Composto do café é semelhante à morfina, indica pesquisa brasileira
Substâncias encontradas no café têm propriedade similar às da morfina, fármaco muito utilizado na medicina por ser um eficaz analgésico e ansiolítico. A descoberta foi feita por pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e da Universidade de Brasília (UnB). O estudo mostra ainda que peptídeos (compostos formados por aminoácidos) encontrados na planta podem proporcionar um efeito mais duradouro que o do famoso anestésico, o que abre caminho para o desenvolvimento de novos remédios.
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A pesquisa surgiu da tese de doutorado de Felipe Vineck no Departamento de Biologia Molecular da UnB, que começou o trabalho estudando o genoma do café. “Identifiquei novos genes expressos na planta quando ela era submetida à seca. A partir daí, começamos a fazer outras interligações no meu projeto, orientado por Carlos Bloch Júnior, pesquisador da Embrapa”, conta o cientista. Foi durante a análise desses novos genes que Vineck encontrou, dentro de algumas proteínas, os peptídeos capazes de gerar efeito semelhante ao da morfina. “Ao identificá-los, resolvi desenvolver cópias sintéticas em laboratório, que foram testadas em camundongos”, explica.
Os experimentos mostraram o poder dos novos ingredientes. “(O efeito de) Uma dose de morfina dura de 40 minutos a uma hora. Observamos que a cópia teve efeito nos animais por quatro horas”, destaca Vineck. O resultado indica a possibilidade de se criar um medicamento que seja usado de forma complementar ao anestésico já conhecido. “A morfina age na hora, mas essa nova proteína demora cerca de 40 minutos para fazer efeito. Por conta disso, poderíamos administrar as duas juntas, para que uma complementasse a outra, garantindo efeito rápido e duração longa no organismo”, esclarece. Outra vantagem, segundo o pesquisador, seria a redução de efeitos colaterais da morfina. “A morfina possui altos riscos de dependência caso grandes quantidades sejam injetadas. Reduzindo essa quantidade, nos diminuímos essa possibilidade”, completa.
Os envolvidos no estudo enxergam outras possibilidades de uso para esses peptídeos recém-descobertos. “Eles também têm o que chamamos de atividade ansiolítica, que diminui a ansiedade do indivíduo, e pode, assim, ser usada como inibidor de apetite”, diz o pesquisador da UnB. Segundo Vineck, o estudo terá continuidade, agora que o pedido de patente das substâncias foi feito. “O próximo passo é realizar mais testes para ajustar as doses. Outro ponto importante seria contar com parcerias de fabricantes de medicamentos”, antecipa.
Fonte: Correio Braziliense
Foto: Gustavo Moreno/CB/D. A Press