Autodeclaração de indígenas cresce na América Latina


Sem preconceito da raça, pesquisas revelam que existe aumento da autodeclaração de indígenas na América Latina. A hipótese mais provável para justificar esse dado é que houve um aumento de índios urbanizados que optaram por se declarar como tal no censo de 2000. A discussão sobre o tema acontece até a quarta-feira (24/03) no auditório da Fiocruz-AM, com o Seminário Latino-Americano de Demografia e Saúde dos Povos Indígenas.

O evento tem o objetivo de debater a dinâmica demográfica e a situação de saúde de povos indígenas da América Latina e Caribe a partir de um diálogo interdisciplinar entre demografia, antropologia, saúde coletiva e movimentos sociais indígenas.

A antropóloga e demógrafa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp-SP), Marta Azevedo, afirma que a expectativa do seminário é discutir Demografia e Saúde dos Povos Indígenas com profissionais de outros países. “A meta é monitorar e fiscalizar os povos indígenas da América toda por meio de estudos populacionais e verificar as diferenças dos povos indígenas”, destacou.

/O coordenador da Associação Brasileira de Estudos Populacionais, (Abep), Pery Teixeira, disse que a categoria indígena só foi incluída no censo de 1991, embora a investigação da cor no primeiro levantamento censitário realizado no Brasil tenha ocorrido em 1872. “Anteriormente, essa parcela da população se classificava em outras categorias. Ao longo do tempo, muitos pesquisadores e o próprio IBGE tiveram grandes dificuldades para identificar os índios, pois muitos deles têm preconceitos. Mas, aos poucos, estamos vendo que eles estão se declarando”, frisou.

O pesquisador ressalta que o último censo demográfico realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2000, divide a população em cinco categorias: branco, preto, amarelo, pardo e indígena.

De acordo com dados do IBGE, em 1991, o percentual de índios em relação à população total brasileira era de 0,2%, o equivalente a 294 mil pessoas. Em 2000, esse percentual subiu para 0,4% da população ou 734 mil pessoas.

O resultado representa um aumento anual de 10,8% da população, a maior taxa de crescimento dentre todas as categorias. O Brasil apresentou um ritmo de crescimento no período de 1,6% ao ano. Outros fatores também podem ter interferido, como o crescimento vegetativo, embora por si só não seja capaz de explicar o fenômeno, e a imigração internacional de países limítrofes com alto contingente de população indígena, como Bolívia, Equador, Paraguai e Peru.

Novidade

No questionário do censo demográfico deste ano, o IBGE destaca que a formulação do quesito sobre raça ou cor deve ser aperfeiçoada. Além da autoidentificação, outros critérios são usados em alguns países para a classificação da população indígena, como o idioma ou língua falada, a localização geográfica e outras características.

O Seminário Latino-Americano de Demografia e Saúde dos Povos Indígenas está sendo coordenado pela Fundação Leônidas e Maria Deane (Fiocruz-AM), com apoio da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
 

Foto: Mesa de abertura do evento na Fiocruz-AM (Foto: Ana Paula Gioia)

 

Vanessa Leocádio Agência Fapeam

 

 

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