Candomblé alia tradição e modernidade no preparo de oferendas
As comidas produzidas para orixás, nos terreiros de Candomblé de Manaus, nos momentos de Bori (grande iniciação à religião), não deixam nada a dever aos outros centros do país, se caracterizam pelo uso excessivo de cheiro verde e dendê e são produzidas por mais de dez horas.
Esses foram os resultados dos dados coletados para a dissertação do mestrado em Sociedade e Cultura na Amazônia, da aluna Glacy Ane Araújo de Souza, “Ajeun Odara: um estudo acerca das comidas dos orixás em Manaus”, financiada pelo Programa Institucional de Apoio à Pos-Graduação Stricto Sensu (Posgrad) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam).
Glacy Ane Souza pesquisou três terreiros da cidade – Terreiro do pai Gilmar de Iemanjá, Terreiro pai Giovano do Oxaguian e Terreiro de pai Bosco de Oxum, todos localizados na zona Leste – e verificou a diferenciação nas técnicas para produzir as comidas de santo.
“Alguns terreiros ainda possuem a tradição do uso do pilão de madeira, onde os alimentos são socados até virarem pó, utilizando a técnica africana mais rudimentar. Outros, adeptos da modernidade, já utilizam o liquidificador e processador”, contou.
Independentemente da forma utilizada, a ideia é procurar se aproximar do que é mais africano possível, mesmo que, por questões econômicas, alguns ingredientes tenham de ser adaptados.
“Os ingredientes originários da África são caros em Manaus, então se fala da necessidade de modificar o ritual na casa para evitar os gastos excessivos. Até porque tudo que se estraga não é bem visto aos olhos dos orixás”, afirmou.
O estudo transcende a academia, a partir do momento em que divulga os rituais dos terreiros de Manaus e valoriza uma religião que é vista com preconceito.
“A necessidade que vejo em continuar pesquisando sobre a religião de que participo é expor meus conhecimentos para a academia e para a comunidade. Meu texto vai estar à disposição para os membros e os não-membros da religião para terem conhecimento do que consegui com os dados da pesquisa bibliográfica e de campo”, ressaltou Gracy Ane Souza.
Junto à sensação de dever cumprido, com a defesa realizada no mês de outubro, Glacy Ane se orgulha de ter sido a primeira pesquisadora negra da Universidade Federal do Amazonas a realizar um trabalho sobre comida de orixá, especificamente sobre candomblé, da cidade de Manaus.
Leila Ronize – Agência Fapeam