Amazonas avança em projetos científicos na temática indígena


19/04/2012 – Várias são as formas que os povos tradicionais da Amazônia utilizam para expressar suas culturas, seus saberes e crenças. Esse conhecimento que ultrapassa os limites do grupo por meio das gerações é objeto de estudo constante de antropólogos e outros pesquisadores.

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Nesse sentido, algumas políticas públicas têm propiciado aos indígenas a inserção em instituições de ensino e pesquisa, e isso nos apresenta uma nova realidade. Desse modo, o conhecimento que antes era restrito aos grupos indígenas passa, então, a ser transmitido à sociedade por meio de estudos e pesquisas agora realizadas por eles.

“Hoje a sociedade está passando a dar o devido valor aos povos indígenas, visto que seus conhecimentos agora passam a ser significativos de modo que estão gerando pesquisas. Por outro lado, ainda tem o lado dramático, ainda são tratados às vezes sem respeito e isso ainda tem que ser bastante debatido”, frisou a doutora em Etnologia Indígena, Deise Lucy Montardo.

O Governo do Amazonas, via Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM), tem atuado diretamente na inclusão social pela ciência e na valorização e revitalização de conhecimentos dos povos tradicionais, por meio de incentivos a pesquisadores, na busca de soluções científicas e tecnológicas a problemas comuns. No acumulado de 2003 a 2011, foram investidos quase R$ 5 milhões em projetos de pesquisa voltados para estudos sobre os povos indígenas. Ao todo, foram 314 bolsas e 59 projetos.

Os recursos da FAPEAM foram viabilizados por meio de programas como o Jovem Cientista Amazônida (JCA), o Programa de Apoio à Iniciação Científica Indígena do Amazonas (Paic Indígena), Programa Amazonas em Pesquisa em Políticas Públicas em Áreas Estratégicas (Ppope), Programa Integrado de Pesquisa e Inovação Tecnológica (Pipt), Programa de Desenvolvimento Científico Regional (DCR), Programa de Ciência e Tecnologia para o Amazonas Verde, Programa de Pesquisa para SUS: Gestão Compartilhada em Saúde (PPSUS), Programa Ciência na Escola (PCE), Programa Simples Soluções (PSS), Programa de Infraestrutura para Jovens Pesquisadores – Programa Primeiros Projetos (PPP) e Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) – Brasil Plural.

Formação acadêmica é realidade para indígenas

Com o avanço da pesquisa nessa área, o cenário tornou-se propício para a formação acadêmica de indígenas no Estado. Um exemplo, foi a recente titulação do primeiro mestre da etnia Tukano no Amazonas, João Rivelino Rezende Barreto, com sua dissertação ´A formação e transformação de coletivos indígenas no Noroeste Amazônico: do mito à sociologia das comunidades’. Barreto é o primeiro indígena a concluir uma pós-graduação pelo curso de Antropologia da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).

O resultado acadêmico é voltado aos saberes tradicionais da comunidade São Domingos Sávio, localizada às margens do Rio Tiquié, Alto Rio Negro, no município de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas. E, segundo os avaliadores, vai contribuir para o conhecimento dos saberes da etnia Tukano voltados à questão científica. A pesquisa foi apoiada pelo INCT Brasil Plural/FAPEAM-CNPq.

O indígena apresentou duas teorias do conhecimento Tukano para a banca pública na Ufam. A primeira a teoria Úukuse, descreve o contexto mitológico Tukano, o mito sobre a formação cosmológica da terra, da água e toda a formação da natureza. A segunda teoria Muropau Uusetise fala sobre o contexto sociológico da formação dos grupos Tukano.

“Essa segunda teoria está ligada à anterior, mas fala como se formaram os grupos Tukano, como aconteceu, onde surgiram e das diferenças de um para o outro”, explicou o indígena.

O objetivo, segundo ele, é apresentar os pensamentos e conhecimentos do povo Tukano para a sociedade e realizar, a partir desse pensamento, um diálogo com a comunidade científica.

Diversidade étnica

Deise Montardo, que é coordenadora do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) – Brasil Plural, informou que a Região Norte detém mais de 60 línguas indígenas. “Isso é bastante significativo para humanidade e temos o dever de respeitar. O INCT Brasil Plural trabalha com várias pesquisas de extensão que buscam a formação do indígena. Transmitir o conhecimento os saberes culturais, valorizar o intercâmbio de saberes é por esse caminho que vamos melhorar o pensamento da sociedade”, argumentou. O INCT Brasil Plural conta com o aporte de R$ 600 mil financiados pela FAPEAM, em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Montardo disse que a cultura indígena é bastante variada, a começar pelo seu modo de prever os acontecimentos na terra. Ao longo dos anos, as nações indígenas verificam as constelações à procura de respostas. “Cada constelação possui um nome, sua marcação é feita e relacionada à época do ano, ocorrendo assim à prevenção dos eventos metrológicos”, informou.

Por outro lado, devemos compreender a relação entre saúde e condições de vida das populações. A atual situação não é a das melhores, ainda faltam ações visando à melhoria nas áreas de saúde. “A situação de vida e saúde do índio hoje varia muito de região para região. Há avanços na área de saúde, mas ainda predomina a precariedade. O índio hoje morre de fome e de sede, mas ao mesmo tempo em que isso acontece podemos perceber que ele mesmo tem o sentimento de otimismo. A maioria dos grupos ainda possuem alta taxa de natalidade”, ressaltou Montardo.

Uma outra pesquisa, financiada pela FAPEAM, no âmbito do Programa DCR, é intitulada ‘Etnoastronomia dos povos indígenas do Amazonas’, que desde 2010 desenvolve pesquisas junto às etnias Dessana, Baniwa, Tikuna, Baré e Tukano. Sob coordenação do pesquisador Germano Bruno Afonso, do Museu da Amazônia (Musa), a pesquisa está prevista para terminar em 2013 e fornecerá subsídios para unir o conhecimento científico ocidental com o conhecimento tradicional.

De acordo com as pesquisas em andamento, a maioria das etnias indígenas estudadas considera que a Terra nada mais é do que um reflexo do céu. Por isso, é atribuída a observação do Sol, da Lua e das constelações como o início a para construção de seus calendários, regulando o cotidiano, os rituais, os mitos e até os códigos morais da comunidade. "O conhecimento astronômico indígena é importante como um processo de construção da identidade cultural”, declarou o pesquisador.

Sobre a data

O Dia do Índio se tornou oficial em 1943, através do Decreto-Lei nº 5.540 do então, presidente da República, Getúlio Vargas. Neste ano, foi realizado no México, o 1º Congresso Indigenista Interamericano. Além de contar com a participação de diversas autoridades governamentais dos países da América, vários líderes indígenas deste continente foram convidados para participarem das reuniões e decisões.

Cristiane Barbosa e Rafaela Vieira- Agência FAPEAM

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