Educação ambiental é saída para preservação de Unidades de Conservação
Localizado à margem direita do rio Negro, o município de Novo Airão, no Amazonas, abrange em seu território a Estação Ecológica de Anavilhanas, parte do Parque Nacional do Jaú e do Parque Estadual do Rio Negro, além de sítios arqueológicos e terras indígenas. Por serem áreas de proteção integral, ou seja, os recursos naturais não podem ser explorados e por não ser permitida a permanência de pessoas nas áreas da reserva, os gestores do município vêem as Unidades de Conservação (UC) como um atraso para o desenvolvimento regional.
É o que explica o pesquisador da Fundação Vitória Amazônica (FVA), Sérgio Henrique Borges, doutor em Zoologia pelo Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), que há 12 anos trabalha com monitoramento de aves no Parque Nacional do Jaú. Ele diz que a questão do envolvimento dos moradores do município é muito complexa. Isso porque a região é toda cercada por áreas protegidas em âmbito federal e estadual. “Nós temos tentado mudar a visão dos gestores do município de que as UCs são uma oportunidade para o crescimento regional. Contudo, nós defrontamos com esse tipo de situação?, afirma.
Segundo Borges, o ideal seria a criação de reservas extrativistas ou reservas de desenvolvimento sustentável nas terras do município, onde fosse possível equilibrar o uso dos recursos naturais e a preservação. “Enquanto isso não acontece, as pessoas ficam sem alternativas, o que gera os conflitos. Estamos realizando trabalhos em campo para apontar saídas e apresentar elementos que ajudem a desenhar um sistema de preservação ambiental que concilie o uso racional dos recursos aliado à preservação”, destaca.
Para tentar mudar a visão negativa dos moradores e dos gestores do município sobre as UCs, o pesquisador sugere o envolvimento das pessoas nos trabalhos de monitoramento dos grupos taxonômicos do Parque do Jaú, por exemplo, aves, palmeiras e mamíferos. “O parque possui atrações interessantes como a reprodução de gaivotas em praias, que acontece uma vez por ano durante dois meses. As crianças das escolas poderiam ajudar a pesar e medir o tamanho dos filhotes e não necessitaria de grandes investimentos e especialistas para o trabalho”, diz.
Outro grupo de aves que também poderia ter os parâmetros básicos de reprodução monitorado seriam os psitacídeos, segundo o pesquisador. Ele diz que se conhece pouco sobre a reprodução das aves no parque, sobre a localização dos ninhos etc. Além disso, o trabalho que está se fazendo, hoje, envolve o monitoramento clássico com uso de redes de captura, contagem de pontos. “Talvez o melhor não seja investir em pesquisas complexas de preservação ambiental. Apesar de que, do ponto de vista acadêmico, diversos artigos seriam publicados. Entretanto, muito já foi feito nesse sentido e, agora, a solução envolve a participação das crianças das escolas e dos moradores em geral”, reflete Borges, acrescentando que o mesmo processo também seria seguido em relação ao monitoramento das palmeiras.
O pesquisador diz que, ao final do projeto de monitoramento, a idéia é montar materiais de divulgação, por exemplo, um guia de campo das palmeiras do Jaú, que poderá ser utilizado pelos visitantes. O mesmo caminho está sendo percorrido pela cientista do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Rosemary Silva Vieira. “?Como ela trabalha com borboletas, ela está nos auxiliando na pesquisa de monitoramento sobre as mudanças de uso das capoeiras do parque e os tipos de borboletas que vivem nessas áreas. São informações que podem ser passadas diretamente para os gestores das UC e auxiliam as pessoas na compreensão da importância de se manter um parque”, finaliza.
Luís Mansuêto – Agência Fapeam