Bolsistas do Cesmat apresentam resultados de pesquisa
Duas bolsistas da primeira edição do programa Cesmat, que teve edital lançado nesta sexta-feira, dia 15, pela Fapeam, já apresentaram os resultados de sua pesquisa. As estudantes Lucinéia Souza e Mara Paiva desenvolveram propostas de projetos na área da geologia, com potencialidade de aplicação na região amazônica.
Selecionadas através do edital de N. 020/2004, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), elas tiveram a oportunidade de viver por um ano em uma cidade localizada ao Sul da França, subsidiadas pelo Centro de Estudos Superiores de Matérias-Primas deste país, onde aplicaram e adquiriram novos conhecimentos geológicos.
A primeira turma era formada por 12 pessoas de diferentes países. Destas, três eram brasileiras, incluindo as duas representantes do Amazonas. “Na França, diferente daqui, eu pude ver a geologia aplicada. E aprendi muito com isso. A diferença entre os níveis de conhecimento foi difícil. Lá, eles são técnicos de aplicação”, ressalta Mara, destacando que aceitar o desafio de viver um país de língua estrangeira só foi possível graças a não exigência, no próprio edital, da fluência no idioma. “Mostra que isso não é uma barreira. Não nos exclui”.
A bolsista montou um projeto voltado para a otimização das construções de barragem em terra, utilizando como um dos critérios fundamentais os parâmetros de pluviosidade (índice de chuva). Segundo Mara, aqui no Brasil, as empresas não são obrigadas a considerar esse critério e acabam convivendo com problemas futuros de escoamento da água. Ela utilizou como modelo a barragem da mina do Pitinga, localizada em Presidente Figueiredo, por onde escoa a extração da caceterita. Na região, existe a proposta de construção de uma barragem de 370 he, que deverá estocar o rejeito (tudo aquilo que a tecnologia não permite a utilização) da extração mineral. Mara fez uma contra-proposta que reduziria a obra para apenas 33 he.
“Fizemos um projeto no qual a extensão horizontal seria reduzida e a vertical aumentada. Para tanto, foram feitos estudos geotécnicos aplicados que tangem para a fundação das barragens. Ou seja, quanto elas conseguem suportar e como o excesso do rejeito será tratado”, revela Mara. Para ela, as barragens de terra não podem mais ser consideradas apenas como instalações para depósito de rejeito. As conseqüências geradas pelo controle inadequado do material acumulado (do qual, somente 40% é sólido, o resto é líquido) têm influência direta no meio ambiente.
A preocupação com o nível pluviométrico de uma região é, segundo Mara, um dos fatores que mais deveriam ser atentados, principalmente, quando se trata de construções na Amazônia. Ela alerta que não existe um dimensionamento das tubulações de Manaus, por exemplo, tornando-as incapazes de suportar a quantidade de chuva que cai. Assim, alagações e o caos urbano completo assolam as cidades a cada nova tempestade.
A proposta de Lucinéia foi diferente. Ela procurou elaborar um projeto de reabilitação e valorização de áreas de exploração de arenito. A região modelo utilizada pela estudante fica localizada no Km 15, da BR-174. “Quando é finalizada a exploração da rocha, o que sobra é uma área totalmente degradada e esquecida”, diz.
Para reverter esse quadro, ela propõe a construção de um parque temático ambiental, no lugar da área desgastada. Nele, deve constar um espaço destinado à piscicultura (criação de peixes em cativeiro), no lugar das bacias de decantação do arenito podem ser criados viveiros florestais para acelerar o processo de reflorestamento da área.
Como a região é regada de pontos de ocorrência de orquídeas, surgiu a idéia de se criar um orquidário. Além de servir de observatório natural de um dos mais belos e valorizados exemplares da flora amazônica, o comércio das espécies cultivadas pode tornar-se uma alternativa para dinamizar a economia das comunidades que vivem próximo à localidade e que nunca foram beneficiadas com a extração de arenito.
“Precisamos estar inserindo as pessoas que vivem no entorno do empreendimento. Estamos falando de 15 a 20 famílias que encontram-se excluídas de todo esse processo”, salienta Lucinéia.
Como sugestão, a Secretária de Estado de Ciência e Tecnologia, Dra. Marilene Corrêa, pediu que as estudantes encaminhassem um resumo dos projetos para os órgãos ambientais competentes do estado, de tal forma que os mesmos usufruam dos conhecimentos gerados.