Editorial JC: Tecnologia cabocla e recursos sem uso
A iniciativa de promover a Mostratec (1ª Mostra de Inovação Tecnológica- Apoio a Pesquisa em Empresas no Amazonas) demonstra a preocupação da Fapeam (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas) com os rumos da pesquisa no Estado do Amazonas e, principalmente, utilizar o evento como porta para oferecer a oportunidade de as empresas tecnológicas de Manaus tomarem conhecimento das linhas de financiamento disponíveis para o segmento.
É sabido que o país investe pouco em pesquisa e desenvolvimento e a meta de chegar a ter recursos destinados ao setor no montante de 1% do PIB (Produto Interno Bruto) ainda é isto: apenas um objetivo a depender de legislação em tramitação no Congresso Nacional.
A divulgação dos produtos já desenvolvidos pelos pesquisadores manauenses já é um feito substancial quando se considera a existência de algo próximo a vinte empresas desenvolvendo tecnologias no Amazonas apesar de todas as limitações de recursos e mesmo de pessoal com a formação requisitada.
As tecnologias desenvolvidas e apresentadas na Mostratec abrangem um espectro de segmentos que vão desde a manufatura de calçados a partir de couro de peixes nativos da região amazônica até a softwares como o de gerenciamento dos procedimentos da norma de qualidade ISO 9001. Neste caso, com um diferencial de preço a tornar o produto local bem mais acessível às organizações certificadas que aqueles de outra procedência, mesmo que nacional.
A pesquisa científica e o desenvolvimento tecnológico são caminhos para se obter maior crescimento econômico com os benefícios sociais daí decorrentes, como já se vê nos países mais desenvolvidos, onde grandes somas de recursos são aplicadas com esta finalidade.
O Brasil tem evoluído neste sentido, como comprovam a expansão do número de artigos científicos indexados de autores brasileiros, além do maior número de patentes registradas nos órgãos específicos para resguardar direitos intelectuais e produtos desenvolvidos em território nacional.
Na outra vertente, a 1ª Mostratec também chama atenção quando torna público os caminhos a percorrer para obtenção de financiamentos à pesquisa e ao disponibilizar recursos de até R$ 150 mil, por empresa.
Em um país onde muito se reclama da falta de verbas para as atividades de pesquisa e desenvolvimento é surpreendente descobrir que a Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), mesmo disponibilizando 30% de seus recursos para as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, estas verbas findam por ser aplicadas nas regiões Sul e Sudeste por absoluta falta de tomadores naquelas regiões para onde estavam originalmente destinadas.
Ao indicar as fontes de financiamentos, o evento científico potencializa a expansão das atividades dos pesquisadores e das empresas tecnológicas que poderão, a partir destes financiamentos, dar continuidades aos projetos já em andamento ou iniciar novos com a garantia de ter verbas para levá-los até seus objetivos.
Com pouco mais de 15 anos pela frente para terminar o período de vigência dos favores fiscais possibilitados pela Zona Franca de Manaus, fortalecer áreas como a de pesquisa e educação é a rota para garantir o sucesso do modelo amazonense.
Editorial do Jornal do Commercio (19.10.07)