Composto interrompe morte de neurônios relacionada a doenças degenerativas


14/10/2013 – Cientistas britânicos testaram com sucesso em camundongos um composto capaz  de interromper o mecanismo responsável pela morte de neurônios associada a  doenças como os males de Alzheimer e Parkinson. A descoberta está sendo saudada  como um “marco histórico” na luta contra estas e outras demências relacionadas à  idade, que devem afetar um número cada vez maior de pessoas à medida que a  população mundial envelhece.

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A droga, desenvolvida pela indústria farmacêutica britânica GlaxoSmithKline  em conjunto com pesquisadores da Universidade de Leicester, no Reino Unido,  “desliga” o sistema UPR ao bloquear a ação de uma enzima batizada PERK que faz  parte de sua ativação. Com isso, os neurônios continuam a fabricar as proteínas  que necessitam, permitindo a sobrevivência das células cerebrais. O composto  ainda tem a vantagem de romper a chamada barreira sangue-cérebro, podendo ser  administrado oralmente, isto é, em pílulas.

Efeitos colaterais

No experimento, relatado na edição desta semana da revista Science  Translational Medicine, os cientistas deram o remédio a 29 camundongos a partir  de sete ou nove semanas depois de terem sido previamente inoculados com uma  doença priônica da mesma família de desordens como a síndrome de  Creuzfeldt-Jakob e o mal da vaca louca, enquanto outro grupo de 17 animais,  também infectados, recebeu apenas o veículo usado para administrar a substância.  Segundo os pesquisadores, após 12 semanas nenhum dos camundongos tratados com o  GSK2606414 apresentava demência, embora os que receberam o composto mais  tardiamente tivessem leve perda de memória por já terem começado a desenvolver a  doença. Os que ficaram sem a droga morreram.

“É um verdadeiro passo à frente”, comentou Giovanna Mallucci, professora da  Universidade de Leicester e chefe da equipe de cientistas responsável pelo  experimento, ao jornal britânico Independent. — Pela primeira vez foi dada uma  substância a camundongos que preveniu uma doença cerebral. O fato de este ser um  composto que pode ser administrado oralmente, que chega ao cérebro e previne uma  doença é único por si só. Agora podemos seguir em frente e desenvolver moléculas  melhores. Não vejo razão para que este processo seja restrito a camundongos e  creio que ele provavelmente poderá ser obtido em outros mamíferos.

Os cientistas alertam, no entanto, que ainda há um longo caminho a percorrer  antes que algum tratamento baseado no composto esteja disponível para seres  humanos. Um dos grandes problemas verificados com o GSK2606414 no experimento é  que ele provoca efeitos colaterais significativos, como perda de peso e uma leve  diabetes devido a danos no pâncreas, que podem se agravar em terapias de longo  prazo. Ainda durante a experiência, alguns camundongos tratados com a droga  tiveram que ser sacrificados para atender a regulamentações britânicas sobre o  bem-estar de animais em laboratório porque perderam muita massa corporal.

“Mas este é o primeiro relato convincente que uma droga pequena, do tipo que  mais convenientemente é convertida em remédios, interrompe a progressiva morte  de neurônios encontrada, por exemplo, no mal de Alzheimer”, avaliou Roger  Morris, chefe do Departamento de Química do King’s College de Londres ao  Independent.  “Esta descoberta, suspeito, será julgada como um marco histórico  na busca por medicamentos para controlar e prevenir o mal de Alzheimer”.

Fonte: O Globo