Amazonas amplia ações contra a tuberculose


17/03/2011 – Apontada no Brasil como uma das doenças negligenciadas, a tuberculose vem preocupando especialistas, pesquisadores e médicos, que buscam mudar os índices de mortes provocadas pela doença no País. No Estado do Amazonas, a situação também preocupa, porém são grandes os esforços para identificar controlar e entender a dinâmica da doença que coloca o Estado entre os três onde há o maior índice de ocorrência e morte provocadas pelo bacilo causador da tuberculose.

Para chamar a atenção da sociedade e autoridades para o problema, a Fundação de Medicina Tropical (FMTAM) promoveu em novembro o primeiro Simpósio Estadual de Tuberculose, onde foram apresentados os mais recentes números da doença.

Segundo dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan/FMT), de janeiro a outubro de 2010, foram notificados 1.762 casos de tuberculose no Amazonas, contra 1859 no mesmo período em 2009. De acordo com a coordenadora estadual de controle a tuberculose, enfermeira Marlúcia Garrido, a leve queda no número de notificações não reflete uma diminuição real de casos. “O número ainda pode aumentar devido ao atraso do repasse de informações de alguns municípios. Ao avaliarmos o histórico da doença em nosso Estado, verificamos que, em geral, a situação é a mesma nos últimos 10 a 15 anos”, afirmou.

Nova realidade

src=https://www.fapeam.am.gov.br/arquivos/imagens/imgeditor/talharisss.jpgDe acordo com o diretor-presidente da FMT, Dr. Sinésio Talhari, o que chama a atenção é a quantidade de novos casos detectados no Estado, cerca de 311 de janeiro a novembro, ou seja, em média quase um novo caso de tuberculose, a cada dia. Para tentar entender esses números, é necessário conhecer os fatores que elevam os índices, como a baixa imunidade dos pacientes portadores da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids), a situação socioeconômica dos infectados e a dinâmica do tratamento, muitas vezes, descontinuado pelos pacientes.“Conhecida como uma infecção causada por um micro-organismo chamado Mycobacterium tuberculosis, também conhecido como Bacilo de Koch, a tuberculose geralmente  afeta os pulmões, mas pode também atingirvários outros órgãos do corpo humano, mesmo sem causar dano pulmonar”, disse.

Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), é possível que cerca de um terço da população mundial esteja infectada com o bacilo da tuberculose. Porém, o desenvolvimento da doença é determinado pela condição social das pessoas. “O bacilo só se desenvolve em pessoas cuja imunidade esteja baixa, portanto, condições de vida e hábitos alimentares influenciam nesse processo. As pessoas infectadas por HIV são ainda mais suscetíveis a desenvolver a doença. A tuberculose pulmonar afeta principalmente as classes economicamente desfavorecidas”, afirmou Marlúcia Garrido.

Tratamento

Outro dado apresentado pela coordenadora aponta que o diagnóstico tardio e o abandono do tratamento, feito hoje a partir dos medicamentos Rifampicina e Isoniaziada em comprimidos, são problemas que agravam a disseminação da doença. “Se a pessoa não procura um médico imediatamente, ela vai transmitir o bacilo até os primeiros quinze dias do início do tratamento, ou seja, quanto mais tempo demorar, maior o período de contaminação de novas pessoas”, explicou.

A tuberculose é uma doença que tem cura. O esquema básico de tratamento tem duração de seis meses, entretanto, Marlúcia alerta para a necessidade de se completar todos os procedimentos. “É um tratamento extenso, dividido em duas fases, mas que se não for concluído pode causar a resistência do bacilo no organismo e a necessidade de tratamentos mais fortes, com medicamentos injetáveis e, nestes casos, sem a garantia de cura”, alertou, destacando ainda que esta é justamente a maior causa da necessidade de internação de pacientes na FMT.

No Amazonas, os casos de tuberculose multirresistente (TBMR) é algo que preocupa, pois saiu de zero em 2005 para 11 em 2009, acumulando nesse período 26 casos confirmados.

PPSUS

Uma das saídas para mudar esse quadro no Amazonas foi a implementação em 2004, pela FAPEAM em parceria com o  Ministério da Saúde (MS) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/MCT), do Programa Pesquisa para o SUS: Gestão Compartilhada em Saúde (PPSUS) no Amazonas. No último edital do programa, em 2009, foi destinado R$ 1 milhão, exclusivamente para financiar pesquisas sobre a tuberculose.

O programa tem por objetivo contribuir para o desenvolvimento de pesquisas que auxiliem na resolução dos problemas prioritários de saúde e para o fortalecimento da gestão do SUS no Estado.

src=https://www.fapeam.am.gov.br/arquivos/imagens/imgeditor/tuberccccc22.jpgA Fundação de Medicina Tropical do Amazonas (FMT-AM) foi a instituição com maior número de projetos aprovados (11), seguida pela Fundação Oswaldo Cruz (5), Universidade Federal do Amazonas (5), Fundação de Hematologia e Hemoterapia do Estado do Amazonas (4), Instituto Nacional de Pesquisas na Amazônia (3) e Fundação Alfredo da Matta (1). Segundo o diretor-presidente da FAPEAM, Odenildo Sena, o número de projetos submetidos e aprovados para o PPSUS no último edital superou as expectativas e demonstrou a importância que as instituições de pesquisa do Estado dão aos diversos problemas de saúde existentes na região, em especial a tuberculose. “A necessidade de pesquisas nessa área é tão importante que foi destinado cerca de R$ 1 milhão somente para pesquisas sobre tuberculose, observou.

Entre os projetos aprovados dois da FMT já apresentam resultados: o “Estudo de Multirresistência Primária aos tuberculostáticos em Manaus e a “Avaliação da magnitude da resistência às drogas tuberculostáticas em pacientes  com HIV/Aids com tuberculose no Estado do Amazonas”, ambos desenvolvidos como tese de doutorado pelas pesquisadoras Marlúcia Garrido e Lucilaide Santos.

Pesquisa em rede

Outra ação importante para o combate ao avanço da tuberculose no Amazonas deve ter início em 2011. Trata-se do Programa Temático Conjunto em Diagnóstico da Tuberculose, que conta com uma parceria entre a Fapeam e as FAPs do Rio de Janeiro (Faperj) e de Minas Gerais (Fapemig), que prevê recursos iniciais de, aproximadamente, R$ 6 milhões.

O programa vai funcionar como uma rede para o desenvolvimento de pesquisas cooperativas entre os três Estados para que os esforços sejam compartilhados de forma a gerar resultados mais promissores e em um menor espaço de tempo.

A rede contará com a participação do infectologista Dr. Reynaldo Dietze, do Núcleo de Doenças Infecciosas da Universidade Federal do Espírito Santo, um dos maiores especialistas sobre tuberculose no País. “Precisamos promover uma troca de informações sobre os dados da tuberculose aqui no Amazonas no que se refere ao diagnóstico e tratamento da doença, além de melhorar o acompanhamento dos pacientes para diminuir a taxa de abandono e, por fim, controlar a doença. São estes aspectos que vamos trabalhar em rede”, informou Dietze.

Para o diretor-presidente da Fapemig, Mario Neto, essa articulação em formato de rede é recente, mas objetiva, a exemplo de outras iniciativas desse porte entre as FAPs. “O programa vai envolver pesquisas que carecem de uma articulação entre pesquisadores de alto nível que já atuam nesse campo nos Estados  participantes, Amazonas, Rio de janeiro e Minas Gerais”, explicou.

Os três Estados envolvidos inicialmente no programa figuram no País entre os que mais se destacam em incidência de casos de tuberculose, por sua vez, os resultados obtidos a partir das pesquisas desenvolvidas serão aplicados em todo o território nacional beneficiando toda a sociedade.

 

Ulysses Varela – Agência FAPEAM

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