Crise econômica não deve impedir investimentos em C&T
Em momento de crise aumenta o número de pessoas desempregadas, consequentemente, há diminuição no consumo e dos investimentos em vários setores produtivos. Por isso, a lógica é que os governos também sigam o mesmo caminho, por exemplo, diminuição dos investimentos em ciência e tecnologia (C&T). Correto? Não, errado. É o que garante o pesquisador do Centro de Ciências, Tecnologia e Inovação do Pólo Industrial de Manaus (PIM), Admílton Pinheiro Salazar, doutor em Economia pela Université de Grenoble II.
As discussões sobre a temática fizeram parte da mesa redonda “A crise econômica e seus possíveis impactos sobre a pesquisa”, realizada ontem no auditório professor Paulo Bürhheim, da Fundação Djalma Batista (FDB). A atividade faz parte das comemorações dos 15 anos da FDB, que pretende realizar mensalmente uma palestra sobre um assunto importante para a região ligado a ciência e tecnologia.
Segundo Salazar, a crise é como um furacão que passa causando destruição. Há os que são mais e menos atingidos. No caso da crise econômica mundial, que começou nos Estados Unidos, há os países que serão menos atingidos (que têm uma economia forte e uma clientela maior de compradores e de matéria prima e tecnologia) e os mais atingidos (vendem a maioria de seus produtos para o país onde o furacão iniciou, possuem poucos clientes e não têm variedade de mercadorias).
Mas, então, por que se deve investir em ciência e tecnologia (C&T) mesmo diante da crise? A resposta, de acordo com Salazar, é que a crise um dia irá passar e os que menos investiram em áreas essenciais para o desenvolvimento do país sentirão os efeitos pós-crise e ficarão para trás.
“A crise atual é de produção e consumo. Está ligada ao capitalismo. Há desemprego em vários setores. Hoje, estamos na fase de desemprego, mas ainda não há recessão. O país está em uma boa posição, pois tem uma diversidade de produtos vendidos e de países compradores. Com o avanço científico é possível diminuir os custos de produção, tecnologias e possibilitar a melhoria da qualidade de vida das pessoas”, explica.
Salazar diz que o Brasil está melhor do que outros países da América do Sul, como Argentina e Chile. Ele ressalta que os países que podem ser mais afetados são o México e o Canadá. Isso porque, por exemplo, 60% da economia mexicana depende dos EUA, assim como os canadenses.
O pesquisador avisa que nos momentos de crise surgem as oportunidades para inovar. “Há uma miopia do governo em relação a diminuir os recursos para a área científica e tecnológica”, lamenta.
Para o representante da Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia (SECT), Marcílio de Freitas, a crise é um reflexo do reordenamento econômico mundial e tem consequências na ciência e na tecnologia. Ele diz que, apesar de o setor produtivo estar sendo afetado, a ciência vê o mercado como inimigo, mas ela se realiza no mercado.
“Isso ocorre porque há dificuldade de projetos com o mesmo interesse. O pesquisador não foi preparado para isso. O PIM, por exemplo, teve um faturamento de U$ 30 bilhões em 2008, além de ter conectividade com 50 países. A ciência precisa dialogar com o PIM”, ressalta.
O Amazonas já avançou no diálogo entre empresas e academia, segundo o diretor presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), Odenildo Teixeira Sena. Exemplo é o Programa Amazonas de Apoio à Pesquisa, Inovação e Desenvolvimento Tecnológico em Micro e Pequenas Empresas do Estado do Amazonas (Pappe – Subvenção), um convênio com a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) que está na segunda edição.
Sena avisa que a Fapeam não está alheia à crise. Contudo, a Fundação não deixará de investir na formação de recursos humanos, em laboratórios e pesquisa. “A FAP tem apenas seis anos. Muito já se fez no pouco tempo de existência, mas ainda é pouco para fomentar tudo aquilo que ainda precisa ser feito”, salienta.
Segundo Sena, de 2003 a 2008 a Fapeam realizou diversas ações que contribuíram para o desenvolvimento sócio-econômico da região, por exemplo, a criação da Rede Malária que envolve sete Estados e da Rede de Biocosméticos, para a qual serão aportados R$ 7 milhões, além da contrapartida do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), que terá o mesmo valor. Além disso, cerca de 300 estudantes de doutorado receberam bolsa da FAP do Amazonas, contribuindo diretamente para a produção de conhecimento. “Ao longo desse anos, foram disponibilizadas 827 bolsas de mestrado; 2.270 bolsas de Iniciação Científica Júnior; 4.891 bolsas de graduação (Fapeam)”, destaca.
Luís Mansuêto – Agência Fapeam