Adubo orgânico é saída para melhorar produção agrícola de subsistência


Pequenos agricultores do Amazonas agora têm uma nova ferramenta para ajudar a melhorar a produção a partir do adubo orgânico encontrado em suas propriedades. Em uma linguagem simples e com ilustrações, o engenheiro agrônomo Luiz Augusto Gomes de Souza, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), produziu uma cartilha com dez espécies de leguminosas que funcionam como ingredientes para se produzir composto orgânico ecologicamente correto.

Denominada “Leguminosas para Adubação Verde na Terra Firme e na Várzea da Amazônia Central", a cartilha é o resultado de um levantamento das leguminosas existentes nas pequenas propriedades agrícolas na estrada que liga Manacapuru a Novo Airão (área de terra firme) e na área de várzea denominada Paraná do Supiá, no município de Manacapuru (localizado a 68 km de Manaus).

/Os testes para averiguar a eficiência do composto orgânico à base de plantas foram feitos na segunda fase e apresentados como resultado preliminar do projeto “Práticas Agroecológicas para Produção Sustentável de alimentos, validadas para agrossistemas familiares do Estado do Amazonas”. A pesquisa foi coordenada por Rosely Coelho, do Inpa, e contou com aporte financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM) por meio do Programa Amazonas de Apoio à Pesquisa em Políticas Públicas em Áreas Estratégicas (POPPE/FAPEAM).

O pesquisador explicou que nos trabalhos de campo, realizados no ano de 2008, foram coletadas 37 espécies de plantas em dez propriedades e estas foram avaliadas quanto ao conteúdo de nutrientes que possuíam em suas folhas.

Doutor em Botânica, Souza contou que a seleção das melhores espécies próprias para adubação se deu com base nas informações registradas para o hábito de crescimento, frequência, produção de biomassa, conteúdo de nutrientes e capacidade de rebrotar.

“As espécies foram selecionadas e denominadas da maneira como são conhecidas pela população local, por exemplo, abotinha, faveira-camuzé, ingá-cipó, mulungu, malição, mata-pasto, gipooca, papo-de-mutum, feijão miúdo e feijão peludo”, disse.

Os testes com as espécies ajudaram, por exemplo, a aumentar o número de folhas e o peso total do chumaço da alface plantada por alguns produtores. Isso aconteceu porque o adubo melhora as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo (eleva a quantidade de nutrientes e a porosidade da terra). Consequentemente, a planta bem nutrida resiste a pragas, produz mais cedo e com qualidade.

A correção da cartilha contou com a colaboração de pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Ocidental  da Amazônia e da Universidade do Estado do Amazonas (UEA). 

Mudança de atitude

/Há uma tendência nos produtores, segundo Souza, de apelar para o uso de agrotóxicos, por serem uma opção mais rápida. Ele disse que, em alguns momentos, presenciou a aplicação de herbicida para cortar o mato. “Contudo, o mato poderia ser roçado e aproveitado para fazer composto orgânico”, comentou e complementou que a cartilha procura educar e mostrar alternativas que trazem benefícios para produção e consumo de hortaliças. 

Ele salientou que há uma necessidade de se aplicarem práticas agrícolas que respeitem princípios ecológicos e que valorizem a ciclagem de nutrientes, o que vem sendo feito por meio das pesquisas participativas do POPPE/FAPEAM.

Conforme Souza, antes o caminho era muito longo para que os resultados das pesquisas chegassem às comunidades. Ele disse que hoje o percurso foi diminuído com as ações desenvolvidas pela FAPEAM no Amazonas. 

“Por muito tempo, as instituições científicas realizaram pesquisas em suas estações experimentais e laboratórios, e  os resultados ficavam dentro dos próprios muros e não eram divulgados. Todavia, hoje temos uma nova realidade”, enfatizou.

Próximos projetos

Hoje, o grupo de pesquisa está atuando no município de Presidente Figueiredo em parceria com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). No local estão sendo realizados os mesmos estudos, mas em área de terra firme. A justificativa é que as principais limitações de fertilidades encontram-se nesse tipo de solo, pois é mais ácido e possui pouca disponibilidade de nutrientes.

 

Sobre o Poppe

 

O Programa Amazonas de Apoio à Pesquisa em Políticas Públicas em Áreas Estratégicas consiste em apoiar, com recursos financeiros, atividades de pesquisa induzida, que possam beneficiar a formulação e a implementação de produtos, processos e inovações tecnológicas vinculados às Políticas Públicas do Governo do Estado do Amazonas. Os projetos são coordenados por pesquisadores vinculados às Instituições de Pesquisa e Ensino Superior (Ipes) gratuitas sediadas no Estado Amazonas.

 

Camila Carvalho e Luís Mansuêto – Agência Fapeam

 Foto1: Autor da cartilha, o pesquisador Luiz Augusto Gomes de Souza (Foto: Giovanna Consentini/Ag.FAPEAM)

 

Deixe um novo comentário

O seu endereço de email não será publicado Campos obrigatórios são marcados *