Concentração de mercúrio é tema de pesquisa no Lago Manacapuru
10/03/2011 – Altas concentrações de mercúrio (Hg) não são encontradas exclusivamente em áreas de garimpo. Regiões como a várzea e igapó também podem apresentar teores elevados da substância no solo, que quando encontrada em abundância tem efeito direto sobre os organismos mediante a bioacumulação (processo em que seres vivos absorvem e retêm substâncias químicas) e a biomagnificação (aumento da concentração de uma substância ou elemento nos organismos vivos, à medida que percorre a cadeia alimentar e passa a se acumular no nível trófico mais elevado).
Uma pesquisa intitulada ‘Fluxo do mercúrio em componentes bióticos e abióticos de um ecossistema de várzea – Lago Manacapuru – Amazônia Central’ em andamento no Lago Manacapuru está sendo desenvolvida pela doutoranda em Ciências Pesqueiras nos Trópicos da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Sandra Beltran-Pedreros. O trabalho tem como metas descrever e quantificar as vias do fluxo de mercúrio no ecossistema de várzea dos níveis bióticos e abióticos, além de quantificar a magnitude da biomagnificação de mercúrio na cadeia alimentar e a taxa de bioacumulação nas espécies de peixes.
A pesquisadora explica que a biodisponibilidade do mercúrio para a cadeia trófica aquática neste tipo de ambiente está relacionada à presença de bactérias com a capacidade de transformar formas inorgânicas de mercúrio em formas orgânicas por meio de processos de metilação. “Essa transformação produz a forma orgânica mais perigosa à saúde, o metilmercúrio (MetilHg)”, afirmou.
As informações sobre concentração, transporte e dinâmica do mercúrio e metilHg são necessárias para predizer o impacto para os seres humanos, bem como avaliar a qualidade do ambiente. “Pouco ainda se conhece da biogeoquímica do mercúrio em áreas alagáveis como a várzea e igapó, assim como as concentrações, fator de bioconcentração, biomagnificação e bioacumulação do metal presentes nos componentes bióticos e abióticos”, frisou.
Resultados
Os resultados do estudo podem ser divididos em três linhas que possibilitam conhecer as concentrações de mercúrio presentes no ambiente (macrófitas, ou plantas aquáticas; água e sedimentos; e em peixes de importância comercial).
Para a pesquisadora, a partir das informações contidas nos resultados é possível definir estratégias de manejo dos recursos aquáticos e de controle das fontes de poluição. “A ideia é tornar o Lago de Manacapuru um local de constante monitoramento do mercúrio como forma de ponderar estratégias de controle e mediação, e de avaliar os efeitos da substância a longo prazo no ecossistema aquático”, explicou.
Macrófitas aquáticas
Os maiores teores de mercúrio total nas raízes das macrófitas se relacionam ao ciclo de inundação durante a enchente. Os sedimentos de material são incorporados à coluna de água aumentando a disponibilidade de nutrientes e facilitando a recolonização do ambiente aquático pelas macrófitas, que por sua vez, retêm o material particulado, o que favorece o crescimento de perifíton (fina camada de seres vivos, ou seus detritos, que colonizam superfícies sólidas em habitats aquáticos) associado às raízes.
As concentrações de mercúrio total foram maiores nas raízes do que nas folhas (75,32ng/g e 48,15ng/g, respectivamente), segundo Beltran-Pedreros. “Isso é explicado pela presença de perifíton associado às raízes que acumulam material particulado fino, rico em mercúrio, aumentando sua metilação e disponibilidade para a cadeia trófica”, declarou.
Água e sedimento
Os resultados dos níveis de mercúrio total para água estão dentro dos limites permitidos para água doce segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), sendo o máximo 10 µg/l. Os valores médios encontrados para sedimentos estão dentro da faixa dos registros da literatura para rios amazônicos não contaminados (50ng/g – 280 ng/g). Na média geral, foi a vazante seguida da seca que apontou os períodos com maiores teores de mercúrio total.
Peixes de importância comercial
Nas 32 espécies de peixes analisadas, pertencentes a três níveis e nove categorias tróficas, houve evidência de biomagnificação, com aumento da concentração média de mercúrio total na cadeia trófica em onívoros, piscívoros, carnívoros-necrófagos, e fatores de biomagnificação de 0,27ng/g em consumidores primários, 0,33ng/g em consumidores secundários e 0,47ng/g em consumidores terciários.
As espécies, pescada – Plagioscion squamosissimus (carnívoro/piscívoro) e piracatinga – Calophysus macropterus (carnívoro/necrófago) tiveram níveis de mercúrio acima do limite permitido por lei (500ng/g).
O caso da piracatinga
A pesquisadora explicou que a piracatinga (Calophysus macropterus), um peixe de importância comercial tanto nacional quanto internacional, que por possuir hábitos necrófagos, não é muito consumida na região, tem elevado teor de mercúrio em seu organismo.
Segundo a pesquisa, os níveis de mercúrio em exemplares de 15 cm a 42 cm indicaram que esta espécie representa alto risco para o consumo humano por apresentar teores maiores a 1000ng/g definidos como máximo permitido para peixes carnívoros pela OMS.
Apoio da FAPEAM
Para a realização do projeto, Beltran-Pedreros recebeu recursos no valor de R$ 17 mil do Programa Integrado de Pesquisa e Inovação Tecnológica (Pipt) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM).
Para conhecer outros programas, acesse www.fapeam.am.gov.br.
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Imagem 1: Ciclo do mercúrio no ambiente (Divulgação)
Redação: Anamaria Leventi
Edição: Fábio Guimarães – Agência FAPEAM