Ciência impulsiona citricultura no Amazonas


19/09/2012 – O Brasil ocupa lugar de destaque em nível mundial na área de citricultura, principalmente na produção de laranja-pera. Apontado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) como responsável por 60% da produção mundial de suco de laranja, o País também é o campeão de exportações do produto in natura, e tem como principal comprador da bebida a União Europeia (UE).

Apesar desse quadro positivo na produção brasileira, a Região Norte, sobretudo o Amazonas, ainda necessita de melhorias na qualidade e na produtividade do fruto. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estática (IBGE) indicam que em 2010, o Amazonas produziu 24.429 toneladas de laranja.

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Para alguns produtores mudanças significativas já foram alcançadas. Em 2008, o Amazonas passou a fazer parte de um sistema de cultivo denominado ‘Produção Integrada (PI) de Citrus’, uma iniciativa da Unidade Mandioca Fruticultura da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) que trouxe para o Estado o projeto ‘Desenvolvimento da Citricultura e Implantação do modelo de Produção Integrada no Estado do Amazonas’, fomentado pelo Governo do Estado, via Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM).

O sistema consiste na adoção de boas práticas agrícolas como uma forma eficiente de redução de custos, aperfeiçoamento e ampliação da comercialização do produto para os grandes e pequenos produtores. O projeto trouxe beneficiamentos a pessoas como o citricultor Francisco Antônio de Souza Melo, proprietário da Fazenda FMI Citrus, localizada no Ramal do Procópio, KM 113, da Rodovia AM-010.

“Com as informações que recebemos através do projeto de PI de Citrus já foi possível melhorar muito, principalmente na parte técnica da produção, pois já aprendemos a identificar, por exemplo, onde e quando é necessário aplicar os produtos contra as pragas, isso traz redução de custos e perigos para o meio ambiente e para o funcionário que ficava exposto demasiadamente ao produto químico da forma como era feita a aplicação manual”, explicou.

Melo é cearense, chegou ao Amazonas há 28 anos e cultiva laranja há 15 anos. O citricultor informou que sua produção em 2011, foi de 2,7 milhões de frutos, que abasteceram exclusivamente as escolas estaduais de Manaus e, com as orientações recebidas através do projeto, novas perspectivas estão surgindo e ele pretende aplicar as técnicas nas outras culturas com as quais trabalha.

“Com as informações e conhecimento que tenho recebido através do projeto acredito que minha produção será ampliada. Quero também futuramente aplicar o sistema nas culturas de banana e abacaxi, mas ainda é preciso pesquisar. Isso é outro passo”, afirmou o produtor.

Negócio em expansão

O pesquisador da Embrapa e coordenador do projeto no Amazonas, Marcos Garcia, explica que a PI foi trazida para o Estado por dois motivos. “Trouxemos esse sistema para cá, por dois motivos. O primeiro foi pelo fato de que o governo apostou e investiu nesse projeto e na divulgação dessa tecnologia. O segundo é que o Amazonas tem se expandido na citricultura, sendo o município de Rio Preto da Eva um dos maiores produtores do fruto no Estado”, salientou.

Ele aponta que o sistema de PI tem, entre outras ações, atuação efetiva na prevenção ao aparecimento de pragas e doenças nos pomares. Segundo o pesquisador, a tecnologia segue no Estado, o mesmo modelo que foi desenvolvido no restante do País.

O sistema de PI investe na capacitação dos produtores, na manutenção das boas práticas agrícolas e no monitoramento de pragas, onde o agrotóxico é aplicado em determinado período, utilizando os dados obtidos por meio de um monitoramento do solo e das folhas. “Ou seja, eles aprendem a manejar o solo de forma a não agredir o mesmo e a aplicar determinados produtos apenas quando necessário”, explicou.

Por sua vez, o coordenador-geral do projeto de PI, José Eduardo Borges de Carvalho, afirmou que os produtores do Estado estão buscando aderir ao programa. “Iniciamos os trabalhos aqui há quatro anos e, em 2010, tivemos aporte financeiro da FAPEAM. Atualmente aqui no Amazonas, quatro produtores já implantaram o sistema nas suas propriedades”, afirmou.

Produtores aderem ao sistema

Sebastião Siqueira foi um dos primeiros produtores que aderiram ao sistema. Desde o ano de 1999, a ‘Citro Mudas Fazenda Panorama’, localizada no Km 84, da AM-010, vem trabalhando constantemente na citricultura e, atualmente, lidera a produção de laranja no Estado, com 40 toneladas do fruto por hectare.

A propriedade possui no total 700 hectares de área, dos quais 560 são destinados à preservação ambiental em conformidade com a legislação. Ele atribui o sucesso à utilização das modernas tecnologias existentes em todas as fases do trabalho.

Siqueira explicou que atualmente a produção é bem mais rigorosa, pois ele utiliza mudas selecionadas e livres de pragas e doenças. “Preparamos o solo com adubação a necessária e dentro dos padrões técnicos recomendados pelos consultores. Utilizamos equipamentos modernos na aplicação de defensivos e outros produtos para garantir a saúde e a produtividade das plantas”, declarou.

Mas nem sempre foi assim. Siqueira contou que antes, em uma área de 10 mil metros quadrados, o equivalente a um hectare, eram mantidas 204 plantas. “Nossa produção não era tão grande. Hoje, na mesma área, conseguimos manter 570 plantas. Numa área nova plantada há cinco anos, já fizemos, somente no primeiro semestre de 2012, cinco colheitas”, revelou.

Inovação impulsiona citricultura

No Estado de São Paulo, o maior produtor de citrus do Brasil, a média por hectare é 32 toneladas, Sergipe, que é o segundo maior produtor, produz, em média, 16 toneladas por hectare, já o Amazonas está superando as 40 toneladas por hectare, estando acima da média do maior Estado produtor.

“Isso só foi possível através das inovações tecnológicas”, frisou. Siqueira é o segundo maior produtor de laranja da Região Norte e sua produção atende o mercado de Manaus e de Roraima.

Atualmente, Siqueira está investindo em uma nova modalidade de porta-enxerto, que é o sistema radicular da planta. O pesquisador da Embrapa da Bahia, Claudio Leone explicou que a região possui alta umidade e a proposta agora é trocar os portas-enxertos já existentes por outros mais resistentes.

“Queremos chegar a 816 plantas por hectare, ou seja, uma maior quantidade de plantas em um espaço menor. Para isso, estamos trazendo dez variedades de copa e sete de porta-enxerto. Para ter uma nova alternativa para produção diferenciada, uso de áreas mais adensadas, além de testar a capacidade de resistência às pragas, à precocidade e à produção”, disse o pesquisador.

Otimizar custos e produzir alimentos seguros

O sistema de produção integrada é uma técnica moderna de se produzir alimentos com monitoramento permanente em diferentes fases da produção, o que leva à obtenção de alimentos de melhor qualidade com segurança para consumidor e produtor. “Além disso, diminui o uso de insumo contaminante, reduz gastos de produção e colabora na preservação do meio ambiente”, afirmou o coordenador-geral do projeto.

Os pesquisadores afirmaram que a citricultura é uma atividade viável à agricultura no Amazonas, e é favorecida pelos preços compensadores dos frutos e pelas condições de clima adequadas para a produção ao longo do ano.

Coordenador local do projeto, Marcos Garcia informou que as limitações tecnológicas e o manejo inadequado dos pomares representam ameaças à sustentabilidade da cultura no Estado. “O que os pesquisadores trouxeram para o Amazonas foram algumas técnicas já comprovadas para implantar a Produção Integrada na região, tentando adaptá-la às condições locais”, afirmou.

Investir para ampliar o negócio

O investimento em produção de citrus no Amazonas é uma prática que iniciou em 1975, segundo o presidente da Amazoncitrus, Ozires Silva. Ele informou que foi um dos primeiros produtores de citrus no Estado. “Eu e mais dois outros produtores iniciamos essa prática aqui e hoje, como presidente da Amazoncitrus, percebi que era necessário investir em novas tecnologias para alavancar o negócio. Os demais produtores também já sentiram essa necessidade. Durante uma visita à Embrapa na Bahia, me foi apresentado esse sistema de produção integrada e vi que seria vantajoso trazer para o Amazonas”, afirmou.

Silva, que é proprietário da Fazenda Brejo do Matão, localizada na BR-174, Km 15, frisou que o projeto é resultado de uma demanda dos produtores da Amazoncitrus. “Esse é um dos poucos projetos resultantes da demanda do produtor. Isso é um avanço espetacular nesse momento que estamos caminhando na consolidação desse manejo”, acrescentou.

O presidente salientou que o produtor, seja de pequeno, médio ou grande porte, precisa dessa intervenção técnica para avançar no negócio.
“Todos precisamos, principalmente o pequeno produtor que depende disso para o seu sustento. O produtor não pode plantar em cima de pau e toco, para produzir, gerar renda e pagar os seus financiamentos”, afirmou.

Saiba mais

As pesquisas realizadas no Amazonas têm o apoio e parceria de diversas instituições de ensino, pesquisa e governo entre as quais a Embrapa Amazônia Ocidental, que coordena o projeto no Estado, a Universidade Federal do Amazonas (Ufam), e o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), que desenvolvem pesquisas voltadas para a nutrição do solo.

Além desses, também atuam na área: o Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas (Idam) e a Amazoncitrus. Conta ainda com o Serviço de Apoio às Micros e Pequenas Empresas (Sebrae), Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), Superintendência Federal da Agricultura (SFA) do Mapa, Secretaria de Estado de Produção Rural (Sepror) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Por Rosilene Correa – Agência FAPEAM

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