Cientistas discutem temas amazônicos em seminário


Quanto custa a biodiversidade amazônica? É uma resposta difícil de obter. Mas, para o cientista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e da Universidade Federal de Rondônia (Unir), Rodrigo Guerino Stabeli, ela tem muito mais valor do que substituí-la por pasto para a criação de gado. Hoje, segundo o pesquisador, o miligrama de uma serpente amazônica, por exemplo, custa cerca de 300 euros.

De acordo com Stabeli, em um hectare de mata virgem é possível encontrar, em média, 30 espécies de um tipo de jararaca amazônica. A serpente possui três enzimas importantes que podem ser usadas no tratamento de angina. “Considerando que cada serpente pode produzir 20 miligramas por semana do produto, o valor agregado é bem maior do que a criação de gado em Rondônia, por exemplo”, observou.

A declaração foi dada durante o seminário “Ciência na Amazônia”, realizado na última sexta-feira (10/7), no Instituto de Pesquisas da Amazônia (Inpa). O evento consistiu na discussão sobre temas amazônicos por cientistas da região, entre os quais estavam Philip Fearnside e Ilse Walker, ambos do Inpa, que abordaram, respectivamente, a prioridade para viabilizar a compensação de serviços ambientais da floresta em pé e os problemas gerados pela poluição dos igarapés sobre a biodiversidade aquática.

Também ocorreram as palestras: “A zona costeira amazônica brasileira” e “Povoamento das Américas: evidências do mtDNA”, apresentadas, respectivamente, pelas pesquisadoras Luci Cajueiro Carneiro e Andrea Kely Campos Ribeiro dos Santos, ambas da Universidade Federal do Pará (UFPA).

O seminário antecedeu a diplomação dos novos membros afiliados da Academia Brasileira de Ciência (ABC) e a entrega da Menção Honrosa Rio Negro, na Casa da Ciência (Bosque da Ciência) do Inpa.

Sobre o valor da biodiversidade, Stabeli disse que o país está vivendo um momento de transição na cultura econômica e política, no qual há um incentivo voltado para a biodiversidade. Ou seja, para a conservação do carbono ou desenvolvimento sustentável. Ele explicou que a nova visão vai de encontro à base que sustentou as exportações brasileiras, por exemplo, a carne bovina.

“Criar gado em Rondônia ou no Pará é bem mais caro do que em Santa Catarina. Não há técnicas de cultivo, correção do solo. Isso faz com que aumente o tamanho da pastagem por cabeça para obter lucro, o que não compensa. Ganha-se apenas R$ 480 por hectare na criação”, salientou.

Segundo o pesquisador, Santa Catarina tem o melhor sistema agropecuário, que é feito em pequeno latifúndio e rotatividade do pasto. Ou seja, quando a cabeça de gado sai da área degradada, ela é substituída por outros plantios, como arroz, feijão, milho e soja. Com isso, não fica restrito somente a criação de gado. “O peso médio de um boi gordo é de 16 arrobas. Os catarinenses atingem o peso em dois anos, enquanto Rondônia em quatro anos”, demonstrou, acrescentando que os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2008 e foram usados para demonstrar que a biodiversidade tem mais valor agregado do que a criação de bois.

Pesquisas contra leishmaniose

Trabalhos realizados pela Fiocruz de Rondônia demonstraram que uma espécie de pimenta da região pode usada contra a leishmania. Ela produz uma substância que tem potencial bioativo. Os cientistas estão na fase de testes com animais. É uma substância purificada e de fácil síntese. Ou seja, não precisa ser cultivada para ser purificada, mas pode ser produzida sinteticamente. Os pesquisadores já entraram com o pedido de patente nacional e internacional.

“Esse tipo de projeto pode contribuir para a diminuição das importações dos medicamentos usados no tratamento desta doença. Com a pesquisa, tentamos atacar a doença por meio de rotas metabólicas que o homem não tem. Ou seja, reduzir os efeitos colaterais. A quimioterapia utilizada no tratamento da malária e da leishmania é agressiva, pois causa toxicidade celular no fígado e tecidos epiteliais. Temos que achar medicamentos que sejam agressivos somente ao parasita. Hoje, há duas drogas potenciais contra a leishmania. Uma tem cinco anos e outra três, ambas em fase de testes”, afirmou.

Novos membros da ABC e Menção Honrosa Rio Negro

O pesquisador Rodrigo Guerino Stabeli foi o primeiro cientista de Rondônia diplomado pela representação da região Norte da Academia Brasileira de Ciência (ABC). Juntamente com ele, também foram afiliadas as pesquisadoras Andrea Kely Campos Ribeiro dos Santos e Luci Cajueiro Carneiro, ambas da Universidade Federal do Pará (UFPA), e os cientistas Pedro Walfir Martins e Souza Filho e Marcelo Menin, ambos da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).

Durante a Menção Honrosa Rio Negro, foram homenageados, com medalhas e diplomas, a senadora, Marina Osmarina Marina Silva, a cientista do Inpa, Ilse Walker, e o secretário de Ciência e Tecnologia do Amazonas, José Aldemir de Oliveira. Na ocasião, estiveram presentes o vice-presidente da regional da ABC, Adalberto Val, o presidente da ABC, Jacob Palis, e o diretor presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), Odenildo Teixeira Sena, além de várias autoridades locais, pesquisadores e professores.

Luís Mansuêto – Agência Fapeam

Deixe um novo comentário

O seu endereço de email não será publicado Campos obrigatórios são marcados *