Ciência precisa ampliar espaço em jornais impressos e em rádios


Ele já foi editor científico da revista “Ciência Hoje" , membro do Comitê Temático de Divulgação Científica do CNPq, do Conselho da Sociedade Brasileira de História da Ciência, da Sociedade Brasileira de Física e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Hoje, Ildeu de Castro Moreira coordena o Departamento de Popularização e Difusão da Ciência e Tecnologia do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), em Brasília (DF).

 

Professor do Instituto de Física e do Programa de Pós-Graduação em História da Ciência e Epistemologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Ildeu, como é conhecido, conta que o Brasil tem problemas com a divulgação da ciência nos meios de comunicação de massa. Por isso, é importante pessoas capacitadas em jornalismo científico para valorizar esse tipo de informação.  

 

Segundo ele, avançou-se na divulgação da ciência, contudo é preciso ampliar o espaço nos jornais impressos. Ildeu disse que existe certa tensão no relacionamento entre cientistas e jornalistas na divulgação científica. De um lado, os cientistas nem sempre estão disponíveis para atender os profissionais da comunicação. Do outro, os jornalistas precisam ter uma noção básica sobre ciência, caso contrário, correm o risco de não transmitirem a noticia a contento.

 

Em entrevista exclusiva à Agência FAPEAM, Ildeu fala sobre o trabalho dos cientistas e jornalistas envolvidos no processo de comunicação científica. Ele esteve em Manaus, na última semana de abril, para participar do curso de Capacitação em Jornalismo Científico – Ciência e Mídia. O evento foi promovido pela Fiocruz com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM).

 

 

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Agência Fapeam – Nos últimos anos, os  governos Federal e do Estado do Amazonas vêm investindo maciçamente em ciência, tecnologia e inovação. Como a divulgação científica pode contribuir com a valorização da produção da ciência?

 

Ildeu de Castro – Pode contribuir muito. Nós temos um problema, no Brasil, no contexto da divulgação da ciência, ela ainda não é constante nos meios de comunicação de massa. Por isso, temos que ter pessoas capacitadas em jornalismo científico para valorização da notícia. Apesar de termos avançado, é necessária uma presença mais intensa nos jornais impressos. Hoje, temos as revistas de âmbito nacional e, mais recentemente, as das Fundações de Amparo à Pesquisa (Faps). Nas TVs e nos rádios a presença é pequena. É preciso ampliar o espaço. O rádio na Amazônia tem uma penetração muito grande. Contudo, temos apenas 30 rádios que divulgam ciência no país. style=width:

 

Agência Fapeam – Na sua palestra você afirmou que existe uma “tensão” entre o jornalista e o cientista. Essa “tensão” é realmente necessária?

 

Ildeu de Castro – Ela é real. Observa-se que o mundo tem tensões das mais variadas. Jornalistas têm uma tradição, uma cultura diferente dos cientistas. A bagagem cultural gera conflitos. Todavia, devem  ser encaradas como tensões essenciais dentro da sociedade. É preciso saber trabalhar construtivamente essa relação para não chegar a um ponto em que  ela seja paralisada, ou seja, cientistas pensarem que jornalistas não sabem divulgar e vice-versa.

 

Agência Fapeam – Então, o que há de comum entre cientistas e jornalistas?

 

Ildeu de Castro – Existem coisas em comum, mas com olhares diferentes. Os cientistas têm metodologias, tempo, visões sobre o mundo e ciência distintos do jornalista. As características em comum são a investigação, a curiosidade, a vontade  de fazer, de produzir uma comunicação eficiente. O jornalista não tem tempo e, às vezes, o cientista não compreende isso.

 

Agência Fapeam – Podemos afirmar que o conflito entre cientista e jornalista é mundial, com base na sua experiência no exterior?

 

Ildeu de Castro – Na Europa, os cientistas são mais abertos aos jornalistas. Quando um jornalista telefona para um cientista de uma universidade, mesmo esse sendo um prêmio Nobel, ele está mais aberto do que o cientista brasileiro a dar uma resposta. Isso se deve à questão do tempo do jornalista. Hoje, o europeu já reconhece a importância da comunicação, além da tradição existente. No Brasil, isso ainda é muito recente.  

 

Agência Fapeam – O que pode ser feito para melhorar a divulgação científica?

 

Ildeu de Castro – Temos que qualificar os estudantes e os profissionais de comunicação. Eles precisam entender melhor o que é ciência ou pelo menos ter  noções básicas. Caso contrário, os estudantes, por exemplo, correm o risco de se tornarem  profissionais desinteressados em se aperfeiçoarem nessa área. Precisam fazer boas perguntas, preparar roteiros antes de entrevistar o cientista. Eles não podem chegar à entrevista sem saber o que perguntar. Fazer boas perguntas é um trabalho fundamental tanto de jornalistas quanto de cientistas, cada um dentro da sua área.

 

Agência Fapeam – Ainda há disparidades na produção científica entre as regiões  Sul/Sudeste e as regiões Norte/Nordeste?

 

Ildeu de Castro – Sim. Mas temos avançado em relação à questão. Todavia é preciso ressaltar que antes de analisar as disparidades regionais, há de se observar as disparidades sociais. Alguns dos principais museus no Rio de Janeiro, por exemplo, estão localizados na zona sul. A periferia não tem acesso. É necessário observar mais atentamente a questão. Por outro lado, a FAPEAM faz um belo trabalho ao descentralizar o acesso à ciência por meio do Programa Ciência na Escola (PCE), uma vez que permite que jovens do interior do Amazonas tenham a mesma oportunidade dos  jovens da capital.

 

 

Carlos Fábio Guimarães – Agência Fapeam

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