Circuitos integrados de alta complexidade são desenvolvidos no Nordeste
Pesquisadores de universidades brasileiras desenvolvem circuitos integrados de alta complexidade São circuitos integrados projetados, pela primeira vez, em três universidades do País no contexto do projeto Brazil-IP, financiado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) e administrado pelo Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste (Cetene). Participam do projeto mais de 70 alunos e 16 professores de oito universidades.
Os chips foram desenvolvidos, respectivamente, por grupos de alunos do Centro de Informática da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), do Instituto de Computação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e do Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG).
Os pesquisadores trabalharam em todas as etapas de desenvolvimento dos três circuitos integrados: um processador 8051, um decodificador MP3 e um decodificador MPEG4. Os três chips são conhecidos internacionalmente, uma vez que são "peças-chave" na composição de vários sistemas utilizados na área de TV digital e multimídia.
Por exemplo, uma versão ampliada do decodificador MPEG4 está no coração de todo setop-box, equipamento necessário ao funcionamento de um aparelho de TV digital. Daí a importância do trabalho: o desenvolvimento de circuitos integrados complexos, seguindo padrões internacionais de qualidade.
Ainda que já tenham sido desenvolvidos anteriormente por grandes empresas no exterior, o processador 8051 e os decodificadores MP3 e MPEG4 são circuitos de altíssima complexidade, cuja tecnologia ainda não havia sido dominada por nenhuma universidade ou centro de pesquisa brasileiro.
"São projetos de extrema complexidade, não triviais, desenvolvidos por alunos de graduação", explica a professora Edna Barros, do Centro de Informática da UFPE e uma das coordenadoras do projeto, juntamente com os professores Guido Araújo (Unicamp) e Elmar Melcher (UFCG).
Todos os circuitos funcionaram na primeira vez em que foram testados. "São os maiores já desenvolvidos por instituições brasileiras, e conseguir desenvolver um circuito complexo que funciona na primeira rodada (first time silicon) não foi algo simples", complementa o professor da UFPE, Manoel Eusebio de Lima, um dos participantes do Brazil-IP.
No Brasil, apenas uma indústria, a norte-americana Freescale – instalada em Jaguariúna (SP) – desenvolve projetos de circuitos integrados dessa complexidade.
O objetivo do projeto Brazil-IP é formar recursos humanos qualificados para projetar circuitos integrados e estruturar a área de design de módulos de propriedade intelectual (IP-cores) no Brasil. Orçado em R$ 2 milhões, o Brazil-IP já recebeu recursos da ordem de R$ 1,8 milhão, utilizados para aquisição de equipamentos, softwares e placas, treinamento de professores e alunos, bolsas de estudo e viagens de intercâmbio. Foram realizados cinco treinamentos com a participação de representantes de todas as instituições envolvidas.
Os chips foram apresentados em dezembro passado na Conferência IP-Soc 2006 (IP-Based SoC Design Conference & Exhibition), na França, e receberam o prêmio Best-IP Prize.
Em uma primeira fase, os estudantes implementaram os circuitos em tecnologia FPGA para prototipagem rápida. Na segunda fase do projeto foram desenvolvidos os circuitos integrados propriamente ditos. A UFPE, a UFCG e a Unicamp cumpriram essas duas fases.
Também participam do projeto Brazil-IP as universidades de São Paulo (USP), Federal de Minas Gerais (UFMG), Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e a Universidade de Brasília (UnB). Essas universidades cumpriram ou estão concluindo a primeira fase do programa, e algumas estão caminhando na direção da conclusão da segunda fase.
Os três grupos que desenvolveram os circuitos integrados (UFPE, Unicamp e UFCG) fazem parte, hoje, do Laboratório para Integração de Circuitos e Sistemas (LINCS), uma design house do Cetene. Este laboratório é membro do programa CI-Brasil, uma das iniciativas do MCT, que tem por missão executar a Política Industrial de Semicondutores do governo federal.
Mais informações, no endereço: http://www.ic.unicamp.br/~guido/brazilip/chips/, ou no Cetene e Centro de Informática da UFPE, com Edna Barros, no tel.: (81) 8835 1333