Com uso da internet, índios combatem desmatamento na Amazônia


Para os índios Suruí, que vivem na reserva indígena Sete de Setembro, na divisa entre os Estados de Rondônia e Acre, levar uma vida tradicional na floresta não é incongruente com as modernas tecnologias – ao contrário, uma fortalece a outra.

/Por iniciativa do líder indígena Almir Surui, de 35 anos, a relação que os Suruí têm desenvolvido com a internet, essa "ferramenta dos brancos", é uma inovadora tentativa de fazer com que o contato reforce – ao invés de corromper – a cultura e o modo de vida nativos. "Nossa aliança com a internet é muito importante porque facilita e possibilita que a comunicação fortaleça politicamente nosso povo, que pode falar da ameaça da floresta, do desenvolvimento da floresta e da valorização cultural do povo Suruí”, disse.

A ideia de usar a internet para valorizar a cultura e combater o desmatamento nasceu em 2007, quando Almir teve o primeiro contato com o programa Google Earth (que possibilita o acesso a imagens de satélite de todo o globo terrestre) e fez o que todo mundo faz: procurou ver sua casa do satélite.

A vista aérea da reserva Sete de Setembro, um polígono verde de 248 mil hectares no centro de um entorno quase totalmente desmatado, representado em cor marrom, deixou o líder chocado, mas, ao mesmo tempo, ele percebeu que a mesma internet que expunha os problemas também poderia representar uma solução.

"Eu disse ao Vasco [Van Roosmalen, da ONG Equipe de Conservação da Amazônia, ACT-Brasil, parceira dos indígenas em diversos projetos] que queria um encontro com o Google, e ele achava que era impossível, então eu  insisti e consegui uma reunião de 30 minutos. Passamos três horas, de tão interessados que eles ficaram."

Menina dos olhos

/Hoje, a parceria do Google Outreach – o braço social do Google – com os Suruí é uma espécie de menina dos olhos da companhia. Ao saber dessa reportagem da BBC Brasil, a diretora mundial do projeto, Rebecca Moore, fez questão de colaborar, por meio de uma videoconferência da sede da empresa em San Francisco (EUA).

"Pelo chefe Almir, tudo", brincou Rebecca, antes do início da entrevista. Ela diz que se convenceu pela descrição "categórica e potente" que Almir fez da realidade amazônica.

"Ouvimos histórias sobre as ameaças representadas por madeireiras ilegais e mineradoras, sobre pessoas assassinadas, sobre o fato de existir inclusive uma recompensa pela cabeça do próprio Almir, por liderar seu povo e resistir às madeireiras", contou.

"Ficou claro que ele tem uma ideia muito sofisticada de como a tecnologia moderna pode ajudar os povos tradicionais a se fortalecer, fortalecer sua cultura, proteger e preservar suas terras, e preencher uma lacuna entre modos tradicionais e modernos."

Suruí on-line

O primeiro passo da parceria entre a gigante de internet e a associação indígena Metareilá, firmado em 2008, foi a disponibilização do chamado "mapa cultural" dos Suruí, que antes só existia em papel, no Google Earth.

Feito a partir de uma metodologia que a ACT-Brasil cedeu aos indígenas, o mapa mostra, por exemplo, os locais onde se desenrolaram batalhas históricas dos Suruí contra outras tribos ou contra as expedições não indígenas.

Em outro clique, o usuário fica sabendo que, para os Suruí, o canto do tucano pressagia as más notícias, e que as penas do animal são utilizadas por guerreiros durante a celebração do Mapimaim, em homenagem à criação do mundo.

Como parte da parceria, a empresa providenciou treinamento de informática para cerca de 20 indígenas na sede da associação Metareilá, em Cacoal, onde fica a reserva.

O gerente de produtos da empresa, Marcelo Quintella, um dos que providenciaram o treinamento na ocasião, diz que se surpreendeu com o nível de familiaridade de muitos jovens indígenas com as novas tecnologias.

Combate ao desmatamento

Agora, os Suruí querem embarcar no mais ambicioso objetivo da "parceria", como diz Almir, com a internet: o combate ao desmatamento da reserva Sete de Setembro, em tempo real.

Eles aguardam a chegada dos primeiros aparelhos smartphones equipados com o sistema operacional Android, da Google, que lhes permitirá tirar fotografar imagens do desmatamento em tempo real, postar na internet e enviar para o mundo e as autoridades competentes.

"Não é somente eles dizendo que existe (o desmatamento), é todo mundo vendo que existe. O poder de convencimento muda", avaliou Quintella.

A aldeia de Lapetanha, a mais próxima de Cacoal, a 500 km de Porto Velho, ainda não tem internet.

Mas os dois computadores na pequena sala que funciona como ponto de cultura servem para que os jovens indígenas que estudam na escola da aldeia comecem desde cedo a se interessar pela tecnologia e pelas possibilidades de acesso à informação que ela abre.

Almir diz que os planos são ter a rede por meio de uma antena a ser instalada até o fim do ano. Isto pouparia o trabalho de ir até Cacoal para acessar a internet e facilitaria a comunicação com outras partes do mundo – essa que ele diz "fortalecer politicamente" os Suruí.

"Nossos arcos e flechas estão guardados em casa, cada um tem seu arco e flecha guardado em casa. Mas, ao mesmo tempo, a gente está usando notebooks", disse ele, e para, tirando um pequeno telefone do bolso: "iPhone…"

(Fotos Divulgação)

Agência Fapeam

(Com informações da Agência BBC)

Deixe um novo comentário

O seu endereço de email não será publicado Campos obrigatórios são marcados *