Cientistas descobrem ramificações ancestrais de espécies de macacos


06/03/2013 – Os macacos-prego e caiararas existem na América Central, na Amazônia inteira, no cerrado, na caatinga e em toda a mata atlântica, chegando até a Argentina. Nessa extensão variam muito em forma, cor, tamanho, preferências alimentares e comportamento. São primatas marcantes, com um sistema social complexo e capazes de usar ferramentas, uma habilidade rara.

Mesmo diante da grande variação entre espécies, os especialistas classificavam macacos-prego e caiararas no mesmo gênero, Cebus, e boa parte deles respondia nos registros científicos pelo nome Cebus apella. Nos últimos 10 anos, a classificação desses primatas vem passando por uma revolução, com base no trabalho de pesquisadores brasileiros e de fora. "A taxonomia deles ainda seguia o trabalho dos naturalistas. A era da tecnologia molecular está permitindo toda uma reorganização", disse o primatólogo brasileiro Jean-Philippe Boubli. Junto com a colega norte-americana Jessica Lynch Alfaro, da Universidade da Califórnia em Los Angeles, ele – à época pesquisador na Wildlife Conservation Society – organizou um simpósio sobre esses macacos em um congresso em 2010 no Japão. Reunindo os pesquisadores que mais estavam trazendo novidades ao conhecimento sobre esses primatas, o encontro deu origem a um volume especial da revista American Journal of Primatology, publicado em abril de 2012.

Quando estudava o comportamento desses macacos em Caratinga, Minas Gerais, Alfaro via diferenças entre eles e os de outros lugares, mas não tinha contexto evolutivo para avaliar de onde elas vinham. "Não sabíamos há quanto tempo os grupos estavam separados ou qual o parentesco entre eles", contou. Hoje o animal que ela estudava se chama Sapajus nigritus, diferente de como era conhecido tanto em gênero como espécie. O pontapé inicial da mudança foi sugerido por José de Sousa e Silva Júnior em seu doutorado, concluído em 2001 pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ele propôs dois subgêneros: Cebus para os caiararas, mais esguios, distribuídos da Amazônia para o norte, e Sapajus para os macacos-prego, mais robustos e muitas vezes caracterizados por um topete na cabeça, espalhados da Amazônia para o sul. "Ele foi corajoso em propor a divisão, mas agora podemos ir além", avaliou Boubli.

Somente agora, uma década depois, a subdivisão ampliou-se em trabalho de Alfaro, Boubli e colaboradores publicado em fevereiro de 2012, na revista Journal of Biogeography. Por meio de amplas análises genéticas, feitas sobretudo no laboratório de Alfaro, mas também no de Izeni Farias, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), ficou demonstrado que Cebus e Sapajus são diferentes a ponto de serem considerados gêneros distintos embora de tamanho parecido, ambos com pouco mais de 2 quilogramas. Mais especificamente, o estudo mostra que as duas linhagens se separaram há mais de 6 milhões de anos – mesmo tempo que separa o surgimento de chimpanzés e de seres humanos a partir de um ancestral comum. A mudança foi aceita pela maior parte dos primatólogos e está na Lista anotada dos mamíferos do Brasil publicada em abril de 2012,  pela Conservation International. Mas não é unanimidade, como é costume no meio científico. Em comentário recém-publicado no site da American Journal of Primatology, Alfred Rosenberger, do Brooklyn College, em Nova York, defende que a divisão dos macacos-prego e caiararas foi apressada e até certo ponto desnecessária. Embora não critique os fundamentos genéticos, ele argumenta que uma repartição exagerada pode criar espécies raras que angariam mais recursos para conservação, mesmo que não se justifique do ponto de vista científico. A discussão envereda mais para o campo filosófico, com base na fluidez do conceito de espécie, que não tem fronteiras definidas.

Em entrevista à Fapesp, o etólogo e pesquisador do Departamento de Psicologia Experimental da Universidade de São Paulo (USP), Tiago Falótico, explica o comportamento dos macacos-prego e caiararas e as novas descobertas destas espécies. Confira na reportagem!

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Fonte: Maria Guimarães – Revista Pesquisa Fapesp

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