Encontro marcado: a relação cientista e jornalista


01/03/2011 – Perguntou-me, de chofre, quem tem razão: o jornalista ou o cientista? Na hora, pressionado pela resposta, apelei para a clássica e salomônica saída: os dois. Falávamos de uma pendenga antiga que, em tempos mais recentes, tem aflorado por uma série de razões. A ciência tem estado na ordem do dia como nunca. O que antes era reserva de mercado de alguns poucos veículos de comunicação do eixo Rio-São Paulo espalhou-se pelo restante do País. Aqui no Amazonas, já não há mais um dia – e isso remonta aos últimos oito anos – em que diferentes órgãos da mídia deixem de divulgar matérias sobre questões relacionadas ao campo da ciência, numa espécie de corrente que começa a contaminar, no sentido mais positivo do termo. Já não é tão incomum flagrar conversas, entre pessoas das mais diferentes faixas etárias, cujo tema gire em torno dos recentes avanços e descobertas científicas. Se, antes, quando se falava em doutor, a referência óbvia era ao bacharel em direito, ao médico, ao juiz, ao coronel de barranco e a tantos outros que se apropriavam vaidosamente do termo, hoje mais pessoas têm clareza de que se trata de pesquisador que fez juz ao título. Claro que ainda é muito pouco para o desejável, mas não se pode querer tanto em tão pouco tempo. Há que se convir, por outro lado, que nada aconteceu por acaso. A origem disso está nos substanciais investimentos em CT&I, tanto oriundos do governo federal quanto dos governos estaduais, numa soma de esforços que acabou incrementando a demanda para a prática da difusão da ciência e, por consequência, forçando uma maior convivência entre cientistas e jornalistas. Aqui, agarro-me ao gancho para deixar a tergirversação de lado e retomar o assunto do início do texto. Se cabe razão aos jornalistas quando reclamam, dentre outras coisas, que cientistas são arredios, complicados, têm dificuldades de clareza e alimentam um rei na barriga, cabe, também, razão aos cientistas quando, dentre outras coisas, reclamam que os jornalistas não os entendem, desfiguram as informações e deformam o sentido do que lhes foi repassado. Consequência: quem perde com isso é a ciência e a sociedade. Nada mais oportuno, portanto, do que a iniciativa da FAPEAM de abrir espaço mensal para encontros marcados entre cientistas e jornalistas, oportunizando que arestas sejam aparadas e que os dois lados coloquem suas competências em favor da sociedade. O pontapé inicial foi dado ontem com muito sucesso.

*Por Odenildo Sena, titular da Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia do Amazonas.
O artigo acima é de responsabilidade do autor. Opiniões devem ser enviadas para odenildosena@uol.com.br

Agência FAPEAM

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