Amazonas ganha mestrado e doutorado em Clima e Ambiente


O programa de Pós-Graduação em Clima e Ambiente, resultado de uma parceria entre o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e a Universidade do Estado do Amazonas (UEA), foi lançado oficialmente no dia 19 de dezembro, com a expectativa de se tornar referência nacional, tanto no que diz respeito à formação de pesquisadores de alto nível quanto na autonomia da produção do conhecimento científico na região. A apresentação dos cursos para a imprensa e para a comunidade científica foi feita pelo idealizador e coordenador do programa, Antonio Manzi, que também é gerente do Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA/INPA). O curso recebe financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam).

Manzi ressaltou a importância da cooperação interinstitucional na consolidação do projeto. “As parcerias vêm se fortalecendo ao longo das últimas décadas e isso se deve em parte à realização de grandes programas de pesquisa, como é o caso do próprio LBA, que reúne mais de 200 instituições de pesquisa e ensino”, afirmou. Segundo ele, a criação do Núcleo de Modelagem Climática e Ambiental do INPA, dentro do programa LBA, e a graduação em Meteorologia, da UEA, funcionaram como “embriões” dos novos cursos stricto sensu. “O que nos queremos é possibilitar cada vez mais a nucleação de competências interinstitucionais para responder questões científicas recorrentes sobre os efeitos das mudanças climáticas na Amazônia”, acrescentou.

Para o diretor do INPA, Adalberto Val, o tamanho do desafio para entender a complexidade da Amazônia não tem sido entendido pelos governantes brasileiros, que preferem canalizar recursos para pesquisas na Antártida, por exemplo, a investir fortemente na região. “No Brasil, são formados anualmente cerca de 10 mil doutores, sendo que, na Amazônia, esse número não chega a 50. Nós precisamos investir mais na nossa capacidade de mostrar ao mundo o que nós conhecemos”. Val salientou a importância da Secretaria de Estado da Ciência e Tecnologia (SECT) e da Fapeam nesse processo.

“A Fapeam é um patrimônio nosso. A sua criação nos possibilitou transformar sonho em realidade. Não é à toa que ela se projetou no País como a mais importante, mais até do que a Fapesp, porque, se a Fapesp representa tudo o que representa para o Estado de São Paulo, a Fapeam representa para toda a Amazônia e não apenas para o Amazonas. Nesse sentido, ela tem um papel diferenciado”, observou Val, ratificando a importância das parcerias interinstitucionais para a implementação desse e de outros cursos de graduação e pós-graduação na região. “Ao INPA cabe ampliar cada vez mais a cooperação com outros centros de pesquisa e com as universidades”.

Para o reitor da UEA, professor Lourenço Braga, “é tempo de congregar”. Ele acredita que a parceria INPA/UEA “vai dar respostas muito positivas ao Brasil” e destacou a importância da união entre um instituto de pesquisa de tradição no planeta e uma universidade ainda “criança”, referindo-se à instituição que dirige. “INPA e UEA deram-se as mãos e criaram esses cursos de mestrado e doutorado. Estou certo de que, nos próximos cinco anos, nós não seremos mais surpreendidos com cheias, secas e chuvas na Amazônia e também não precisaremos recorrer à literatura estrangeira para compreender melhor a região. O conhecimento será produzido aqui. E eu quero lembrar a participação do Adalberto (Val) na consolidação da UEA, ele que esteve conosco desde o início, dando a sua fundamental contribuição”, disse. “A UEA, criança, já nasceu grande. Sem ela, não venceríamos o desafio”, replicou Val.

Esse programa – o primeiro na Amazônia – chega no momento certo, de acordo com a secretária de Estado da C&T, Marilene Corrêa. Mesmo admitindo que a demanda é de pelo menos uma década, “somente agora as lideranças científicas, as convergências, as competências, as fontes de financiamento e os esforços políticos estavam prontos para esse desafio”. Marcílio Freitas, diretor do Centro de Estudos Superiores do Trópico Úmido e coordenador do Programa pela UEA, destacou o apoio que o reitor Lourenço Braga deu desde os primeiros momentos em que o projeto foi discutido. “Ele sempre acreditou nesse projeto e por isso quero fazer um agradecimento público aqui. Também agradeço ao (Antonio) Manzi e ao Flávio Luizão, pela participação quase hegemônica na construção do programa, trazendo toda a experiência acumulada à frente do LBA”.

 
O curso
–  Recentemente aprovado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), o programa tem nota 4 (numa escala que vai até 5, equivale a um conceito bom na avaliação da Capes) e vai se beneficiar de uma importante infra-estrutura de pesquisa e sobretudo do fato de contar com um laboratório “natural” – a própria Amazônia. “Nós temos a grande vantagem de estar dentro do laboratório natural e de poder contar com a proximidade de pesquisadores da área ecológica para incorporar seus conhecimentos (os que já existem e os que serão alcançados nas novas pesquisas multi- e inter-disciplinares) nos modelos climáticos”, diz Antonio Manzi.

A princípio, serão 15 vagas para o mestrado e 10 para o doutorado, com as primeiras turmas ingressando em agosto de 2007, Originalmente, foram estabelecidas duas áreas de atuação: Física do Clima e Ecossistemas Amazônicos. A primeira tem por objetivo o estudo das bases teóricas e ferramentais destinadas a avaliação dos processos físicos do clima e de seus elementos constituintes, levando-se em conta a variabilidade natural do sistema e aquela decorrente de ações antropicas na plenitude de escalas de tempo e espaço, voltado ao bem comum da relação ambiente-homem-clima. As linhas de pesquisa a ela associadas são: (1) Modelagem Climática, (2) Meteorologia Tropical e (3) Processos de Interação Biosfera-Atmosfera.

A segunda área de concentração priorizará estudos sobre a estrutura e funcionamento dos ecossistemas terrestres e aquáticos da Amazônia, avaliando sua distribuição espacial e suas relações com os fatores ambientais e climáticos da região, em condições naturais e alteradas pela ação humana. Nela, são enfatizadas as interações entre a floresta, o solo, os rios e lagos da região com a atmosfera terrestre, suas influências sobre os eventos climáticos locais e regionais, bem como os efeitos das mudanças climáticas e ambientais sobre o funcionamento dos ecossistemas e as alternativas de recuperação de ambientes degradados na Amazônia brasileira.

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