Amazonas e ciência, editorial de A Crítica
Até sexta-feira, o Amazonas discute a produção da ciência e da tecnologia. A sede da reunião regional da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) é Tabatinga, no Alto Solimões. Nela, centenas de estudantes, professores e pesquisadores do Brasil e dos países de fronteira permanecerão até sexta-feira em um ritual diferente: mergulhar no mundo da ciência.
A decisão de fazer a SBPC regional em Tabatinga é emblemática. Daquela região, as notícias mais divulgadas são aquelas sobre o narcotráfico, a violência e a exclusão como condição de vida.
Os problemas das populações que vivem nessa faixa de fronteira continuam. O que se altera é a possibilidade de construção de outras alternativas, a partir de encontros como esse que ora se realiza em Tabatinga.
Uma enorme parcela de jovens dos municípios do Alto Solimões tem a chance de participar de um outro intercâmbio e inaugurar uma nova interlocução. Com eles, seguramente, se colocarão para o mundo como sujeitos de uma história de enfrentamento à sujeição e se descobrirão portadores de capacidade para propor, testar e pressionar para ver realizada uma política pública na produção do conhecimento e no reforço à valorização dos saberes.
Junta-se a esse indicador a demanda do Programa Ciência na Escola (PCE) deste ano. São mais de 800 propostas encaminhadas por escolas estaduais e municipais para trabalhar com a iniciação científica. Ao final, 230 projetos envolvendo dezenas de estudantes do ensino fundamental e médio serão desenvolvidos ao longo deste ano.
No mês de julho, Manaus tornar-se-á a capital da ciência brasileira. A 61ª Reunião da SBPC nacional terá a capital do Amazonas como sede. O mais importante evento da ciência no País reúne uma multidão de estudiosos do Brasil e de países da América Latina e, por ser na Amazônia, agrega mais atenção ainda. São atividades que canalizam uma série do bom esforço em nome da promoção da ciência e a reposicionam diante dos desafios formulados ao modelo de fazer ciência no mundo.
Tanto o encontro regional quanto o nacional poderão funcionar como uma outra porta aberta para a manifestação da Amazônia. E esta, na medida em que se realiza na pluralidade, a partir da fala dos seus atores sociais, institui-se numa outra posição. Não apenas a de ser objeto de estudo, mas se tornar parte efetiva na tomada de decisão sobre seu presente e o seu futuro.
Fonte: Jornal A Crítica (18/03)