Arquitetura indígena é marcada por estabilidade, adequação e beleza
A arquitetura dos povos tradicionais da Amazônia, como dos troncos Tukano e Aruak (localizados no Alto Rio Negro), é marcada pela tríade de estabilidade, adequação e beleza. As construções representam a manifestação das visões de mundo. É o que aponta um estudo que vem sendo realizado há dez anos, o qual reestabeleceu o diálogo entre a ciência e os conhecimentos desses povos sobre a arte e ciência de construir.
Conforme o Almir Oliveira, arquiteto e coordenador do projeto, os resultados da pesquisa devem ser interpretados como uma leitura mais simétrica sobre a arquitetura indígena, que podem servir de modelo para novos espaços. Ele explicou que as construções são o resultado de um processo milenar de elaborações simbólicas que vão além da materialidade, pois envolvem as contraposições entre a natureza e a cultura.
Segundo ele, a pesquisa constatou que as manifestações culturais desses povos são relevantes, pois reassumem o lugar privilegiado enquanto reafirmação étnica. Hoje, adquirem o status do que se conhece como arquitetura cerimonial.
Pesquisador associado do Instituto Socioambiental (ISA), Oliveira afirmou que a arquitetura desses povos serve como referência na área etnográfica do Noroeste amazônico. “Analisamos um tipo de casa tradicional chamada de ‘casas aldeias’, que abrigam as representações do mundo vivido por essas culturas”, frisou.
Conhecimento tradicional deve ser valorizado
O resultado da pesquisa serve, de acordo com Oliveira, para refletir na valorização dos conhecimentos tradicionais. “A importância está na afirmação das entidades étnicas expressa na materialidade dessas casas identificadas com seus povos e suas visões de mundo”.
Ele ressaltou, ainda, que depois da pesquisa foram realizadas oficinas nas comunidades para saber quais as verdadeiras necessidades dos povos. Foi assim que nasceram à “Casa da Pimenta” (espaço criado em uma aldeia Baniwa) e à “Casa dos Autores” (onde integrantes Tikuna realizam atividades culturais).
Organização social
De acordo com o pesquisador, esses povos pertencem a mais de vinte etnias distintas que falam os idiomas dos dois troncos linguísticos: Aruak e Tukano. Além das distinções linguísticas, existem diferenças quanto à história, mitologia e organização social. Havendo inclusive diferenças também em relação a essas casas que podem ser identificadas como pertencentes às ordens arquitetônicas específicas.
|Vanessa Leocádio e Luís Mansuêto – Agência Fapeam