Confap quer rede de pesquisa na Amazônia
Em entrevista veiculada no site da recém-criada Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Pará (Fapespa), Odenildo Sena defende ações integradas para fortalecer a Amazônia. Confira:
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Presente na cerimônia de posse do Conselho Superior da Fapespa, o presidente do Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa, Confap, professor-doutor Odenildo Sena, concedeu-nos esta entrevista, em que defende a criação de uma rede de pesquisa de interesse amazônica, além de um programa de mobilidade docente entre pesquisadores da região. Na entrevista, Sena, que também é presidente da Fapeam, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas, disse que a produção do conhecimento é a forma mais sensata para contribuir com o desenvolvimento da Amazônia.
FW: O Senhor esteve em Belém para prestigiar a posse do Conselho Superior da Fapespa, aliás, em cerimônia da qual participou o Ministro Roberto Mangabeira Unger. Na qualidade de presidente do Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa, como é que o Senhor recebe a criação da Fapespa?
OS: Com muita alegria. A ousadia da governadora Ana Júlia de implementar a Fapespa contribui, e muito, para o fortalecimento dos sistemas estaduais da Região Norte, uma vez que, a partir de agora, haverá uma voz a mais na luta pela descentralização dos investimentos em C & T e, com isso, o desafio de brigar pela redução das desigualdades fica menos desigual. Ao lado disso, a exemplo do que acontece no Amazonas desde 2003, com a implementação da Fapeam pelo Governador Eduardo Braga, os avanços no Estado do Pará serão consideráveis. Em pouquíssimo tempo, a comunidade acadêmica e de pesquisadores sentirá esses impactos, e em médio tempo, esses efeitos serão sentidos pela população desse Estado.
FW: Dentro de uma perspectiva Institucional, como é que a Confap, enquanto entidade representativa das fundações estaduais de amparo à pesquisa, pode colaborar com a Fapespa no sentido de incentivar a ciência, a tecnologia e a inovação no Estado do Pará?
OS: A criação da Fapespa coloca a instituição imediatamente na condição de membro do Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa. Esse trabalho em conjunto, ratificado sempre em nossas reuniões técnicas e em nossos fóruns conjuntos com os Secretários Estaduais de Ciência e Tecnologia – Consecti – fortalece os nossos pleitos junto às autoridades e agências federais. Para ficar num só exemplo, hoje o Confap tem assento no Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia. Particularmente, como eu dizia antes, a Região Norte é bastante carente. Nós temos apenas 4% de todos os pesquisadores-doutores do país, os recursos federais ainda continuam tomando sempre o rumo do sul e do sudeste, o que nos coloca numa condição bem precária. Às vezes, parece até que somos um outro Brasil. Precisamos, portanto, nos fortalecer no plano regional e nacional. E isso é mais fácil com o poder agregador do Confap.
FW: Ainda dentro desta mesma perspectiva, que tipo de parcerias estratégicas podem ser estabelecidas entre a Fapeam, Fundação que o senhor preside, e a Fapespa?
OS: Em todos os sentidos nós podemos nos unir: partilhando as diferentes competências nas diversas áreas do conhecimento, sediadas no Pará e no Amazonas; tirando proveito daquilo que já conseguimos avançar nesses últimos cinco anos, o que, em algumas circunstâncias, poderá encurtar caminhos para a Fapespa; investindo – e essa será uma experiência nova entre faps – conjuntamente na formação de redes de pesquisa que sejam de interesse dos dois Estados, por exemplo, a partir deste ano pretendemos aqui no Amazonas estimular uma rede de pesquisa na área da malária, que continua sendo um desafio para os dois estados, na área de biotecnologia, uma vez que aí se encontra um vasto e importante caminho científico e econômico a ser percorrido também pelos dois estados. Penso, também, e essa idéia me veio à cabeça neste momento, que podemos criar conjuntamente um programa de mobilidade docente, permitindo que pesquisadores do Pará e do Amazonas possam, reciprocamente, desenvolver ações docentes e de pesquisa. Enfim, estamos à disposição para conversar sobre tudo isso.
FW: Como é que estas parcerias entre Fapeam e Fapespa podem contribuir para o desenvolvimento da Região Amazônica?
OS: Penso que nós, aqui na Região Norte, precisamos nos mirar, por exemplo, na experiência de nossos vizinhos da Região Nordeste. Eles enfrentam tantas dificuldades quanto nós, mas têm conseguido superar obstáculos e crescer em C & T graças à união. Nós aqui somos frágeis porque nos dividimos. Eu tenho dito que nós precisamos correr desesperadamente atrás do enorme atraso que é contar com um número tão pequenos de pesquisadores-doutores em uma região riquíssima que tem tanto a ser estudada. A forma mais sensata de contribuirmos para o adequado desenvolvimento da Região Amazônica é produzimos o máximo de conhecimento sobre ela. E esse caminho pode ser menos árduo se juntarmos nossas forças.
FW: Sabe-se que a Fapeam criou uma agência de notícias, de onde se pode deduzir tanto o crescimento da produção da pesquisa no Estado do Amazonas, quanto um projeto de comunicação Institucional voltado para a sociedade de uma forma global. Fale-nos desta ação no contexto da globalização.
OS: Eu vejo essa questão sob várias perspectivas. Um projeto de divulgação e, sobretudo, de difusão da ciência, é fundamental por várias razões. Primeiramente, porque é preciso prestar contas à população dos recursos investidos, uma vez, inclusive que é a ela que se deve destinar os resultados e produtos desses investimentos. Depois, porque eu julgo da maior importância, inclusive do ponto de vista político, que a sociedade entenda quais os impactos da pesquisa em seu dia-a-dia. Ela precisa saber, para ficar num exemplo bem simples, que ao ligar um simples interruptor para acender uma lâmpada ou a ingerir um comprimido que alivia a dor, ela está diante de coisas que exigiram, muitas vezes, décadas e até séculos de pesquisa e o envolvimento de dezenas e centenas de pessoas e gerações e gerações. Por que isso é importante? Porque assim compreendendo, além da comunidade científica, as ações em C & T passam a contar com a cumplicidade da população, e é só por aí que nós conseguiremos consolidar uma instituição como a Fapespa ou a Fapeam.
FW: No âmbito da produção científica e tecnológica amazônica, o que o senhor pensa desta proposta do Ministro Roberto Mangabeira Unger – transformar a Amazônia em um grande laboratório nacional para a criação de um projeto de reconstrução econômica e institucional do país?
OS: Eu tenho opinião bem formada acerca disso e ela foi manifestada quando da passagem do Ministro aqui por Manaus, na seqüência da visita feita a Belém e Santarém. Afora alguns balões de ensaio que saltam de sua fala, eu penso que muito do que ele diz não representa novidade, muito pelo contrário, é recorrente nas últimas décadas. Eu diria, em síntese, que nós estamos cansados de ver todo mundo, em qualquer lugar, aqui e lá fora, fazer marketing em cima da marca Amazônia. Todo mundo diz que a Amazônia é estratégica para o país, mas isso não tem efetivamente se transformado em investimentos para a região. É só balela e discurso! Aqui no caso do Amazonas, não fosse a coragem e a ousadia do governador Eduardo Braga de investir em Ciência, Tecnologia e formação de recursos humanos altamente qualificados, a situação continuaria precária. Por isso que, também, volto a dizer, é louvável a iniciativa da governadora Ana Júlia de criar a Fapespa. Eu lançaria um só desafio, para ficar num só exemplo, a todos que espalham aos quatro cantos que a Amazônia é estratégica para o país: hoje nós temos em toda a Região Norte em torno de 2 mil pesquisadores. É um número infinitamente pequeno para vencer alguns dos desafios postos para a região. Nós precisamos de, pelo menos, 10 mil doutores. Injetem recursos, construam parcerias com os Estados, estabeleçamos metas conjuntas e esse cenário mudará em não muito tempo. A Amazônia precisa de ação. E nós, amazônidas, sabemos muito bem o que queremos e como queremos.
FW: O Fórum Social Mundial será realizado em Belém, em 2009, motivo pelo qual no próximo dia 26 de Janeiro, uma ação global marcará o lançamento deste projeto, autônomo e independente, que reúne os movimentos sociais, os seus questionamentos e as suas práticas concretas, contrárias ao neoliberalismo internacional. Como avalia a realização deste movimento na Amazônia?
OS: Positivo em todos os sentidos. Penso até que o Fórum deveria ter suas próximas edições em diferentes estados da Região Norte. Quem sabe assim a Amazônia salte da pauta dos discursos para a ação.
Francisco Weyl – Assessoria de Comunicação Fapespa
Foto: Eunice Pinto – Agência Pará