Floresta amazônica está absorvendo menos CO2


Um estudo realizado pelo pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Júlio Tota,  apresentado como tese de doutorado e realizado com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM) revela que a floresta amazônica está absorvendo menos gás carbônico (CO2) do que o esperado.

 

Intitulado “Estudo da advecção horizontal de CO2 em florestas na Amazônia e sua influência no balanço de Carbono”, estudo, realizado entre 2003 e 2005, desmistifica o que boa parte da comunidade científica internacional acredita.

 

Julio Tota afirmou que o resultado partiu de uma análise comparativa por monitoramento entre a atmosfera da região amazônica e as trocas gasosas. “O trabalho foi realizado por duas torres do Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA) e monitoramento do equipamento”, explicou.

 

/O pesquisador fixou as torres em dois pontos distintos na região. O primeiro na Floresta Nacional do Tapajós, em Santarém (PA), e o segundo na Reserva Biológica do Cuieiras, em Manaus. “Nós trabalhamos o Método de Medida Direta, ou seja, medir os ‘fluxos verticais’ de vapor d’água, energia e gás carbônico entre a floresta e a atmosfera. Medimos 20 vezes por 2 segundos a velocidade do vento e do carbono nas torres de 60 metros”, contou.

 

Tota disse ainda que o método conhecido como “Covariância de Vórtices Turbulentos”, usado pelas torres do LBA, não é tão eficaz para esse tipo de análise. Segundo ele, o método é muito antigo e possui duas variáveis, o fluxo vertical turbulento e o fluxo de armazenamento abaixo do nível de medida, localizado acima da floresta. “Os dados gerados não são suficientemente precisos para definir exatamente o saldo resultante médio entre a absorção e a liberação de gás carbônico por parte da floresta”, explicou.

 

Modo brasileiro

Os equipamentos doados pelo cientista David Fitzjarrald, da State University of New York (SUNY), foram batizados por Tota de “Draino” (no português, "Dreno"), termo para definir “drenagem de ar”. Mas todo o trabalho de desenho e montagem de equipamentos foi desenvolvido por Tota. “Eu tive que adaptar todo o material para a nossa realidade”, disse.

 

O trabalho do pesquisador consistiu na instalação, ao redor das torres, de equipamentos complementares para permitir monitorar o chamado “escoamento horizontal” do carbono. ”Nesse processo, podemos identificar o escoamento horizontal de carbono, pois o vento transporta grandes quantidades de carbono para longe da área de medição das torres, provocando a perda de CO2”. Ele ressaltou que, ao medir o processo de transporte, juntamente com os dados coletados tradicionalmente, o riscos de erro são reduzidos”.

 

De acordo com estudos de pesquisadores do mundo todo, a floresta amazônica consome de três a sete toneladas de CO2 por hectare ao ano. “Mas não é correto afirmar isso. A pesquisa está aí para comprovar”, avaliou.

 

O trabalho do pesquisador rendeu o primeiro título de doutorado no âmbito do Programa de Pós-graduação em Clima e Ambiente, criado pelo Inpa e pela Universidade do Estado do Amazonas. A pesquisa começou 2003 em Santarém, que possui relevo relativamente suave e mais homogêneo em relação a Manaus. Apesar disso, o experimento mostrou a existência de fluxos horizontais do gás carbônico.

 

Em 2005, o resultado da pesquisa serviu para demonstrar que a mesma metodologia de medidas para Santarém não foram adequadas e suficientes para estimar quantitativamente os fluxos horizontais em Manaus. Ele disse que, em Manaus, existe pouca turbulência à noite, ficando insuficiente a medição. “À noite, a floresta perde energia no topo e ocorre o resfriamento do ar, que fica mais pesado do que deveria e desce para as árvores mais baixas”, revelou.

 

Novo Projeto

O resultado da pesquisa deu tão certo que a Alemanha já demonstrou interesse em financiar um projeto nos mesmos moldes em Balbina (Presidente Figueiredo-AM), com o objetivo de montar uma torre de 300 metros em operação durante cinco anos. “Depois os equipamentos vão funcionar de forma alternada, de três em três anos. A ideia é ficar 20 ou 30 anos em operação”.  O pesquisador vai ficar à frente da coordenação do projeto.

 

Fique por dentro 

O dióxido de carbono, também conhecido como gás carbônico, é uma substância química formada por dois átomos de oxigênio e um de carbono. Sua fórmula química é CO2.

É um gás importante para o reino vegetal, pois é essencial na realização do processo de fotossíntese das plantas (processo pelo qual as plantas transformam a energia solar em energia química).

Este gás é liberado no processo de respiração (na expiração) dos seres humanos e também na queima dos combustíveis fósseis (gasolina, diesel, querosene, carvão mineral e vegetal). A grande quantidade de dióxido de carbono na atmosfera é prejudicial ao planeta, pois ocasiona o efeito estufa e, por consequência, o aquecimento global.

 

 

Vanessa Leocádio – Agência Fapeam
Com dados do Inpa

Deixe um novo comentário

O seu endereço de email não será publicado Campos obrigatórios são marcados *