Calha do Rio Negro terá água subterrânea analisada


Poços dos municípios de São Gabriel da Cachoeira, Santa Isabel do Rio Negro, Barcelos e Novo Airão terão suas águas coletadas. O objetivo é saber se elas são viáveis para consumo humano  

O acesso à água doce de boa qualidade encontra-se entre as principais preocupações do Poder Público e da comunidade científica como um todo. Somente um terço da água que flui anualmente para o mar é acessível ao homem. Nesse contexto, a Semana no Meio Ambiente configura-se como oportunidade ideal para se pensar fontes alternativas de obtenção deste recurso.

O pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Márcio Luiz da Silva, que é geólogo, aponta para uma em potencial. Em estudo desenvolvido nos anos de 2005 e 2006, em Iranduba (22 km de Manaus), Silva analisou a qualidade da água dos poços tubulares utilizados pelos moradores da região para consumo humano. Entre as justificativas para a análise encontrava-se o apelo das pessoas que diziam sofrer de distúrbios gastrointestinais (diarréias).

“Coletamos amostras de água de 10 poços da cidade, com aproximadamente 150m de profundidade. O nosso objetivo era investigar a hidrogeoquímica das águas subterrâneas de Iranduba, tomando como parâmetros variáveis físicas, físico-químicas e químicas. As análises foram realizadas nos laboratórios da Coordenação de Pesquisas em Clima e Recursos Hídricos, do Inpa”, explica Silva.

Durante a pesquisa, financiada pelo próprio Inpa, descobriu-se uma alta concentração de cálcio, magnésio, cloro, sódio e potássio nas águas subterrâneas, condições que permitem considerá-la ideal para uso medicinal e terapêutico, mas representando perigo caso seu uso esteja atrelado à ingestão direta.

“A partir desse resultado, estamos dimensionando nosso trabalho para o estudo da distribuição geográfica dessa água rica em minerais. Queremos saber onde ela ocorre e em quais condições”, afirma o pesquisador, que contará com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) nessa nova fase.

Mês passado, Silva teve o projeto “Qualidade das Águas de Subsuperfície utilizadas para consumo humano em cidades na calha do Rio Negro – Amazonas” aprovado no edital n. 009/2007 do Programa Integrado de pesquisa Científica e Tecnológica (Pipt), da Fapeam.

O estudo analisará a qualidade da água consumida pela população dos municípios de São Gabriel da Cachoeira, Santa Isabel do Rio Negro, Barcelos e Novo Airão. Entre os parâmetros de caracterização, está a identificação de contaminantes ou poluentes que possam afetar a pureza dos recursos hídricos.

Para o desenvolvimento das atividades nos próximos dois anos, Silva conta com um financiamento de R$ 46 mil da Fap.

Trabalho de campo

A seleção dos poços tubulares participantes do processo de amostragem da pesquisa contará com a ajuda de funcionários da Companhia de Pesquisas e Recursos Minerais (CPRM-AM). A visita in loco será necessária, em alguns municípios, para não descartar os poços considerados inativos, já que a comunicação com os responsáveis pelos mesmos é complicada, devido à distância. Todos os pontos serão georreferenciados e as coordenadas serão obtidas com equipamentos de GPS. Isso quer dizer que, por satélite, os pesquisadores poderão encontrar cada poço visitado.

O equivalente a cinco litros de água de cada local será coletado. Em laboratório, serão analisadas as seguintes variáveis: temperatura, Ph, cor, turbidez, nível de ferro, entre outros fatores.

Entre os resultados esperados, o pesquisador crê na possibilidade de tornar a pesquisa uma ferramenta de base para atuação direta em ações de conservação, manejo de recursos hídricos e bem-estar social. Numa escala mais abrangente, Silva almeja que o banco de dados geográfico gerado dê subsídios para uma gestão eficiente dessas águas. Perpassando todos esses desdobramentos, o projeto trará uma contribuição significativa para o próprio conhecimento do modelo hidrogeológico da calha do Rio Negro, o que significa dizer que haverá mais dados concretos que expliquem a dinâmica das águas subterrâneas (suas origens, elementos que as compõem etc.), de modo a facilitar a exploração das fontes consideradas potáveis, principalmente em áreas densamente povoadas.

Grace Soares – Agência Fapeam

Deixe um novo comentário

O seu endereço de email não será publicado Campos obrigatórios são marcados *