Agenda científica é saída para índios, dizem pesquisadores
A tônica das discussões, durante a abertura da II oficina: Povos Indígenas – o INPA e a comunidade, foi de que é fundamental a elaboração de uma agenda científica voltada para as demandas das comunidades. Além disso, a mesma deve ser elaborada em nível regional, com o apoio dos próprios indígenas e em parceria com as instituições de ensino e pesquisa da região. A oficina acontece no Bosque da Ciência do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e encerra-se amanhã (18/05).
“A agenda científica é uma preocupação da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) e da Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia (SECT), que já vem discutindo o assunto desde 2003. Queremos projetos específicos para as comunidades indígenas. Um passo foi dado nesse sentido foi dado por meio do edital Jovem Cientista Amazônida”, disse Elizabeth Brock, representante da Fapeam.
O coordenador de extensão do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Carlos Bueno, explicou que a junção do conhecimento científico com o tradicional é uma das vias para o desenvolvimento sustentável das comunidades tradicionais. Ele falou que a sociedade deve ter acesso ao conhecimento, valorizá-lo e pagar por ele. “É uma discussão que já sendo realizado em nível de ministério: como popularizar o saber, qual o impacto dos trabalhos dos alunos de pós-graduação do Instituto no desenvolvimento sócio-econômico da região”, exemplificou.
Segundo a representante da SECT, Fabiana Souza, para a elaboração de uma agenda científica séria é fundamental agregar os conhecimentos das populações tradicionais e dos pesquisadores. Uma das alternativas foi à elaboração do edital “Programa Amazonas de Apoio à Pesquisa em Políticas Públicas em Áreas Estratégicas (PPOPE)”, o qual tem ajudado no diálogo com as populações tradicionais. Ela também disse que, ao se trabalhar com biodiversidade e conhecimentos tradicionais, deve-se acabar com o pensamento de que o pesquisador é biopirata. Para isso, ela tem participado de reuniões no Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (CGEN) para tentar mudar essa visão.
O diretor-presidente da Fundação Estadual dos Povos Indígenas (FEPI), Bonifácio José Baniwa, disse que o diálogo com as instituições de ensino e pesquisa foi conseguido a duras penas. Isso porque antes de se chegar no nível atual foram feitas várias tentativas para se aproximar da comunidade científica, ainda na época de Marcos Barros. “Queríamos entender o que os pesquisadores desenvolviam. Até então, não havia trabalhos, específicos, voltados às demandas das comunidades indígenas. O que foi fundamental porque, nem sempre, a cultura e o pensamento dos cientistas refletem o anseio dos grupos indígenas e da sociedade”, alertou.
Baniwa disse que o trabalho de convencimento dos índios para colaborarem com as propostas dos pesquisadores foi complicado. Contudo, como eles foram envolvidos em todas as etapas de discussão dos projetos, a parceria tornou-se viável, pois os trabalhos passaram a ser também das comunidades indígenas.
“O objetivo da parceria entre comunidades indígenas e instituições de pesquisa é a formulação de políticas públicas próximas da nossa realidade”, ressaltou. Ainda, segundo Baniwa, há os entraves burocráticos com a Fundação Nacional do Índio (Funai) para autorização das propostas de trabalho e em relação à repartição dos benefícios gerados pelo conhecimento tradicional, o qual é regulado pelo CGEN.
Já o Secretário Executivo da Secretaria de Desenvolvimento Sustentável, Neliton Marques da Silva, enfatizou que é justo se ter um espaço institucional para debater os problemas indígenas. O secretário destacou que as populações não podem ser meros expectadores na formulação da agenda científica. Isso porque é fundamental o reconhecimento pelo legado das comunidades indígenas. “Esse reconhecimento é confirmado pela presença do Bonifácio na diretoria da Fepi. O INPA, a UEA e a UFAM têm um papel importante na construção e na apresentação de propostas para a construção da agenda”, afirmou.
Ascom – INPA.