Amazonas tem primeiro banco de linhagens de bactérias de peixes
Banco evitará a perda de grandes investimentos econômicos na piscicultura com a morte de toda uma produção. Pesquisa recebeu investimentos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam)
“Quem produz peixe quer ter lucro”. A frase da pesquisadora da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Andréa Belém Costa, reflete bem a intenção do piscicultor que investe na produção de peixes no Amazonas. Contudo, esse processo envolve riscos, por exemplo, a perda de toda uma produção próxima do momento de abate. As causas podem ser as mais variadas, como parasitas, bactérias, práticas erradas de manejo, questões sanitárias.
A saída para o problema, apontou Costa, é investir na pesquisa científica para determinar as causas da morte e, assim, evitá-las. Uma das formas encontradas pela cientista foi a montagem de um banco de linhagens de bactérias que causam doenças em peixes.
A pesquisadora disse que o banco é o primeiro do Amazonas, uma vez que nunca ninguém havia se preocupado em saber se bactérias causavam doenças em peixes e, consequentemente, a morte. “Com o aumento dos investimentos na piscicultura, houve a necessidade de mecanismos que evitassem a perda da produção. Isso porque há bactérias que causam a morte de peixes em 24 horas”, lamentou, como a Edwardsiella tarde, comum no pardo japonês, uma espécie marinha.
Hoje, o banco de linhagens de bactérias possui mais de 200 amostras, as quais podem ser utilizadas por cientistas, alunos de graduação, pós-graduação (mestrado e doutorado), interessados em investigar os agentes patogênicos responsáveis pela perda da produção. Além disso, as amostras podem ser usadas no desenvolvimento de medicamentos e no tratamento das doenças que atingem os peixes endêmicos da região.
“O banco possui linhagens de bactérias isoladas de cultivos de pirarucu, tambaqui e matrinxã. Falta apenas do surubim, uma vez que ele não é cultivado comercialmente no Amazonas”, ressaltou.
Denominado “Isolamento e Caracterização de Bactérias Patogênicas de Peixes Cultivados no Estado do Amazonas”, a pesquisa foi desenvolvida no âmbito do Programa de Desenvolvimento Científico Regional (DCR). O projeto iniciou em 2006 e recebeu investimentos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam). Ao todo, foram investidos cerca de R$ 94 mil, entre bolsas e auxílio pesquisa. Atualmente, Belém é pesquisadora fixada na Ufam.
Os resultados da pesquisa foram apresentados, ontem, durante o 2º Seminário de Avaliação dos Programas DCR, Primeiros Projetos (PPP), Apoio a Núcleos de Excelência (Pronex) e Iniciação Científica Júnior (Pibic Jr), da Fapeam e do CNPq.
Todas as bactérias do banco, segundo Costa, são patogênicas, ou seja, causam algum tipo de doença. Ela salienta que ainda não foi possível identificar todas, pois leva tempo. Além disso, durante o projeto tiveram problemas na técnica de identificação molecular. “Caso haja o interesse de alunos de iniciação científica, mestrado ou doutorado em desenvolver trabalhos na área, todo o material está armazenado para futuras pesquisas”, salientou.
Boas práticas de manejo
Os procedimentos adotados durante a piscicultura podem levar ao sucesso ou ao fracasso da produção, daí a importância da introdução de boas práticas de manejo, que podem ajudar a diminuir as chances de uma bactéria patogênica dizimar toda uma produção.
A pesquisadora salientou que é preciso atenção, por exemplo, na nutrição, uma vez que peixes bem alimentados não ficam doentes, uso de ração de qualidade, conforme a espécie cultivada também é fundamental. “Não adianta criar o pirarucu (carnívoro) com ração de tambaqui (onívoro), apesar de a ração ser mais barata, trata-se uma economia que não dará certo”. Outro ponto que merece atenção, segundo Costa, é a limpeza dos tanques: “Não pode deixar peixes doentes no local, pois os patógenos procurarão novos hospedeiros”, avisou.
A visita periódica de um especialista em doenças de animais aquáticos para averiguar as condições sanitárias, infra-estrutura, saúde do peixe (carga bacteriana) é indispensável orientou Costa. “Caso haja prevenção não há como ter grandes perdas”, destacou.
Luís Mansuêto – Agência Fapeam