As novas amazônidas


Consultora da FAPEAM para o Prêmio Samuel Benchimol, Iraíldes Caldas Torres é amazonense de Maués (276 km de Manaus) e um exemplo de vida para todas as mulheres da Amazônia. (Foto: Divulgação)

Consultora da FAPEAM para o Prêmio Samuel Benchimol, Iraíldes Caldas Torres é amazonense de Maués (276 km de Manaus) e um exemplo de vida para todas as mulheres da Amazônia. Doutora em Ciências Sociais, com concentração em Antropologia, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), pesquisadora (com foco especial nas questões de gênero), escritora (com dez livros publicados, incluindo-se aí ‘‘As Novas Amazônidas’’, somados a três que serão publicados ainda em 2014). Líder do Gepos (grupo de estudos acadêmicos), militante de movimentos sociais e orientadora de mestrandos e doutorandos no Programa de Pós-Graduação em Sociedade e Cultura na Amazônia da Universidade Federal do Amazonas (PPGSCA/Ufam), Torres transita com desenvoltura em áreas que vão da Antropologia à Sociologia, da Ciência Política ao Serviço Social, tendo como foco de suas atividades intelectuais as temáticas relacionadas a trabalho, gênero e movimentos sociais.

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Nesta entrevista, concedida à Revista Amazonas Faz Ciência, a pesquisadora revela detalhes de suas pesquisas em andamento e aborda assuntos relacionados ao pós-doutorado que está realizando atualmente na França.

Amazonas Faz Ciência – Para realizar suas pesquisas acadêmicas, a senhora conta com o fomento do Governo do Amazonas por intermédio da FAPEAM, com vários projetos em andamento e outros já concluídos. Fale um pouco sobre esses projetos.

É sempre muito bom contar com o apoio financeiro de uma agência de fomento à pesquisa como a FAPEAM, que desde 2003 vem realizando um trabalho magnífico em prol da ciência, tecnologia e inovação no Amazonas. Em 2013, participei de um edital do Biblos, programa voltado para o apoio a publicações científicas, com a intenção de publicar a coletânea ‘‘Mulheres Sateré-Mawé, a Epifania de seu Povo e suas Práticas Sociais’’. Essa coletânea é resultado de uma pesquisa, fomentada pelo CNPq e realizada em comunidades de Maués e Barreirinha, em que buscamos averiguar de que forma as configurações de gênero aparecem entrelaçadas às práticas sociais das mulheres sateré-mawé. Esperamos também publicar os resultados em coletânea por intermédio do Biblos e, assim, contribuir de forma efetiva para o reconhecimento e a valorização do conhecimento tradicional dos povos indígenas pela etnologia contemporânea, a fim de que a academia e o próprio Estado ouçam e atendam suas demandas.

AFC – Qual o projeto que a senhora está desenvolvendo atualmente?

A pesquisa atual está sendo desenvolvida com recursos oriundos do Programa Universal da FAPEAM, para o qual submeti o projeto ‘‘Gênero, Etnicidade, Práticas Sociais e Corporais das Mulheres Sateré-Mawé’’, que está sendo realizado nas comunidades indígenas Simão e Umirituba, localizadas em Barreirinha. O projeto foi iniciado em agosto de 2013, com término previsto para julho de 2015, e envolve oito pesquisadores de campo e dois bolsistas. Trata-se de uma pesquisa de grande envergadura que está investigando as condições de vida, o trabalho, a organização social, o trato com o meio ambiente e a visão delas sobre a efetiva participação feminina nos rumos da etnia, problematizando o estatuto de gênero no contexto indígena e propondo outros olhares sobre esse tema.

AFC – Outra atividade acadêmica importante que a senhora está desenvolvendo com o apoio financeiro da FAPEAM é o IV Encontro de Estudo sobre as Mulheres da Floresta (IV Emflor). Comente qual o objetivo desse evento.

O Emflor é uma iniciativa do nosso Grupo de Estudo, Pesquisa e Observatório Social: Gênero, Política e Poder (Gepos), do qual sou a líder. O encontro surgiu a partir das reflexões dos associados do Gepos e da necessidade de se ter um evento científico específico para se conhecer, analisar e discutir a realidade vivida pelas mulheres na Amazônia. Como evento científico, o Emflor passou a ter o apoio financeiro do Governo do Amazonas, por intermédio da FAPEAM, e do Governo Federal, por intermédio da Capes, além da parceria de outras instituições. Neste ano, fomos contemplados com recursos do Parev, que apoia a realização de eventos científicos aqui no Amazonas. Esta é a terceira vez que a FAPEAM apoia o nosso evento, que acreditamos ser muito importante para os estudos envolvendo as práticas sociais das mulheres da floresta. O Emflor deste ano traz a temática Tráfico, Feminismos e Fronteira, e será realizado no período de 17 a 19 de novembro no campus da Ufam. A propósito, o endereço eletrônico do Emflor é http:/emflormanaus.blogspot.com.

AFC – Desde março, a senhora está morando na França, envolvida com as atividades de seu pós-doutorado, que certamente vai beneficiar diretamente os programas de pós-graduação da Ufam. Qual é a proposta da pesquisa que a senhora está desenvolvendo e quais são as atividades relacionadas ao pós-doc?

Bom, antes de tudo gostaria de dizer que esta é uma estratégia de elevação da qualidade do ensino posta em prática pela Ufam, que vem disponibilizando recursos e ferramentas para que todos os professores doutores do seu quadro docente possam realizar o pós-doc em universidades e centros de pesquisas localizados no exterior ou mesmo no Brasil. Também, gostaria de deixar registrado que, para a realização do meu pós-doc, conto com uma bolsa de estudos da Capes. A minha pesquisa de pós-doc investiga o princípio feminino gerador da etnia sateré-mawé, sob a perspectiva da antropologia indígena. Está sendo realizada no Laboratório de Antropologia da Université Lyon II, sob a direção do professor doutor Jorge Santiago, um pesquisador brasileiro que vive há muitos anos na França. A ideia central da pesquisa é apresentar uma nova forma de abordagem de gênero no contexto indígena, outra episteme que possa dar contorno compreensivo à presença e à participação das mulheres na vida da etnia. A minha intenção é elaborar uma teoria a respeito dessa presença feminina, que certamente é diferente da propositura de gênero sob o ponto de vista acadêmico ocidental vigente. O que parece ser dominação e exploração das mulheres no contexto indígena pode não ser. Talvez essa reflexão possa chocar os estudiosos de gênero de formação cartesiana, mas a verdade é que não aceito a passividade feminina em qualquer contexto, seja ele político, econômico ou social. A historiografia oficial, androcêntrica, se nega a dar visibilidade à ação feminina, às práticas sociais das mulheres.

 Confira a matéria completa na revista Amazonas faz Ciência

 

Por Denison Silvan, especial para a Agência FAPEAM

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