Dia da Consciência Negra: uma reflexão sobre a questão étnica no País


20/11/2012 – No dia 9 de janeiro de 2003, por meio da Lei 10.639, foi estabelecido o Dia Nacional da Consciência Negra, comemorado no dia 20 de novembro. A data foi escolhida porque no ano de 1695, neste dia, morreu Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares, defendendo seu povo e sua comunidade.

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Nos livros de História e nas aulas aprende-se a importância dos quilombos como representantes da resistência ao sistema escravagista e também uma forma coletiva de manutenção da cultura africana no Brasil.

Atualmente, mesmo ainda diante de alguns preconceitos, observa-se o crescimento da valorização da raça negra em nosso País. Neste cenário, passos importantes estão sendo tomados neste sentido, a exemplo das escolas e universidades, onde os negros têm destaque e grande contribuição no País.

Negro na ciência e no universo do conhecimento

De acordo com a diretora da Editora da Universidade Federal do Amazonas (Edua), professora Iraildes Caldas, no Brasil observa-se um avanço por parte de três importantes marcos nas iniciativas de valorização da raça negra. “O primeiro é a criação da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, o segundo é a aprovação da lei das cotas em universidades para os negros e o terceiro marco é o esforço e contribuição do Estatuto da Igualdade Social para garantir à população negra a efetivação da igualdade de oportunidades”, disse Caldas.

A diretora informou que o Amazonas apresenta iniciativas insipientes em relação à valorização da raça negra. "Ainda existe uma lacuna sobre essa questão aqui no Estado, porém existem estudos e iniciativas sobre a história da raça negra na região. É o caso da doutora e professora Patrícia Sampaio que tem se destacado nos estudos sobre o valor histórico da raça negra no Estado", frisou.

Importância da data

/Para o doutor em Ciências da Comunicação e professor da Universidade de São Paulo (USP), Ricardo Alexino, a reflexão sobre a importância da data merece mais do que uma simples comemoração.

O professor destacou que ao se perguntar sobre tal questão muito irá se falar da sua presença cultural na culinária, na música (samba) e no esporte (futebol e atlestimo). “A historiografia oficial simplesmente apagou ou “clareou” os negros que não estavam nos lugares a ele reservados. Os intelectuais negros, assim como os engenheiros, os médicos, os escritores, os jornalistas, os políticos, os advogados e tantos outros, simplesmente foram readequados ou apagados nos anais da história”, analisou Alexino.

Alexino também ressaltou a participação dos negros no campo do discurso científico. “Ainda considero que o ser negro no Brasil contemporâneo ainda necessita de muitas reflexões. Assim como no século 19, as referências envolvendo os grupos são escassas e os discursos, muitas vezes, beiram o estereótipo”, disse.

Espaço de reflexão

/O professor informou ainda que a África ainda é vista como um ‘país’ e mesmo o mundo árabe, que foi responsável pelo nascimento e desenvolvimento da matemática, da engenharia, da arquitetura, da química, da astronomia, dentre outras áreas, é reduzido equivocadamente às imagens de terroristas e de fanáticos religiosos.

Segundo o professor, o dia 20 de novembro deveria ser um espaço de reflexão sobre a questão étnica no Brasil em seus diferentes aspectos, seja na ciência, economia, política, educação, história e em outros espaços. “Nos municípios que o consideram como feriado, é tido como o feriado mais rejeitado. Há desde os que digam absurdamente que, então, deveria ter o dia da ‘consciência branca’ aos que simplesmente acreditam que a questão étnica não vale tanto. São muitos os talentos negros nos mais diferentes campos de atuação no Brasil, mas estão apagados pela amnésia histórica”, completou.

Perfil dos pesquisadores negros

/O Brasil conta hoje oficialmente com 1.852 pesquisadores negros registrados no sistema da Associação Brasileira de Pesquisadores (as) Negros (as) (ABPN). No 2º Relatório de Perfil dos (as) Pesquisadores (as) Negros (as) elaborado pela associação, apresentado em julho de 2012, foi registrado que alguns Estados concentram a maior parte desses estudiosos, como é o caso de São Paulo0(324), Rio de Janeiro (289), Bahia (282) e Minas Gerais (163).

Com a análise a partir da perspectiva regional, a pesquisa aponta que a Região Sudeste concentra o maior número de cadastrados – SP, RJ, MG, ES – (792), seguida da Região Nordeste – (512).

“Ao compararmos com os dados da primeira pesquisa, realizada em 2009, a concentração regional permaneceu entre o Sudeste e o Nordeste, perpetuando também a grande presença de pesquisadoras/es cadastradas/os do Estado de São Paulo”, aponta o estudo. 

Na pesquisa de 2009, o Estado da Bahia estava na segunda posição no que se refere ao número de cadastrados (133), o que difere dos dados de 2012 em que o Estado do Rio de Janeiro passou a ocupar o segundo lugar em quantidade de cadastrados/as (289), contra os 96 apurados em 2009. A pesquisa constatou um significativo aumento nestes dois Estados, sendo que o número de cadastrados no Rio de Janeiro triplicou.

Em relação ao gênero, o percentual de mulheres (67%) permanece bem acima do percentual de homens (33%). Estes dados mantêm a estatística da pesquisa organizada em 2009, na qual 71% das filiações eram de mulheres e 29% de homens.

Quanto à formação das pesquisadoras e pesquisadores cadastrados na ABPN, o relatório aponta que 21% possuem mestrado concluído, 13% doutorado e 1% pós-doutorado. Os demais dados indicam que uma parcela significativa está com mestrado em andamento (17%), doutorandos em percentual de 12% e graduandos em 11%. Comparativamente ao último relatório de 2009, observa-se que o percentual de doutores aumentou em 1%, apesar de em números absolutos perfazer o total de 136 contra 86 de 2009. O de mestres diminuiu em percentuais (de 36% para 21%) e também em números absolutos, conforme apuração anterior (de 255 caiu para 229).

Confira aqui o estudo completo da ABPN. 

Cristiane Barbosa e Janaina Karla – Agência FAPEAM

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