Bioquímico diz em conferência que região Amazônia precisa de um supraministério
Amazônia precisa ser tratada no âmbito do Governo Federal por um programa supraministerial. Somente um espaço com tal característica reunirá as condições de atender às demandas da região e de colocá-la como prioridade “altamente positiva” ao Brasil. É o que defende o presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), o bioquímico Jorge Almeida Guimarães, 73, crítico da forma fragmentada que tem sido adotada por diferentes governos para lidar com essa porção do território brasileiro.
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Guimarães salientou que os diferentes governos têm tratado a região amazônica de forma fragmentada. (Divulgação/PPGSCA-Ufam)
“Não basta um ministério para a Amazônia, ele não dará conta das tarefas”, afirma Jorge Guimarães ao propor um programa supraministerial destinado à região. Em linhas gerais, na formulação feita pelo presidente da Capes, um primeiro-ministro da Presidência da República trataria com os demais ministros as ações coordenadas para a Amazônia “que tem muito prestígio a render ao País e mesmo à economia brasileira”.
Na terça-feira, Guimarães esteve em Manaus para fazer a conferência de abertura do I Seminário Internacional em Sociedade e Cultura na Panamazônia (I Siscultura) realizado de 14 a 17, pelo Programa de Pós-Graduação em Sociedade e Cultura na Amazônia (PPGSCA), da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).
O seminário contou com 450 participantes (dados da secretaria do encontro) vindos de países amazônicos, da França e de Estados da Amazônia. Professor emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) desde 1999, e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS), o presidente da Capes adverte que se o Brasil não assegurar 2% do Produto Interno Bruto (PIB, que é a soma de todas as riquezas produzidas no País) à área de Ciência, Tecnologia e Inovação não conseguirá se desenvolver no ritmo desejado e necessário. Hoje o investimento é de 1.8%.
“É preciso decisão muito firme para desenvolver a educação, a ciência e a tecnologia” declarou ele a uma plateia de professores, pesquisadores e estudantes reunidos no auditório Rio Amazonas, da Faculdade de Estudos Sociais (FES-Ufam).
Meta Amazônica
Ao abordar a Amazônia, Jorge Guimarães aponta a exigência de realização do que define de “um estudo multidisciplinar” capaz de estabelecer as prioridades da região. “E quais são elas? Se essa pergunta for feita ao pessoal da saúde, será a saúde; se ao povo da agricultura, será a agricultura; ou plantio de soja, a invasão da floresta (…). Na verdade é um conjunto muito grande de coisas que demanda uma ação mais coordenada para vencer os atos localizados”.
Para o presidente da Capes, é fundamental estabelecer metas, algo que o Brasil não faz. “Nós precisamos dizer, por exemplo, qual é a meta que temos para a questão da derrubada de floresta e como vamos tomar conta disso e impedir que aconteça”. Com os satélites, afirma Guimarães, não só é possível tomar conta da Amazônia como ficou muito fácil fazer esse monitoramento. “O que precisa, na minha opinião, é de um projeto concentrado nessa área e que envolva todos os ministérios, todas as áreas. Essa não é tarefa de um ministério, ele não dará conta dela”, disse.
Questionado a respeito de propostas para a Amazônia formuladas em diferentes governos, Guimarães reclama da fragmentação da ideia e vê nisso a razão do fracasso das tentativas feitas anteriormente. A criação de um supraministério para a Amazônia, afirma o gestor da Capes, exige convicção de que uma instância desse porte é necessária, importante e deve considerar que ela chegaria atrasada. “Trata-se de uma questão a ser discutida com os governadores da região, os parlamentares e de convencer o Governo Federal de que vale ter um supraministério que trabalhe com todos os outros ministérios os temas da Amazônia”.
Partilha da tecnologia de satélites
A relação do Brasil com os outros países amazônicos poderia ser bem mais qualificada na avaliação do presidente da Capes, Jorge Almeida Guimarães. O pesquisador cita visita feita por ele ao Peru quando pôde constatar um vasto leque de situações que demandam ações em conjunto dos dois países, como questões relacionadas às drogas, à água e a da fiscalização de fronteiras.
A tecnologia dos satélites é um dos recursos, na opinião de Jorge Guimarães, que deveria ser usada em conjunto para servir ao Brasil, ao Peru e aos demais países da Panamazônia. “Enfim, nessa região, há grandes demandas que precisam de um comando mais centralizado na parte brasileira e não pode ser a presidenta da República a fazer isso. Precisa ter um supraministério que chamaria todos para atuarem em sintonia nessa região.”
Guimarães revela ter ficado impressionado com a preocupação dos peruanos em relação à água. “Nós temos água à beça do lado de cá e eles do lado de lá têm dificuldade”, observa. O narcotráfico e a migração são outros temas geradores de preocupação no Peru, afirma.
Comissão foi extinta e recriada
Em 1990, no Governo de Fernando Collor de Mello, a Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) foi extinguida e recriada um mês depois diante da pressão nacional feita pela comunidade de pesquisadores, professores e reitores de universidades. Para o atual gestor dessa fundação, Jorge Guimarães, é improvável que o fato volte a se repetir. “Espero que nunca mais passemos pro isso, foi uma lição importante.
A Capes conseguiu prestígio internacional e vem sendo bem avaliada”, diz o presidente considerando a possibilidade de ocorrer mudança de trajetória de ação. “Isso seguramente haverá”, mas não mais como ocorreu há 24 anos.
Fonte: Ivânia Vieira, Portal A Crítica.