‘Desmatamento diminuiu, mas não acabou’, afirma Dalton Valeriano


 

Biólogo na modalidade de Ecologia com mestrado em Sensoriamento Remoto pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e doutorado em Geografia pela University of California, Santa Barbara (EUA), Dalton de Morisson Valeriano esteve em Manaus participando de seminários na 5ª Feira Internacional da Amazônia (Fiam 2009). Atualmente como pesquisador do Inpe, ele é um dos responsáveis pela elaboração dos dados sobre desmatamento na Amazônia, trabalhando em duas frentes de pesquisas: a Modelagem Ambiental da Amazônia (Geoma/MAPSAR) e o Sensoriamento Remoto Aplicado em Ecossitemas Terrestres (Prodes). Nesta entrevista concedida à Agência Fapeam, ele fala sobre o seu trabalho e algumas preocupações sobre o clima ligadas ao desmatamento da Amazônia, algo que, segundo ele, precisa de atenção constante por parte de pesquisadores e autoridades.

 

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Agência Fapeam – De que forma o Inpe contribui para um melhor conhecimento sobre as questões ambientais na Amazônia?

Dalton Valeriano – Atualmente, o Inpe mantêm diversos programas nessa área e eu coordeno um deles, que é o Programa Amazônia, que aborda as questões do desmatamento e queimadas nessa região e em toda a América Latina. Nós contribuímos muito na monitoração do clima e previsão de tempo para a Amazônia. Atualmente, nossa atuação chega até o monitoramento do clima espacial a partir de um experimento em Bélem (PA), que mede a magnetosfera, ou seja, o escudo formado pelo campo magnético da terra, no equador e na Amazônia.

Agência Fapeam – Que dados o sensoriamento remoto pode agregar sobre o que já se conhece a respeito dos impactos ambientais?

DV – Nós temos a capacidade de observar por imagens de satélites um espaço ou localidade dentro de um conjunto. Os processos naturais da floresta podem ser acompanhados assim como os processos antropogênicos, ou seja derivados das atividades humanas, assim como os processos hidrológicos quanto ao nível e à qualidade de água em lagos e rios, por exemplo. Isso nos dá a possibilidade de acompanhar as mudanças ambientais de forma detalhada.

Agência Fapeam – Como o senhor avalia o projeto que estuda a Dinâmica do Carbono na Floresta Amazônica (Cadaf), que agora será ampliado com a participação de instituições japonesas?

DV – É um grande projeto, pois assim como a Amazônia, a incerteza sobre os dados e informações relativas ao estoque de carbono na floresta ainda é grande e mais complicado ainda é o acesso a ela. Eu acredito que o esforço do Inpa de inventariar a floresta em várias localidades, que já é importante, agora será ampliado e extrapolado com o uso de imagens de satélites, o que permitirá uma maior precisão para o Brasil em saber o quanto a gente emite de carbono e como podemos reduzir essa emissão no futuro.

Agência Fapeam – Qual a atual taxa atual de desmatamento na Amazônia? Ela é preocupante?

DV – Hoje nós estamos com apenas um terço da média histórica do desmatamento que já tivemos. Nós já tivemos uma redução significativa, mas a nossa proposta é fazer esses índices diminuírem mais ainda e não deixar acontecer com a floresta amazônica o que foi feito com mata atlântica, que foi quase extinta.

Agência Fapeam – Qual a sua perspectiva para a Amazônia se o desmatamento continuar acontecendo, mesmo em escala menor?

DV – Se continuar como está, a floresta amazônica um dia vai acabar (risos). Os dados mostram que o desmatamento diminuiu, mas não acabou, a boa notícia é que agora o processo já não é tão descontrolado como acontecia em um passado recente. Hoje nós temos uma capacidade de controle e isso está sendo feito pelos próprios agentes do desmatamento. Eles estão se dando conta de que existem áreas suficientes para aumentar a produção ou se desenvolver sem desmatar, além do que o desmatamento pode custar caro, como a perda do selo verde necessário a exportação de seus produtos.

Agência Fapeam – Na sua opinião, o que deve ser feito para reverter o atual processo de degradação da floresta?

Dalton Valeriano – É ampliar mais ainda o que já fazemos hoje, ou seja, tornar mais transparente e divulgar o processo de tudo o que está acontecendo. Eu acredito que a transparência é a chave de tudo, pois se um processo de desmatamento é legal não há problema, mas se for ilegal ele estará sendo observado e será descoberto por nós, logo, a transparência encarece o processo de corrupção, tornado-o inviável, e, é claro, os órgãos de fiscalização precisam ser melhor aparelhados, ainda falta uma atuação efetiva do governo.

Ulysses Varela – Agência Fapeam 

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