Cientistas apresentam impactos do aquecimento global a deputados na ALE
A proposta do deputado estadual Luiz Castro (PPS), de debater em audência pública o aquecimento global e seus possíveis impactos na Amazônia foi mais uma importante iniciativa para mostrar ao público como a ciência pode contribuir de maneira efetiva para a adoção de políticas públicas na área ambiental. Cientistas do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) apresentaram um resumo do relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), divulgado no dia 2 de fevereiro, e também as implicações do que vem se projetando para a evolução do clima no planeta. A sessão foi realizada hoje, no auditório da Assesmbléia Legislativa do Estado, proposta por Castro, presidente da Comissão do Meio Ambiente.
Na primeira parte, o climatologista Antonio Manzi, do Programa LBA-Inpa (Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia), explicou o que é efeito estufa, diferenciando o aspecto natural desse fenônemo em relação ao efeito estufa antropogênico, provocado pela ação do homem, que contribui significativamente para o aquecimento global e apresentou dados do Relatório do IPCC. “De acordo com o relatório, o acúmulo de carbono na atmosfera resultará na elevação da temperatura da terra nos próximos anos, com seus reflexos na Amazônia. Essas projeções do IPCC foram baseadas na emissão de carbono conseqüente da queima de combustíveis fósseis (carvão, petróleo, etc), responsáveis pela emissão dos gases de efeito estufa”, afirmou.
Manzi apresentou diferentes cenários para as mudanças climáticas, explicando que as várias possibilidades dependem dos modelos adotados. “As estimativas para o aquecimento global variam de acordo com o modelo de análise. Hoje há mais precisão dos modelos matemáticos usados para calcular as conseqüências do efeito estufa e também o aquecimento da Terra”. O pesquisador apresentou resultados do LBA que mostram que as florestas naturais da Amazônia estariam seqüestrando boa parte do excesso de CO2 da atmosfera, que seria da mesma ordem de grandeza das emissões por desflorestamentos. Mostrou, ainda, alguns impactos que as mudancas climáticas causam na saúde, como o aumento do número de mosquitos da malária, dengue, etc.
Depois de Manzi, foi a vez do biólogo Philip Fearnside fazer a sua explanação. Ele falou sobre o El Niño (aquecimento do oceano Pacífico responsável pelas mudanças climáticas em várias regiões do mundo, como, secas, chuvas torrenciais e ondas de calor) e suas conseqüências, mostrando as oscilações de sua ocorrência nos últimos anos. Fearnside disse que o modelo do Hadley Center consegue reproduzir os el niños que acontecem no presente e que por isso as previsoes desse modelo devem ser mais confiaveis que as dos outros modelos. O modelo do Hadley Center preve um el nino quase continuo depois de 2050 e isso afetaria boa parte da Amazonia, com reducao de chuvas. O pesquisador também apresentou valores de emissões de gases de efeito estufa devidas aos desflorestamentos da Amazônia.
Tanto Philip quanto Manzi apresentaram, respectivamente, dados observacionais de mortalidade de grandes árvores em situações de fragmentação da floresta e dos experimentos de exclusão de chuvas, que simulam o efeito El niño.
O diretor do Inpa, Adalbeto Val, destacou a iniciativa do deputado Luiz Castro de promover esse debate porque “a questão não é um problema de climatologia, de efeito estufa ou de aquecimento global, apenas, mas sim uma questão social”. Para Val, é preciso haver uma postura do Governo Federal no que diz respeito ao financiamento das pesquisas na e para a Amazônia. “O nosso instituto recebe R$ 15 milhões/ano, dos quais um terço vai para despesas com segurança. Com esse orçamento, é impossível responder às demandas. Há décadas e décadas a Amazônia vem sendo relegada. Cadê a ação do Governo Federal para fixar pessoal qualificado aqui? Nós temos pouco mais de 1.500 doutores na região, é um número ínfimo se compararmos às nossas necessidades”, disse.
Fapeam apóia pesquisas
Adalberto Val também salientou a importância da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) que, além de abrir novas perspectivas de financiamento para a pesquisa na região, tem um papel fundamental na capacitação de recursos humanos. O problema, segundo ele, é que muitos se capacitam, mas não se fixam na Amazônia. “Nós precisamos de gente aqui. Mas isso deve ser um compromisso do País e não apenas nosso ou da Fapeam. Ou a Amazônia faz parte da agenda nacional de igual para igual com outras regiões ou vamos ficar para trás ”, afirmou Val, acrescentando que o Inpa já vem dando, ao longo de seus 52 anos, respostas importantes à sociedade.
Representando o diretor-presidente da Fapeam, a professora Elisabete Brocki reafirmou o compromisso da fundação com o avanço da ciência não apenas no Estado, mas na região como um todo, falou dos diversos programas de incentivo à pesquisa, desde à iniciação científica ao nível mais alto, destacou as parcerias que viabilizam a vinda de pesquisadores de outros Estados para atuarem em instituições locais, anunciou os novos cursos de pós-graduação que estão sendo implementados, como o mestrado profissionalizante no ensino de ciências e o de mestrado e doutorado em Clima e Ambiente – “estratégicos para a Amazônia”. Brocki falou da preocupação com popularização da ciência, mencionado o programa piloto de Comunicação Científica que a Fapeam desenvolveu como meio de levar o conhecimento científico à população.
Apesar da pouca participação dos deputados da casa, Luiz Castro considerou a experiência positiva.“Serviu para que os parlamentares pudessem interagir com os pesquisadores a respeito das conseqüências do aquecimento global e propor medidas que criem ‘amor e respeito’ pelo planeta”, declarou. A secretária de Estado da Ciência e Tecnologia, Marilene Corrêa, também se manifestou, parabenizando o deputado pela iniciativa. Ela cobrou dos políticos um comprometimento maior com a Amazônia e disse que o Governo do Estado tem feito a sua parte. “Nos próximos dez anos, nós vamos investir 15 milhões em ciência e tecnologia”, afirmou. Além do Inpa, da SECT e da Fapeam, se fizeram presentes a Embrapa, o Ibama, a Petrobras e a Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SDS).
Ana Paula Freire – Decon/Fapeam