Cientista expõe visão sobre a Manaus de hoje e o meio ambiente
O 1º Seminário Internacional de Ciências Ambientais e sustentabilidade na Amazônia e a 1ª Mostra e Intercâmbio de Experiências em Educação Ambiental na Amazônia reuniram em Manaus, no período de 15 a 19, pesquisadores, professores e estudantes na Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Entre os diversos temas, a relação entre o homem e o meio ambiente e as ações para preservação do planeta tomaram conta das discussões. A Agência de Notícias da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM), que deu suporte financeiro aos eventos, pegou carona nas discussões e entrevistou o professor e pesquisador da Ufam Ricardo José Batista Nogueira, doutor em Geografia Humana, e que participou do evento. Nesta entrevista exclusiva ele faz uma análise sobre a relação do homem urbano com a natureza e o que precisa ser feito para o bem do planeta. Confira a entrevista completa.
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Agência Fapeam: Como o senhor observa hoje a relação do setor urbano frente à poluição ambiental?
Ricardo Noqueira: Uma das questões prioritárias, quando se pensa em urbanização e meio ambiente, diz respeito à aglomeração nas grandes cidades. Um contingente populacional enorme, ou podemos dizer que, qualquer cidade acima de um milhão de habitantes já apresenta inúmeros problemas urbanos. Isso não significa que as pequenas cidades não tenham seus problemas urbanos também, de acordo com suas dimensões. Imaginemos, por exemplo, grandes cidades como México, São Paulo e Tóquio, que necessitam mobilizar recursos para abastecimento de água, coleta de lixo, trânsito, habitação e tantos outros itens. Claro que, nessa dimensão, as cidades terão inúmeros problemas urbanos. Então, não podemos pensar apenas nos problemas ambientais quando se fala em desmatamento, que é apenas um dado específico da questão ambiental, mas as cidades enfrentam problemas terríveis, como por exemplo, o saneamento básico para o abastecimento das aglomerações urbanas.
Agência Fapeam: Em Manaus foram discutidos temas relevantes sobre o Meio Ambiente. Como o senhor trata a questão da Educação Ambiental?
Ricardo Nogueira: Na verdade, essa é uma questão que deve começar a ser tratada em casa, na família, com pequenas atitudes, por exemplo, o saber mínimo de separar e depositar o lixo em determinados locais. Então, começa na infância, com o processo de alfabetização. Essa é a grande questão. Se nós desenvolvermos determinadas atitudes desde a infância, penso que a Educação Ambiental, pode tornar-se algo que viabilizará o próprio futuro da humanidade.
Agência Fapeam: Como o senhor analisa o Plano Diretor de Manaus sobre a questão do Meio Ambiente?
Ricardo Nogueira: Um plano diretor para Manaus ou para qualquer outra grande cidade deve apontar para algumas linhas mestras. Por exemplo, a localização e tratamento de aterros sanitários, formas específicas de coletas de lixo, a utilização de áreas naturais para lazer e contemplação, arborização e destinação de áreas verdes para parques. Verificamos muitas vezes que os conjuntos habitacionais destinam parte das calçadas para área verde. Temos que criar parques dentro de uma determinada proporção para o contingente da população e uma arborização disseminada por toda a cidade, principalmente na cidade de Manaus onde o conforto térmico depende da arborização da cidade.
Agência Fapeam: A cidade de Manaus recebeu nos últimos anos a urbanização dos igarapés, qual sua opinião sobre essa questão?
Ricardo Nogueira: Para quem viu e conheceu a cidade de Manaus de alguns anos com a ocupação maciça de palafitas ao longo dos igarapés, hoje, vemos as ações realizadas pelo governo do estado por meio do convênio realizado com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Esteticamente, é uma coisa fantástica. Acho que seria inimaginável que aquele cenário pudesse ser alterado um dia na cidade de Manaus. É claro que houve uma série de custos sociais, como o deslocamento de pessoas para áreas distantes da cidade, e aí, entra a questão da mobilização no lugar onde se tem um transporte muito precário. Essas pessoas tiveram um certo prejuízo. Agora, sob o ponto de vista ambiental, a tendência é recuperar ambientalmente os igarapés, estamos no caminho certo.
Agência Fapeam: Quais as consequências para uma cidade que apresenta um trânsito desorganizado?
Ricardo Nogueira: A questão do trânsito, não só na cidade de Manaus, mas em outras médias e grandes cidades, está associada a forma como nós concebemos o processo de urbanização. O automóvel tem um papel fundamental na urbanização atual. Não temos um sistema de transporte coletivo que atenda de maneira satisfatória em todo o Brasil, e, além do que, evidentemente, há todo um interesse de bancos para financiamento de carros. Verificamos que a cidade não tem a capacidade estrutural para suportar o grande volume carros. A conseqüência disso, está associada à poluição ambiental.
Foto 1 – Manaus necessita de mais arborização e parques (Foto: Divulgação)
Sebastião Alves – Agência Fapeam