Pesquisa identifica plantas que podem ser usadas contra malária
Ao contrário do que muitos pensam, o conhecimento popular pode contribuir para a produção do conhecimento científico. A afirmação é do doutor em Agronomia e professor da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) Ari Freitas Hidalgo, que realizou estudos em três municípios da Calha do Rio Madeira para verificar se o uso de plantas medicinais influencia no tratamento de doenças como a malária e males associados.
O projeto “Levantamento das espécies vegetais usadas para o tratamento da malária e males associados na Calha do Rio Madeira” faz parte do Programa Primeiro Projetos (PPP), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM). A pesquisa recebeu aportes financeiros para a execução no período de 2004 a 2007.
Segundo Hidalgo, os estudos realizados nos municípios de Humaitá, Manicoré e Nova Olinda do Norte comprovaram que o conhecimento dos ribeirinhos acerca do uso de certas plantas medicinais ajuda a eliminar os vetores da doença. “O objetivo da pesquisa era conversar com os moradores da região e verificar quais plantas eles usavam para tratar a malária. Fizemos o levantamento e a coleta das plantas para testes futuros para saber se elas realmente funcionam”, afirmou.
De acordo com o pesquisador, em cada local visitado era feita a identificação das pessoas que trabalhavam com as plantas e, por meio da Fundação de Vigilância em Saúde (FVS), eram verificados os principais pontos de foco da malária.
No total, foram encontradas 55 espécies pertencentes a 30 famílias diferentes. Entre elas destacam-se as Asteraceas (como o girassol, o dente-de-leão e o carrapicho arbustivo) e as Apocenaceas (como a carapanaúba), que se revelaram promissoras no tratamento da moléstia.
Após a coleta, Hidalgo afirmou que as plantas são levadas para o laboratório, onde são secadas e trituradas até formar um pó, de onde é extraído o princípio ativo para realizar as análises. “Como não podemos experimentar em pessoas, pegamos os extratos e aplicamos em uma espécie de camarão, os Artemisia annua, para testar o potencial bioativo das substâncias”, explicou.
O saber popular e comprometimento social
Segundo o pesquisador, o conhecimento popular sobre a funcionalidade das plantas é muito importante para o estudo, principalmente o acumulado pelos mais idosos. Contudo, esse saber está fadado ao desaparecimento. “Como o conhecimento é passado entre as gerações de forma oral, muita informação acaba sendo perdida. O problema é aumentado porque os mais jovens não têm interesse no conhecimento deixado pelos idosos”, comentou.
Ele contou ainda que as plantas são usadas no controle da malária e no tratamento de doenças relacionadas a ela, como febres, hepatites, anemias, problemas renais e outras. O consumo é via oral por meio de chá feito das raízes, caules e folhas, que é tomado, geralmente, três vezes ao dia.
Com o resultado, o pesquisador pretender transformar todo o material em uma cartilha para alertar a comunidade sobre as formas de contaminação da malária e maneiras de cultivar as plantas a fim de que elas não sumam da natureza.
Kelly Melo e Carlos Fábio Guimarães – Agência Fapeam