Abertura de mercado provocou mudança no perfil do trabalhador amazonense
Quatorze anos se passaram desde que o governo Collor deu início ao processo de abertura comercial no Brasil e a Zona Franca de Manaus sofreu um grave golpe, provocando a redução de postos de trabalhos, especialmente os que exigiam baixa qualificação, e mudanças no perfil do trabalhador. Dados gerados nesse período começam a ser reunidos e analisados por pesquisadores locais, interessados em suprir a escassez de informações sobre o mercado, incentivando a formulação de políticas públicas eficazes para a geração de emprego e renda.
Entre as pesquisas está a de Rogério da Cruz Gonçalves, que desenvolveu o estudo Análise do Mercado de Trabalho Urbano do Estado do Amazonas, no período de 1993 a 2003, no Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam).
O ineditismo do trabalho está no fato de ele reunir e organizar dados, além de construir indicadores do mercado de trabalho urbano no Estado do Amazonas, no período de 1993 a 2003. Nos anos 90, a abertura econômica do mercado brasileiro à concorrência internacional resultou em crescentes importações, antes restritas a modelos como o da ZFM.
Gonçalves também apresenta resultados sobre a inserção precoce e precária ao mercado de trabalho, a taxa de atividade da População Economicamente Ativa (PIA), levando em conta a idade e a instrução, além da participação da mulher neste novo contexto globalizado.
“Os resultados obtidos ratificam as alterações ocorridas na economia brasileira, decorrentes da abertura comercial, no início dos anos 90, com efeitos diretos sobre o mercado de trabalho urbano do Estado do Amazonas”, explica Gonçalves.
Segundo ele, ter um panorama desses dados é fundamental para formular novas políticas públicas de geração de emprego. “A escassez de informações aliada a interpretações equivocadas das fontes de dados a respeito do mercado de trabalho (formal e informal), na maioria das vezes é a causa da falta de políticas para geração de emprego, ou implementação de outras tantas, ineficazes, que não atingem seus objetivos”, enfatiza o pesquisador.
Abertura para mulher
O novo cenário econômico brasileiro, incluído o Amazonas, decorrente da abertura comercial no início dos anos 90, alterou significativamente o mercado de trabalho no país. No Estado, as empresas instaladas na área urbana de Manaus adotaram modelos de produção fundamentados na substituição de capital humano por capital físico, e adensamento de verticalização da cadeia produtiva.
O exame da taxa de atividade PIA urbana amazonense, levando em conta a idade, demonstrou que, em 1993, quase a metade dos indivíduos com idade entre 15 e 17 anos, já participava do mercado de trabalho. Dez anos depois, esta participação caiu para menos de 29%.
O estudo aponta ainda uma possível causa para essa queda, mas também conseqüência, devido às transformações sociais ocorridas nesse período. “Essa redução veio acompanhada de um aumento de mais de 14% na matrícula escolar no Estado”.
Outra característica do mercado de trabalho urbano no Amazonas entre 1993 e 2003 era o predomínio de homens. Essa realidade mudou gradativamente durante esse período, com a elevação da participação da mulher. O número de mulheres ocupadas nesse período cresceu, aproximadamente, 49,5%, dois pontos acima do crescimento observado pela população masculina.
A pesquisa também confirma que trabalhadores com maior instrução passaram a ter mais chances de trabalho. “A análise da participação do trabalhador levando-se em conta a instrução revelou que houve queda na participação da PEA entre todos os níveis de escolaridade. Contudo, verificou-se que, em 2003, a partir de quatro anos de instrução, quanto mais anos de estudos a PIA possuísse, maior a sua participação no mercado de trabalho urbano no Estado do Amazonas”, revela o estudo.