Ensino técnico no Amazonas deve respeitar as diferenças socioculturais

SÃO GABRIEL DA CACHOEIRA, Am – O planejamento do ensino técnico no Amazonas, especificamente no Alto Rio Negro, não pode mais ser visto como qualquer município e, principalmente, com o “olhar” de Brasília. A afirmação é do diretor da Escola Agrotécnica Federal de São Gabriel da Cachoeira, professor Rinaldo Sena. Nessa perspectiva, segundo ele, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) tem sido fundamental, uma vez que contribui para a descentralização do ensino e da pesquisa no Estado.

“O MEC (Ministério da Educação) não pode mais achar que São Gabriel é um município como outro qualquer. Temos especificidades que precisam ler levadas em consideração, inclusive nas políticas públicas estaduais. Nesse sentido, a parceria com a Fapeam, por meio de seus programas, é fundamental, porque desloca o olhar, que antes era apenas de Manaus, para os municípios. E a nossa proposta para o ensino técnico aqui é deslocar a escola para as comunidades, facilitando o processo de aprendizagem a partir da prática da pesquisa”, destacou Rinaldo, durante a visita do diretor-presidente da Fapeam, Odenildo Teixeira Sena, à Escola Agrotécnica, hoje, pela manhã.

Rinaldo lamentou que, ao longo dos anos, a educação no Amazonas não se preocupou com as diferenças socioculturais entre as populações da capital e do interior do Estado. “Aqui em São Gabriel, por exemplo, nós temos muitas etnias, cada uma com sua especifidade. Nem sempre a convivência entre elas, na escola, é pacífica. O professor precisa administrar isso da melhor maneira possível, inclusive com o entendimento da questão lingüística”, .

A Escola Agrotécnica possui 32 professores, tendo mais de 50% atualmente cursando pós-graduação stricto sensu no Amazonas e em outros estados. Entre os 400 alunos, boa parte é indígena, com predominância das etnias baré e tucano.

Odenildo Sena destacou a riqueza e a diversidade lingüísticas na região, mas lembrou que essa área ainda é muito carente de pesquisa. “É preciso incentivar os estudos das línguas indígenas na Amazônia para que elas não morram. Uma língua ágrafa se perde com facilidade”, afirmou.

O diretor-presidente da Fapeam enfatizou a importância do Programa RH Interiorização, cujo edital será lançado nesta tarde, durante a 3a. Mostra de Ciência e Tecnologia da Escola Agrotécnica de São Gabriel da Cachoeira, que começou domingo e termina hoje.

“Como é um programa voltado para professores e demais profissionais graduados do interior que queiram cursar mestrado ou doutorado em Manaus ou em outro estado, é oportuno lançarmos o edital aqui, em São Gabriel. O município é o maior parceiro da Fapeam no interior e é também o maior exemplo de que a descentralização não só é necessária como é possível”, disse Odenildo.

Elisabete Brocki, diretora técnico-científica da Fapeam, lembrou o programa Desenvolvimento Científico Regional (DCR) também está com edital aberto. Trata-se de um programa para doutores formados em outros estados que queiram desenvolver pesquisas no Estado do Amazonas. O DCR em duas vertentes: Regionalização, para pesquisas em Manaus, e Interiorização, para pesquisas no interior do Estado. “Estamos com essas possibilidades de apoio à pesquisa na região”,concluiu.

Secretaria – Ainda pela manhã, Odenildo Sena, Elisabete Brocki e Rinaldo Sena seguiram da Escola Agrotécnica para a sede da Secretaria Municipal de Educação, onde foram recebidos pela secretária Edilúcia de Freitas. O objetivo da visita foi de anunciar o edital RH Interiorização e solicitar o apoio na divulgação do programa entre os professores da rede municipal.

“A Fapeam se sente comprometida com as populações amazônicas e não por acaso estamos com esse edital inédito, na expectativa de uma parceria com a Secretaria”, disse Odenildo. A iniciativa, segundo Edilúcia, foi ao encontro de sua linha de atuação. “Estamos remodelando o ensino através da pesquisa; esse edital contribuirá de maneira significativa para a formação de pesquisadores”, finalizou.

Caio Mota –  Decon/Fapeam

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