônia. Atualmente, cerca de 5% da população economicamente ativa da chamada Amazônia Legal (território que inclui todos os Estados da região Norte, além do Mato Grosso e parte do Estado do Maranhão) trabalha direta ou indiretamente com a atividade madeireira. Preocupado com esse mercado o Engenheiro Florestal do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Alexandre Nascimento de Almeida, desenvolveu a pesquisa intitulada “O grau de substituição de seis espécies da Amazônia no mercado internacional de madeira serrada", que propõe a troca de um tipo de madeira que já está sendo muito explorado como por exemplo o Mongo, por outra com características semelhantes. Nesta entrevista exclusiva para a Agência Fapeam,  Almeida explica como é feita a substituição das madeiras e fala sobre temas como a Floresta em pé.

 

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Agência Fapeam – Como é hoje a produção de madeira na Amazônia?

Alexandre Nascimento de Almeida – Estudos indicam que a maior parte da produção madeireira da região amazônica é considerada predatória ou oriunda de desmatamento e que, da produção dita sustentável, grande parte advém de planos de manejo deficientes. A falta de pessoal treinado e a não utilização de equipamentos adequados resultam em danos excessivamente altos à floresta.

 

Agência Fapeam – Qual a finalidade da sua pesquisa?

AA – A finalidade da pesquisa foi mostrar que o mercado internacional leva em consideração várias características na escolha de uma espécie, além de características físicas. Uma espécie escura pode ser uma boa substituta de uma clara para produzir caixotes, caso não seja um caixote com finalidade decorativa. Uma mesa de mogno pode ser uma boa substituta de uma mesa de Ipê, caso o fator motivador que leve a escolha seja o status de possuir uma mesa com madeira nobre.

 

/Agência Fapeam – Como pode se dá a substituição do uso dessas madeiras, na prática?

AA – A substituição de madeiras se dá conforme a necessidade do mercado e as leis básicas de oferta e demanda. Se a oferta de uma madeira torna-se restrita por qualquer questão o seu preço sobe e os consumidores buscam novas substitutas. Caso não encontrem a madeira como substituta os consumidores procuram outros materiais, talvez que tragam maior poluição, não sejam renováveis e gastem maior energia para serem obtidos como ferro, alumínio etc.

 

Agência Fapeam – Quais os benefícios da substituição?

AA – Essa questão de beneficio depende de cada ponto de vista. Por exemplo, uma interferência governamental que busque restringir a exploração de uma espécie valiosa. Por um lado, alguém pode dizer que tal restrição foi ótima porque possibilitou a valorização de outras espécies pelo mercado o que pode contribuir para uma exploração mais diversificada. Por outro, pode-se dizer que tal restrição pode levar a perda de mercado em outros países onde o comércio de determinada  espécie é menos restrito; que provoque a perda de espaço para outros materiais mais poluentes; ou ainda que a substituição contribui para inviabilizar o manejo florestal; etc. Enfim, o importante é conhecer como o mercado funciona antes de efetivar qualquer interferência.

 

Agência Fapeam – Fale sobre seu trabalho na área florestal?

AA – Meu trabalho se concentra principalmente no entendimento do mercado florestal. Não sou um especialista em temas referentes à Amazônia e minhas pesquisas tem-se concentrado em aspectos relacionados às florestas plantadas.

 

/Agência Fapeam – Qual a importância da Floresta em pé?

AA – As Florestas possuem uma grande importância de ordem ecológica em relação a manutenção dos rios, regulação do clima, controle de erosões etc. A importância ecológica das florestas é tema para um livro. Além da importância ecológica interminável as florestas possuem uma importância econômica muito grande, pois fornecem matéria-prima para produção de papel, produtos madeireiros e não-madeireiros, energia renovável, biotecnologia, etc. Além dos produtos obtidos da floresta tem-se uma relevância econômica cada vez maior no que diz respeito ao ecoturismo e, principalmente, ao seu papel ambiental.

 

Agência Fapeam – Como o senhor vê a exploração ilegal de madeiras na região?

AA – Eu vejo como uma coisa natural e esperada considerando a atual situação da região. A região Amazônica carece de desenvolvimento, talvez seja a região mais pobre do país, só que incentivar o desenvolvimento na região enfrenta além, da carência de recursos, burocracia e corrupção, comum a outros Estados, enfrenta uma pressão ambiental certamente bem acima do normal. Desta forma a região acaba vivendo em uma situação de conflito entre extremos que não termina, tornando impossível qualquer planejamento e investimento de longo prazo em torno de um desenvolvimento sustentável. No fim das contas, quem vem pagando o pato é a floresta, por um desenvolvimento irracional. Estamos longe de alcançar o equilíbrio entre os três pilares da sustentabilidade: social, ambiental e econômico.

 

Agência Fapeam – A legislação ambiental funciona?

AA – O que temos é uma legislação ambientalmente boa para inglês vê, socialmente injusta e economicamente inviável. Deveria ser criada uma estrutura para que a indústria de base florestal defendesse a floresta e não idealistas ambientais descompromissados com o desenvolvimento e insensíveis com a realidade da população local. A indústria de base florestal é capaz de assumir a responsabilidade da geração de riqueza e empregos na região e não a pecuária e agricultura. Infelizmente, são os extremos que influenciam a legislação e possuem recursos, assim, descapitalizada e sem voz, fica difícil para a indústria de base florestal trabalhar de forma legal na região.

 

Marcelo Vasconcelos – Agência Fapeam

Foto 1: Uma mesa de mogno pode substituir uma de Ipê (Divulgação)

Foto 2: Na Amazônia 5% da população vive da exploração da madeira (Divulgação)

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