Dissertação de doutorado sobre Unidades de Conservação na Amazônia vira obra literária


21/01/2012 – A vontade de entender como ocorria a relação do Estado com as populações tradicionais das áreas protegidas nas Unidades de Conservação (UCs) e o processo de territorialização na Amazônia levaram a professora da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) Kátia Helena  Schweikcardt  a desvendar  o  processo  de criação e implantação da Reserva Extrativista (Resex) do Médio Juruá e da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Uacari em sua tese de doutorado para o Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGSA/UFRJ).

Siga a FAPEAM no Twitter e acompanhe também no Facebook

Após a conclusão do trabalho, a pesquisa transformou-se no livro intitulado ‘Faces do Estado na Amazônia – entre as curvas do Rio Juruá’. A publicação contou com o apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM), por meio do Programa de Apoio a Publicações Científicas (Biblos).

Uma inquietação por parte da professora em entender a relação entre o Estado e as populações tradicionais das áreas protegidas fez com que ela encontrasse em uma das muitas curvas do Rio Juruá a Resex do Médio Juruá e a RDS Uacari. “Nessa região encontrei um caso especial para entender essa relação. Vi que existem duas Unidades de Conservação, uma  na esfera federal, que é a Resex, e outra na estadual, a RDS, criadas por entes diferentes e estatuto diferente, e apenas separadas pelo Rio Juruá”, comentou.

Schweickardt também evidenciou os motivos pelos quais foram criadas duas Unidades de Conservação com modalidades diferentes, estatutos diferentes, com o mesmo tipo de organização social, uma vez que a população que vive lá é a mesma, com o mesmo grau de parentesco, assim como o ecossistema também é o mesmo. 

“Se utilizássemos uma imagem de satélite, não encontraríamos a diferença entre um lado e outro do rio. Então fiquei pensando porque ali foram criadas duas Unidades de Preservação, uma de Reserva Extrativista e a outra tipo Unidade de Conservação de uso Sustentável. Então fui motivada por essa dúvida para entender que Estado era esse que estava se relacionando com essas populações”, afirmou.

/A autora relata sobre uma descoberta interessante, pois ao iniciar a pesquisa, ela tinha apenas um mapa da região com um desenho cartográfico das duas unidades. Ao chegar ao local, ela pôde perceber que o território que se pensa na Geografia não se define apenas pelas linhas imaginárias. Ao se familiarizar com a realidade, foi possível perceber a existência de um território social, onde os limites são muito mais fluidos e, muitas vezes, não perceptíveis e nem definidos conforme as linhas imaginárias traçadas. Então ela passa a desvendar como ocorrem as relações sociais em torno desses territórios.

“O que eu entendi é que nessa região, há muito mais do que referência a uma certa hegemonia no passado por conta da economia da borracha,  essa região que parece esma, isolada pode nos dizer muito sobre o processo de territorialização contemporânea.  Então ela pode fazer com que a gente passe a entender  muito o que significa a possibilidade de organização social, territorial e política na Amazônia de hoje e que pouca gente sabe disso. A gente pensa que o Juruá está abandonado, mas não é verdade. Eu penso que os novos territórios e as novas organizações sociais vêm a partir das experiências que vem sendo desenvolvidas nessa região”, enfatizou Schweikcardt. 

O livro traz em suas páginas as impressões da autora sobre esse processo de organização social. De acordo com ela, o livro começa abordando as lideranças que foram importantes para a criação desses dois territórios que, originalmente, eram ligados a um movimento da igreja católica muito importante na região denominado de Movimento de Educação de Base (MEB) e vai traçando os caminhos percorridos de desenvolvimento daqueles habitantes e as relações do Estado com aquela terra até os dias de hoje.

A publicação já está à venda no site da editora Annablume no endereço:www.annablume.com.br. De acordo com a autora, em breve o produto poderá ser encontrado em todas as livrarias.

Sobre a autora

Kátia Helena Serafina Cruz Schweickardt é doutora em Sociologia e Antropologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e mestre em Sociologia e Cultura na Amazônia pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Possui graduação em Agronomia pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e em Ciências Sociais  também pela Ufam. Atualmente, Schweickardt é professora Adjunta do Departamento de Ciências Sociais da Ufam e é titular da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Semmas) com experiência na elaboração de projetos socioambientais ligados à reforma agrária e com pesquisas nas áreas agrária e ambiental na Amazônia.

Apoio da FAPEAM

Para Schweickardt, o apoio da FAP foi de fundamental importância para a realização da pesquisa. “Nós pesquisadores da Amazônia, que antes concorríamos com pesquisadores de outras regiões em nível nacional, a partir da criação da FAPEAM, passamos a ter uma agência voltada para os interesses da nossa região, na formação de pessoal, no apoio e nas descobertas e redescobertas científicas. Por meio da Fundação passamos a nos inserir no mundo acadêmico com mais qualidade, competência com muito mais respeito. Sem ela não seria possível termos desenvolvidos o que a gente desenvolveu nos últimos anos em termos de pesquisas científicas”, finalizou.

Sobre o Biblos

Esse programa consiste em apoiar a publicação de livros, manuais, números especiais (temáticos) de revistas e coletâneas científicas nos seguintes suportes: papel, mídia eletrônica e digital.

Rosa Doval – Agência FAPEAM

Mais notícias >>

Deixe um novo comentário

O seu endereço de email não será publicado Campos obrigatórios são marcados *